sábado, 20 de novembro de 2021

POEMA XX

 


POEMA XX

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito

Ela me quis e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo

A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos

Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,

Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.


Pablo Neruda

Talvez o mais belo poema do autor....



                                                 Lola

 

domingo, 9 de maio de 2021

Virginia partiu!



 Virgínia partiu!

Um destes dias percorrendo o facebook, encontrei este texto...

Todos os dias tenho agradecido o simples facto de acordar.

Estas últimas 6 semanas estão a ser as mais difíceis da minha vida. Sei que esta partilha será um choque para muitos, e pensei muito antes de a fazer...

Há quase 6 semanas foi-me detectado Cancro Intra Hepático, nas vias biliares, estágio 4, sem cura, previsão de pouco tempo de vida.

Cancro raríssimo, que os médicos não conseguem sequer explicar como alguém com a minha idade o tem. Como me disse um médico a quem fui pedir 2a opinião, com +30 anos de carreira "É daqueles casos que sabemos que existem, mas que ninguém conhece ninguém".

Estive 4 semanas no hospital. Comecei quimio de urgência, tive de parar porque as vias biliares estavam obstruídas (e o fígado não aguentaria a toxicidade). Fui para intervenção no Curry Cabral, que teve complicações sérias, como uma hemorrogia interna em que poderia não ter sobrevivido. Sobrevivi!

Neste momento não me conseguem retomar nenhum tratamento que permita tentar a redução do tamanho do cancro (quando foi detectado tinha 11 cms, e estava cada vez maior e metastizado), para que possa ter um pouco mais de qualidade de vida nestes tempos (menos dor... mais energia, que tem sido pouca... ). O cenário não é o melhor.

Estou a ser acompanhada no HBA, Champalimaud, com o ter recorrido a CUF e outras opiniões externas. As opiniões são unânimes.

Aproveito esta partilha para vos fazer alguns pedidos... até porque em nenhum momento tenciono que tenham pena de mim, me considerem uma vítima, e muito menos demagógica 🙂

1- Dêem sangue. Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas 6) que me foi feita, por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito.

Quem tiver a oportunidade de o fazer, mande-me fotos!! Vou adorar saber que "inspirei"

2- Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias a todos os órgãos abdominais que tinha feito em fevereiro de 2020, e em março de 2021 é-me detectado um cancro, com um tumor de 11cm sem cura, e que não pára de crescer... Não descurem da vossa saúde.

3- Aproveitem a vida. Dêem valor ao pouco que por vezes parece que têm...

 

Fica também um outro ENORME PEDIDO. NÃO me liguem para o telemóvel ( não tenho atendido nenhum telefonema nem o irei fazer), nem contactem as minhas irmãs... 😔como devem imaginar, está a ser demasiado para todos os que me são mais próximos.

Adoraria sim receber mensagens vossas, por mensagem de Facebook, por exemplo, com alguma boa recordação que tenham comigo... com alguma fotografia que tirámos no passado... com alguma palavra que me queiram dizer. Garanto que verei todas.❤️

Quero aproveitar também para agradecer às minhas irmãs e ao João, que têm sido o meu grande apoio. Que deixaram as suas vidas em suspenso para virem cuidar de mim... que me mostram todos os dias que me amam incondicionalmente.

Quero também agradecer à fantástica equipa que tenho da Lisbon, que têm sido imparáveis, e que têm levado o barco a bom porto (para além do amor e carinho que sinto sempre do vosso lado).

Ao grupo restricto de pessoas que contei anteriormente, obrigada pela vossa amizade, carinho, mimos, e respeito que têm tido pelo meu espaço. Nunca duvidei, mas vejo com clareza hoje a pessoa sortuda que sou, e as pessoas maravilhosas que me rodeiam. 

 

Virginia Coutinho

 

 


 Dias depois esbarrei neste outro texto...

 

 

Infelizmente a nossa irmã Virgínia Coutinho, Gi para os amigos, partiu ontem, 20 de Abril.

Não haverá velório, mas uma celebração (ao ar livre como tanto gostava de estar...) para algumas pessoas mais chegadas, em data e dia a ser anunciados (infelizmente com a situação que vivemos sabemos que teremos dificuldade em juntar todos que lhe eram importantes).

Este será "Um muito obrigada" que ela quis preparar a todos os que a ajudaram a ser uma pessoa melhor, e mais feliz. ❤

Nestas semanas esteve também a preparar um fundo, através da Associação Girls Move, para ajudar à criação de uma nova geração de mulheres líderes em Moçambique - mais especificamente através do projecto de mentoria Tech4Good. Dizia ela que este era um ponto bom no que aconteceu, poder planear, dizer às pessoas que as amava. Lamenta não ter visto todos os que gostava... Será o fundo Virgínia Coutinho para ajudar jovens adolescentes, em Moçambique, país de que tanto gostava. Para além do seu donativo, fica o pedido para quem quiser contribuir para que o mundo bonito que a Gi acreditava que conseguia ser, esteja a mais um passo de o ser.

Se quiserem fazer parte deste projecto que era tão próximo ao coração da Gi podem fazê-lo para:

Associação Girls Move Portugal

IBAN: PT50003300004548587001605

--

Esta conta de Facebook será desactivada dentro de três semanas. Obrigada a todos pelo carinho que sentimos que tinham por ela.

Nota das irmãs: Pedimos para, por favor, respeitarem a nossa privacidade e não nos ligarem. Fiquem à vontade de nos enviar mensagem com o vosso carinho, mas pedimos que respeitem esta altura tão dolorosa para todos nós.

 




E li, ainda, a sentida e merecida homenagem... 


José Crespo de Carvalho

 

Professor Catedrático; Presidente da Comissão Executiva – INDEG – ISCTE Executive Education

Virgínia Coutinho

Deixo o que posso deixar. Um artigo simples para dar força a um ser humano que se apaixonou pela educação como forma de vida.

16 abr 2021, 00:08

Obervador

    

Era ainda uma miúda quando entrou na minha sala de aula.

Tinha um ar curioso e não provinha certamente de Lisboa.

Parecia mais velha do que os mais miúdos e vinha ao que vinha: aprender, fazer um mestrado.

Dei-lhe uma cadeira. Marcou-me como aluna. Sempre com questões pertinentes e onde não colocava de lado, nunca, a vontade de saber e de saber porquê. Por vezes fazia-me lembrar o livro Porquê, da Bertrand Editora, que tinha na minha estante enquanto miúdo: 500 perguntas e 1000 respostas. Sempre uma resposta a mais para a Virgínia, ou uma explicação a mais, ou um ângulo a mais, ou um ponto de vista a mais. E um debate curioso, participativo, inteligente.

Não, não esteve lá pelo canudo. Esteve lá para aprender. Esteve para trabalhar. Esteve para se capacitar. Esteve para crescer. Tinha curiosidade, muita curiosidade intelectual. E era de uma simplicidade atroz.

Perguntam-me, então, porque escrevo sobre a Virgínia? Poucos a conhecem, ao Observador não importa, não é um político/a ou um empresário/a notório/a. Porquê?

A Virgínia é a fundadora e CEO da Lisbon Digital School (LDS). Uma escola que não é apenas um centro de formação e que, desde a primeira hora que entrei para as funções que desempenho, quis trazer para dentro do ISCTE Executive Education. Com a LDS temos uma parceria para uma pós-graduação em applied digital marketing, mesmo applied, mesmo digital marketing, mesmo desenvolvida por profissionais de mercado para suprir necessidades de mercado. E temos ainda mais uma meia dúzia de cursos de curta duração desenhados em parceria.

Tudo começou a meu pedido. Ao que a Virgínia de pronto acedeu. Logo firmámos um protocolo, pusemos em marcha o comboio e vamos fazer desta próxima edição da pós-graduação em applied digital marketing, uma edição dedicada à Virgínia. O melhor grupo de alunos receberá um prémio Virgínia Coutinho.

É o mínimo que posso fazer pela Virgínia. É o mínimo que posso fazer para a homenagear em vida. É o mínimo que posso fazer a alguém que, tão novo, é apanhado por uma doença traiçoeira, um cancro terminal, contra a ordem natural das coisas. É o mínimo para quem, como a Virgínia, no seu percurso, tenha andado por onde tenha andado, começou numa aula minha há cerca de dez anos e hoje é a líder de uma escola que ela própria criou.

Se alguma coisa puder dizer sobre a Virgínia, é que ela é a pessoa certa para se falar em educação e em conhecimento. Ela é a pessoa certa para se falar no valor do trabalho. E no valor do trabalho orientado para a formação. O valor e a diferença que faz ter conhecimento. É isso que é o projeto da Virgínia: “O homem não é nada além do que a educação faz dele” (Kant) poderia bem ser um mote seu.

A Virgínia partilhou nas redes sociais, esta semana, um texto comovente sobre a sua doença: “Há quase seis semanas foi-me detetado um cancro intra-hepático, nas vias biliares, estágio 4, sem cura, com pouco tempo de vida”; “Neste momento não me conseguem retomar nenhum tratamento que permita tentar a redução do tamanho do cancro (quando detetado, tinha 11 cm e está cada vez maior e metastizado”; “Todos os dias tenho agradecido o simples facto de acordar”; “É daqueles casos de cancro que todos os médicos sabem que existe, mas que ninguém conhece alguém que tenha tido.”

A Virgínia deixa-nos três pedidos que, esses sim, são importantes fazer chegar a muita gente. Eu junto um quarto pedido, que, estou certo, a Virgínia não se importará.

1.   Deem sangue. “Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas seis) que me foi feita por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito. Quem tiver oportunidade de o fazer mande-me fotos. Vou adorar saber que inspirei.”

2.   “Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias de todos os órgãos abdominais de Fevereiro de 2020 e, em Março de 2021, é-me detetado um tumor com 11 cm, sem cura, e que não para de crescer.”

3.   “Aproveitem a vida. Deem valor ao pouco que por vezes parece que têm…”

4.   Este acrescento eu, pelos 10 anos que levo de conhecimento da Virgínia: eduquem-se. Porque a educação e o conhecimento farão diferença nas vossas vidas.

E, finalmente, deixo o que posso deixar. Um artigo simples para dar força a um ser humano que se apaixonou pela educação como forma de vida. E um prémio Virgínia Coutinho para o melhor grupo da pós-graduação em applied digital marketing.

E porque a Virgínia tem muito ainda para nos dar, deixo-lhe aqui a minha homenagem mas, não menos, toda a minha esperança. O meu obrigado e um “volta rápido”. Vamos continuar a trabalhar. Força Virgínia.


Não conheci a Virgínia embora partilhe com ela a paixão pela educação e o enorme respeito pelo OUTRO!

São pessoas como a Virgínia que fazem falta ao mundo!

Até já!


 

                                                 Lola

Palavras para o Tony Carreira




Palavras para o Tony Carreira


Olá! 

Conheço muito bem a sua dor que amargamente senti há uns anos, também na altura do Natal. Contrariamente à Sara, a minha Diana durou um mês desde que eu soube que não havia cura em nenhum país do mundo. Também eu nunca entendi a partida, mas nunca me senti revoltada, isso tornaria a minha dor muito mais azeda.

 Tive de continuar pelos que cá ficaram- dois rapazes que continuam comigo. 

Olhe, Tony, os primeiros três anos são dolorosamente indiscritíveis ….depois a dor vai dando lugar a uma SAUDADE que só nós sentimos. 

Cá por casa a DIANA (tinha 22 anos) está presente, nas fotos, nas palavras, nas recordações, nas situações vividas. 

Sabe? Prefiro que a minha filha esteja no céu do que numa cama como um vegetal. A morte tal como a vida merece DIGNIDADE....e isso é fundamental para todas as pessoas. 

Um dia destes vou passar aos meus alunos o seu tema "Ai, Destino, ai destino" e já me referi à sua perda dizendo-lhes que gostaria de saber se o Tony acha que o que lhe (nos) aconteceu é ou não fruto do destino! 

Espero que este texto, que estava no meu pensamento desde aquele sábado inesperado, lhe chegue por alguma via e que o NATAL que, nunca mais será o mesmo, lhe traga a serenidade de pensar que um dia nos encontraremos com as meninas da nossa vida. 

Por enquanto, continuaremos com esta SAUDADE, um sentimento tão português que nos envolverá para o resto da vida. 

Abraço de conforto de uma MÃE DE SAUDADE!

22 de Dezembro de 2020

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 Olá, Tony! 

Ao ver esta imagem lembrei-me que, com a perda de um filho, nós repensamos, inconscientemente, o conceito de família. E quando nos perguntam: quantos filhos tens? nós, num primeiro momento não sabemos o que responder.

 Quando a minha Diana partiu, o meu filho mais novo tinha 11 anos e, um dia, ao fazer uma composição para a disciplina de Francês, perguntou-me: "Mãe, ponho a Diana?" e eu respondi: "Claro, ela continua nossa". E assim foi....ele lá escreveu junto a uma foto: "Voici ma sœur Diana. Maintenant, elle vit dans le ciel!". 

Ainda guardo religiosamente esse documento que se mantém afectivamente actual. 

Efectivamente, a vida presenteou-nos com esta dura realidade: ter dois rapazes junto de nós e uma menina numa outra dimensão onde, sem qualquer dúvida, um dia voltaremos. Seria muito mais duro se soubéssemos que apenas elas partiam e nós fossemos eternos mas, estou certa, de que um dia abraçá-las-emos numa outra dimensão. 

Até lá, restará um profundo e desmesurado AMOR ETERNO pelos três filhos....os seus e os meus! 

Um abraço de conforto de uma MÃE DE SAUDADE!

9 de Fevereiro, 2021

Instagram


                                                 Lola

domingo, 29 de novembro de 2020

Do Norte, carago!

 


Do Norte, carago!


Quem é do Norte, conhece! Quem não é, aprenda!

1. Adianta um grosso – Não vale a pena
2. Aguça – Afia
3. Alapar – Sentar
4. Andar de cu tremido – Viajar sentado num veículo
5. Arreganhar a tacha – Rir e mostrar muito os dentes
6. Banca – Pia de lavar a loiça
7. Basqueiro – Barulho
8. Beiçudo/Estar de beiças – Mal-humorado
9. Bergar a mola – Trabalhar
10. Bicha – Fila
11. Biqueiro – Pontapé
12. Biscate – Serviço temporário pago
13. Bisga – Cuspidela
14. Borra-Botas – Zé Ninguém
15. Breca – Cãibra
16. Bregalho – Pénis
17. Briol – Frio
18. Broeiro – Pessoa rude ou com maus modos
19. Bufar – Soprar
20. Cascos de rolha – Local longe (ou cujo nome a pessoa não recorda)
21. Catraio(a)/Canalha/Canalhada – Crianças/Conjunto de crianças
22. Chaço – Objeto velho (especialmente carro)
23. Chibar – Revelar um segredo ou algo a quem não deveria saber
24. Choldra – Prisão
25. Chuço/Guarda-chuva – Chapéu de chuva
26. Comer o caco – Confundir (no sentido, ‘não entendo, estás a confundir-me’)
27. Cremalheira/Roda cremalheira – Dentes/Dentadura
28. Cruzeta – Cabide
29. Cunfias/Não dar cunfias – Confiança/Não dar confiança
30. Dar um bacalhau – Cumprimentar outra pessoa com um passou-bem
31. Endrominar – Persuadir alguém (com más intensões ou falsos depoimentos)
32. Esbardalhar – Cair
33. Esquinar – Olhar de lado
34. Está um barbeiro – Está muito frio
35. Estar com a piela – Estar embriagado
36. Estar com a rebarba – Estar de ressaca
37. Estar com a telha/com o tau – Estar rabugento
38. Esteio – Parvo
39. Esterqueira – Sujidade
40. Estrilho – Confusão (no sentido de comportamento)
41. Ficar sarapantado – Ficar assustado/muito surpreendido
42. Foguete na meia-calça – Fio que surge num collant rasgado
43. Gânfias – Unhas
44. Grizar – Rir
45. Jeco – Cão
46. Lapada – Chapada
47. Laurear a pevide/Serandar – Passear
48. Levar um pêro – Levar um soco/murro
49. Lingrinhas – Pessoa magra
50. Magnório – Nêspera
51. Mirolho – Pessoa que vê mal
52. Molete – Pão papo-seco
53. Morfar – Comer
54. Morrinha – Chuvisco
55. Naifa/Naifada – Faca/Levar uma facada
56. Não vale um chabeiro – Não vale nada
57. Paleio – aquilo a que se chama ‘ter muita garganta’ quando alguém fala demais ou é confiante de mais
58. Palheiro – Local sujo/confuso
59. Palheta – Rasteira
60. Parolo – Que tem maus modos ou não se veste/comporta bem
61. Persiana – Estore
62. Peta – Mentira
63. Picheleiro – Canalizador
64. Pincho – Salto
65. Portinhola – Braguilha (referente à abertura das calças)
66. Ráfia – Fome
67. Regar – Mentir
68. Repas – Franja
69. Sabugos – Cutículas das unhas
70. Saraiva/Saraivada – Granizo
71. Sebadola – Pessoa suja ou que se suja com facilidade
72. Ser atabalhoado – Ser trapalhão/desajeitado
73. Sertã – Frigideira
74. Sostra – Preguiçoso(a)
75. Surbia – Cerveja
76. Testo – Tampa do tacho
77. Traquitana – Carro velho
78. Trengo – Trapalhão/desajeitado/totó
79. Trunfa/Gadelha – Cabelo grande e desajeitado
80. Vai dar uma volta ao bilhar grande – Mandar alguém sair do caminho (especialmente em situações de zanga)
81. Vai-me à loja – Vai passear (no sentido de ‘não me chateies’)



Orgulho imenso em ser do norte!


                                                 Lola

domingo, 1 de novembro de 2020

Dia de Pão por Deus



Dia de Pão por Deus



 1 de Novembro - Dia de Pão por Deus

Conhecem a tradição?
Antigamente, no dia 1 de novembro, era hábito as crianças saírem à rua em pequenos grupos para pedir o pão-por-deus de porta em porta. Quando iam fazer o peditório, as crianças recitavam versos e recebiam pão, broas, bolos, romãs, nozes, amêndoas ou castanhas como oferendas. Estes alimentos eram colocados em sacos de pano.
Esta tradição poderá estar ligada ao terramoto de 1755. No dia 1 de novembro de 1756, um ano depois do terramoto que destruiu parte significativa da capital, a população a viver em grande pobreza lançou pela cidade um grande peditório. Andavam de porta em porta e pediam: “Pão, por Deus”.

Com o passar dos anos, converteu-se num peditório de crianças que passavam pelas casas e cantavam:
Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s’alevantar
Para vir dar um tostãozinho.
Quando abrem a porta cantam:
Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.
Quando não abrem a porta cantam:
Esta casa cheira a alho,
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto.

Fontes: Mais de 150 histórias que te vão deixar de boca aberta e queixo caído, Manuscrito Editora.



                                                 Lola

quarta-feira, 21 de outubro de 2020

Obrigado, Samuel Paty!




Obrigado, Samuel Paty!


"Samuel Paty tornou-se sexta-feira o rosto da República, da nossa vontade de quebrar terroristas, de reduzir os islâmicos, de viver como uma comunidade de cidadãos livres no nosso país. O rosto da nossa determinação em entender, aprender, continuar ensinando, ser livres.

Porque nós vamos continuar, Professor.
Defenderemos a liberdade que você ensina tão bem e vamos usar o laicismo alto.
Nós não vamos desistir de caricaturas, desenhos, mesmo que outros recuem.
Vamos oferecer todas as chances que a República deve a toda a sua juventude sem qualquer discriminação.
Vamos continuar, Professor.
Com todos os professores e professores da França, vamos ensinar história, suas glórias e suas vicissitudes. Vamos mostrar literatura, música, todas as obras da alma e da mente.





Amamos com toda a nossa força o debate, os argumentos razoáveis, as persuasões amáveis. Nós amamos a ciência e suas controvérsias.
Tal como você, nós cultivamos tolerância. Tal como você, nós vamos tentar entender, sem parar. E entender ainda mais isso que alguém quereria afastar de nós.

Aprenderemos o humor, a distância, recordaremos que nossas liberdades só se mantêm no fim do ódio e da violência. Pelo respeito pelo outro.
Vamos continuar, Professor.
E ao longo da vida, as centenas de jovens que você treinou irão exercitar essa mente crítica que você lhes ensinou.




Talvez alguns deles também se tornem professores. Então eles formarão jovens cidadãos. Eles vão fazer com que a República ame. Eles farão entender a nossa nação, os nossos valores, a nossa Europa, numa cadeia dos tempos que não vai parar.
Vamos continuar, sim, essa luta pela liberdade e pela razão que você é agora o rosto.
Porque nós lhe devemos isso.
Porque nós devemos a nós mesmos.
Porque em França, professor, as luzes nunca se apagam.
Viva a República, viva a França".

Emanuel Macron
Presidente de França





O contexto

O professor Samuel Paty, um pai de família de 47 anos, pagou com a vida a iniciativa de mostrar caricaturas do profeta Maomé numa aula sobre a liberdade de expressão. Pouco depois de deixar a escola onde trabalhava na pequena cidade de Conflans-Saint-Honorine, por volta das 17h desta sexta-feira (16), o educador foi decapitado por um terrorista, um jovem de 18 anos de origem chechena que ficou indignado com a atitude da vítima em sala de aula.

Neste sábado (17), alunos, pais, colegas e amigos de Paty o descrevem como um homem gentil, apaixonado pela profissão. O crime chocou o país – o Palácio do Eliseu anunciou a realização de uma homenagem nacional ao professor, nos próximos dias. Centenas de pessoas dirigiram-se em frente à escola e depositaram flores no local.

“Quando li ‘professor, [escola] Bois d'Aulne e decapitação’, pensei na hora: ‘é o senhor Paty!’”, disse o ex-aluno Martial, 16 anos, à AFP.

A escola fica em um bairro industrial da cidade, de 35 mil habitantes e a cerca de 50 quilômetros de Paris. “Ele se envolvia nas aulas, queria realmente nos ensinar as coisas. De tempos em tempos, ele promovia debates, a gente conversava”, relata o garoto.

“Estou destruído. Samuel Paty foi meu colega de formatura. Era um estudante brilhante, um superprofessor, um homem de diálogo”, disse, no Twitter, um ex-colega da vítima. “Citarei o teu nome e o teu exemplo, camarada, a todos que quererão ainda exercer essa linda profissão”, complementou.


De porte pequeno, óculos e discreto, o professor era casado e tinha filhos. Na semana passada, como já havia feito em outras ocasiões nos últimos anos, ele levou à sala de aula uma caricatura de Maomé, publicada no jornal Charlie Hebdo, para explicar aos alunos sobre aquela que é um dos pilares da República francesa, a liberdade de expressão. A classe tinha em média 13 anos e cursava o equivalente ao oitavo ano.

Desta vez, porém, a iniciativa não foi bem recebida por todos. Os alunos relatam que o professor perguntou quem era muçulmano na sala e ofereceu a eles a possibilidade de se retirar ou não olhar, se preferissem não visualizar o desenho. Alguns saíram; outros, não.

Nas horas e dias que se seguiram, o que ocorreu naquela aula foi o assunto na hora do recreio. Alguns pais foram além e levaram uma reclamação à associação de pais e alunos.

Pai de aluna trocou mensagens de texto e telefonemas com homicida de professor decapitado

Um deles publicou um vídeo indignado nas rede sociais, no qual chama Paty de “bandido”, incita outros pais a se mobilizarem contra a atitude do educador e divulga o nome da escola. Ele chegou a ir à polícia acompanhado da filha para denunciar o que considerou como um ato de islamofobia por parte do professor – que reagiu prestando queixa por difamação.

Desde então, Paty “andava desconfortável”, observa Myriam, aluna de 13 anos da escola. “Tinha alunos dizendo ‘ele é racista’. Outros qualificativos circularam, como ‘islamofóbico’”.

Paty “não fez isso para criar polêmica ou desrespeitar os pequenos, nem por discriminação”, alega Nordine Chaouadi, pai de outro adolescente de 13 anos que descreve professor como “um senhor supergentil”.

A polícia investiga qual o papel do vídeo no crime, já que o autor do ataque tinha 18 anos e não estudava no local. O autor, nascido em Moscou e com um visto de refugiado na França, obtido em março deste ano, foi morto pela polícia instantes depois do assassinato.

A classe política e educacional francesa amanhece estarrecida neste sábado (17), após a decapitação de um professor de 47 anos que exibiu caricaturas de Maomé durante uma aula sobre liberdade de expressão, nos arredores de Paris. O crime, tratado como terrorista islamita pelas autoridades francesas, ocorreu na tarde desta sexta-feira (16) em plena rua, a 300 metros da escola onde a vítima ensinava história e geografia.

A exibição das caricaturas durante a aula para alunos de 13 anos, na semana passada, havia causado indignação de alguns pais. Um deles chegou a tentar prestar queixa contra o professor e postou um vídeo no YouTube para denunciar a postura em classe. As imagens podem ter estimulado o agressor, que foi morto pela polícia logo depois de cometer o assassinato. 


Papel do professor é estimular a reflexão, diz educadora

“Dá muito medo, porque agora estamos todos estarrecidos, é um choque
profundo. O que se passou é extremamente violento”, disse à RFI Christine
Guimonnet, professora no colégio Pontoise e secretária-geral da Associação de
Professores de História e Geografia (APHG). “O que a gente ensina aos alunos é
para lhes dar as chaves: as chaves para a compreensão do mundo, da história, da
geografia. O ensino, num Estado democrático, tem como objetivo instruir os
eles religiosos ou não. Quando temos opiniões diferentes, a gente deve falar,
alunos, desenvolver neles o acesso ao conhecimento, à reflexão, à razão - sejam
trocar ideias, não se estapear nem matar alguém”, explica a professora.

“Nossos professores continuarão a despertar o espírito crítico dos cidadãos
da República, a emancipa-los de todos os totalitarismos e de todos os
sábado. O ministro da Educação, Jean-Michel Blanquer, garantiu que o Estado
obscurantismos”, declarou o primeiro-ministro francês, Jean Castex, neste
continuem a exercer a profissão, a mais essencial, que transmite aos nossos
francês “estará ao lado” dos professores para “protegê-los e permitir que
filhos o saber e os valores que são o nosso bem comum”.

RFI

Samuel Paty mostrou duas caricaturas de Maomé numa aula sobre liberdade de expressão. O seu assassino, de 18 anos, acabou morto pela polícia. Uma mesquita será encerrada e o professor será condecorado postumamente com a Legião de Honra. Macron anunciou a dissolução de uma organização islamita fundada por um dos detidos

As autoridades que investigam a morte do professor Samuel Paty, decapitado na sexta-feira perto do liceu onde lecionava nos arredores de Paris, descobriram várias mensagens de texto e chamadas telefónicas entre o pai de uma aluna e o assassino. A informação foi avançada esta terça-feira pela rádio francesa Europe 1, que cita fontes policiais.

O pai publicou o seu número de telefone no Facebook juntamente com um vídeo em que apelava ao despedimento de Paty depois de este ter mostrado duas caricaturas do profeta Maomé numa aula.

As autoridades anunciaram ainda o encerramento de uma conhecida mesquita na sequência do assassínio do professor. O ministro do Interior, Gérald Darmanin, esclareceu que a mesquita em Pantin será encerrada esta quarta-feira e permanecerá de portas fechadas durante seis meses.

A decisão foi tomada enquanto decorre uma investigação policial a redes suspeitas de promoverem crenças religiosas extremistas, propagarem o ódio e encorajarem a violência.

Os investigadores do caso acreditam que vários estudantes indicaram quem era o professor ao jiadista que o decapitou na sexta-feira ao lado da escola onde trabalhava. Os estudantes tê-lo-ão feito em troca de dinheiro.

Uma fonte próxima da investigação, citada pelo jornal “The Guardian”, revelou que a mesquita, que tem cerca de 1.500 fiéis, publicou um vídeo no Facebook sobre Paty dias antes de o professor de História e Geografia ter sido morto aos 47 anos. O vídeo criticava violentamente a decisão do professor de mostrar aos seus alunos duas caricaturas do profeta Maomé, juntamente com outras ilustrações, no âmbito de um debate sobre liberdade de expressão.

ALUNOS MUÇULMANOS FORAM AUTORIZADOS A SAIR DA SALA SE
SE SENTISSEM DESCONFORTÁVEIS

O professor deu a possibilidade aos alunos muçulmanos de abandonarem a sala de aula no caso de se sentirem desconfortáveis.

O ministro francês da Educação, Jean-Michel Blanquer, adiantou que, na homenagem nacional que será feita esta quarta-feira na Universidade Sorbonne, Paty será condecorado postumamente com a Legião de Honra, a mais alta distinção oficial do país. O professor será ainda nomeado membro da Ordem das Palmas Académicas (Ordre des Palmes Académiques), acrescentou o governante.

Em entrevista ao canal de televisão BFMTV, Blanquer esclareceu que “há elementos” que sugerem a possibilidade de o professor ter sido indicado por vários estudantes, sendo que quatro deles foram detidos. Um quinto aluno acabou por ser libertado sem acusações.

A provar-se verdade, o envolvimento dos alunos é “gravíssimo” e demonstra “a penetração entre os mais jovens de uma certa visão do mundo”, a do “islamismo fundamentalista”, através das redes sociais e de certas organizações, apontou o ministro.

ESTÁ EM CURSO UMA “CONTRAOFENSIVA DA REPÚBLICA”, DIZ
MINISTRO DA EDUCAÇÃO

O professor foi apunhalado e decapitado no exterior do liceu onde lecionava em Conflans-Sainte-Honorine, a cerca de 30 quilómetros da capital francesa. Abdouallakh Anzorov, o assassino de 18 anos de origem chechena, tinha estatuto de refugiado no país, à semelhança de outros membros da sua família. Anzorov acabou morto pela polícia.

Os primeiros elementos da investigação sugerem que foi criada uma polémica através de mensagens publicadas nas redes sociais por alguns pais de alunos da escola. Em particular, o pai de uma aluna publicou um vídeo acusatório e lançou uma campanha contra o professor, com a qual apelava à punição do docente.

A 2 de novembro, no regresso das férias escolares de outono, todas as escolas em França observarão um minuto de silêncio em memória de Paty e os alunos que não o respeitarem serão sancionados. Blanquer sublinhou que está em curso uma “contraofensiva da República” francesa.

Pelo menos 15 pessoas, incluindo os quatro estudantes, estão detidas e a ser interrogadas pelas autoridades antiterrorismo para tentar estabelecer um elo entre estes suspeitos e o homicida.

O homicídio ocorreu pelas 17h00 locais (16h00 em Lisboa) de sexta-feira, nas imediações do liceu de Bois d’Aulne.

MACRON ANUNCIA DISSOLUÇÃO DE ORGANIZAÇÃO ISLAMITA

Entretanto, o Presidente francês, Emmanuel Macron, anunciou a dissolução do grupo Xeque Yassine, fundado por um dos detidos pelo atentado e conhecido pelas suas declarações extremistas. Durante uma breve intervenção, Macron avançou que o Conselho de Ministros de quarta-feira vai aprovar a medida.

O chefe de Estado acrescentou que as ações judiciais e das forças de segurança se vão intensificar contra associações e indivíduos que promovam um projeto integrista radical.

Está em curso uma estratégia, insistiu Macron, adiantando que os cidadãos têm de ser defendidos, incluindo os de religião muçulmana, que também devem ser defendidos do islamismo radical.

A organização Xeque Yassine foi fundada em 2004, como entidade a favor dos palestinianos e o seu nome invoca o fundador do Hamas, Ahmed Yassine, assassinado por Israel naquele ano. Mas a sua notoriedade atual em França resulta mais da sua retórica antissemita e islamita.

O seu fundador é Abdelhakim Sefrioui, um dos detidos pela decapitação de Paty. Sefrioui foi, com o pai de uma aluna, exigir à diretora da escola que despedisse o professor e divulgou um vídeo em que pedia represálias contra o docente, classificado como bandido.

Expresso

20 de Outubro de 2020


                                                 Lola