terça-feira, 2 de junho de 2015

Ser criança



Ser criança


Já lá vão cinco décadas a viver experiências diversas em espaços de distancia que nunca conhecêramos!
Não sei a criança que foste, o jovem que te tornaste, o homem que procuras ser!

Já lá vai o dia que te conheci... uma década, talvez! Discreto, atento, de uma simpatia no olhar que não me passou despercebida!

A idade pouco nos separa, gostos comuns muito nos aproximam...o Mar, a Filosofia ...o desejo de excelência, a generosidade e a grandeza de convicções!

Continuamos crianças... lembro aquela tarde em que vi do teu rosto correr lágrimas de uma saudade que doeu na perda.

Somos a essência da criança que sonha no voar de um balão colorido pela esperança de um novo amanhecer de azul e mar...

porquê?

 a tua voz e o teu olhar têm o sabor da maresia e o encanto de saber que estás, algures, por aí!

Que bom ter-te encontrado para sentidos da vida que já pouco ou nada tinham de dourado!

Para quando o mar a envolver a ansiedade do continuo reencontro?



                                               Lola

segunda-feira, 1 de junho de 2015

Adoro-te




Adoro-te


Rita preparara tudo para aquele evento, mais um de afectos... e como ela sabia dizer: da sua vida!
Recebeu, com o sorriso que a caracterizava, todos os convidados à porta para que estes, num diálogo informal, fossem trocando olhares em palavras experienciadas que aproximam pessoas num espaço de serenidade e alegria!
Rita não tinha expectativas, nem se importava com isso! Ia tudo correr bem e as pessoas que queriam estar com ela e com os seus convidados com certeza fá-lo-iam por prazer, por isso mesmo o numero ou sala cheia pouco lhe importava!
Sempre gostou de desafios! 
Rita é uma mulher de afectos transformados, por vezes em silêncios, outros em lágrimas, outros mesmo em abraços que teimam em não parar no tempo!
Vestiu um modelito novo, escolhido nas páginas de uma qualquer revista já amarelecida pelo tempo e não descurou o lacito, desenhado e pregado com cuidado, nem as pérolas que lhe ornamentavam o sorriso moreno de um entardecer agradável numa  noite que se tornaria única... e não só porque era quase  verão!

O verão trazia-lhe à memoria a recordação da partida inesperada!
Desde aquele verão de 2013, Rita sentia um vazio dentro de si! A Filosofia exige diálogo, troca de perspectivas, argumentos e sorrisos de temas e problemas colocados pelos miúdos quando questionados! Se ela tinha os miúdos para con-viver, faltavam-lhe momentos de bom humor, de necessárias cumplicidades, encontro e desencontros que coloriam o corredor, um café partilhado com um pastel de nata e um segredo profissional que não se pode partilhar com qualquer um! Conhecia-lhe o andar na sombra...e esperava-o para um "até amanhã" que lhe preenchia a alma e lhe sonhava as noites de solidão!

Pedro partira num dia qualquer para paragens que ela própria desconhecia! Com alguma dificuldade percorreu espaços e lugares onde outrora passara momentos a conversar animadamente de um qualquer assunto, de uma qualquer situação de vida, de um qualquer desejo que se tornava encontro agradável em palavras que Pedro traduzia numa meiguice que a ela fascinava! Riam em conjunto e, algumas vezes, entristeceram juntos...
Pedro, por vezes, dizia, lá de longe, um "olá" e Rita ficava feliz por saber que ele estava bem pois era, essencialmente isso que ela gostava de ouvir! Nunca esqueceu a saudade que lhe toldava o olhar e lhe consumia momentos que poderiam ser de uma envolvência diferente se...

Rita jantou com os convidados e colocou no chão a bolsa para não ouvir o telemóvel com lágrimas como acontecera um ano atrás! Desta vez não queria ter desilusão alguma ... não podia esperar em vão um até breve que teimava em não passar disso mesmo e, se poderia prolongar no tempo indefinidamente! Pobre Rita! Porque lhe acontecia isto? Gostar tanto do impossível? Querer tão perto a saudade de uma mão que se toca sem perder o sorriso que acompanha o indizível! Do mistério daquele olhar, por vezes triste, outros deliciosamente atento, disponível, inteiro!

Tardava a hora de entrar! Rita nem sequer apressara o andar sabendo que tinha de começar em palavras de uma espontaneidade que lhe surgiam porque sempre fora capaz de preparar mentalmente tudo aquilo em que se envolvia e, modéstia à parte, todos lhe reconheciam desenvoltura e graciosidade no desempenho ou no pensar tornado discurso!

Retocou os lábios com o bâton rosa que escolhera para aquela noite e dirigiu-se para a sala onde a esperavam algumas dezenas de pessoas para sentir a sua alegria nas palavras que, dai por momentos iriam desfilar, pelo seu rosto e  grandeza de coração como Pedro lhe gostava de lhe lembrar!

Percorreu o corredor e os convidados permaneceram nos lados laterais, com gentileza inesperada, deixando-a passar na direcção da sala!
Passou a porta...
e quase desfaleceu...quase se esqueceu de tudo...quase mergulhou profundamente naquele olhar que a enfrentava de modo esperançado e aberto ... quase pensou que estava a sonhar, de um colorido de sabor a mar!

 Meus Deus, Pedro esperava-a ali em frente, construindo a maior, a melhor, a mais bela e inesperada surpresa da sua vida! Deitou, apressadamente, a bolsa no chão, para tornar o corpo e a alma livres, abrindo os braços para, num gesto fusional, envolver o corpo de Pedro que, demoradamente se deixou abraçar sentindo a emoção do encontro há muito desejado! Rita perdeu-se no tempo que durou o calor da cumplicidade, afastou-se, olhou de novo Pedro nos olhos e abraçou-o mais uma vez, sussurrando-lhe: ADORO-TE...
Pedro respondeu-lhe na sua meiguice que o inesperado não abafou: "eu também te adoro"... Rita, no entanto, não conseguiu parar ali, demoradamente, o tempo, nem a emoção, nem o desejo de ficar profundamente refém de afectos que há muitos anos a prendem a este ser maravilhosamente extraordinário!

Pedro ficou junto dela, todo o evento,  rindo da narrativa, apreciando as palavras ...como que num suporte que ele poderá nem sequer saber que é, mas que é para Rita... Pedro estava ali, junto dela, de sorriso doce e olhar atento e cuidado,  muito embora, não fosse por muito tempo!

No fim...Rita perguntou "Tu voltas?" e Pedro disse que sim! Rita desconhece se estas palavras serão, algum dia, realidade colorida mas isso já quase não lhe interessa! Importante mesmo era Pedro estar ali...falarem um pouco, só os dois... e Pedro ter transformado os seus "até breve" em encontro surpresa mas infinita e desejavelmente acontecido!

Faltou o cigarro fumado em cumplicidade de palavras...fica para um novo "até breve"que se pretende não eternamente adiado!

Pedro abraçou Rita, pela ultima vez, nessa noite e regressou estrada fora! Para onde? Para quem? Isso não é importante para Rita, nem lhe ocupa os pensamentos! Ela seguiu o caminho da casa segurando bem nas suas mãos um livro, que leu integralmente, nessa noite e... baladas de um momento que designa de SUBLIME numa vida que ela sabe

...ser tão estranha !



Porquê?

Porque, simplesmente porque...

...  te adoro!

                                                Lola