terça-feira, 28 de março de 2017

Gosto de ti, lua





Gosto de ti, lua

Nao sei a tua cor
muito menos o teu sabor
nem sequer sei de cor
o teu caminhar solitário!
Mas, vez em quando, 
dou comigo a sentir-te
demoradamente
 com uma ternura desmedida
com atenção redobrada
com simpatia perene!
Admiro a tua altivez
a tua forma redonda
quando, delicadamente, beijas o mar
num novo dia esperançado
depois de uma madrugada de segredo!

Gosto de ti, querida Lua
quando te despedes de mim e, 
sorrateiramente, te escondes
para la das montanhas 
num suave entardecer
que me leva, recorrentemente, 
aos meus tempos idos de menina
que sempre te olhou com a dignidade do 
deliciosamente inatingível!

Quero-te, minha lua
porque os poetas te suspiram em palavras 
porque outros te tornam melodia
e eu me transformo no teu olhar
infinitamente prazeroso!








Que me dizes, Lua 
tu que caminhas entre silvas e rosas 
qual é o melhor caminho
para a serenidade existencial!


                                            Lola

domingo, 19 de março de 2017

Continuas meu...



Continuas meu...



Rita adormecera um pouco naquela tarde vencida que estava pelo cansaço de umas horas de trabalho acinzentado! Como sempre,  gostava de se encostar, devagarinho, ao sonho que nunca sabia bem se e como chegava, se o desejava ou se o arrumava no esquecimento.
Num momento de um outono acabrunhado recostou-se e penetrou no sono fluido pelo sonho demoradamente perfurante, de tal modo que ao acordar a fizera soltar um sentido e elegante sorriso de verão!
Pedro povoara a sua tarde de esmerado reconforto conversando animadamente com ela e intervalando com um ou outro abraço como só ele sabia dar...e, carinhosamente, receber!
Havia meses que não se viam mas sentiam tal era a distância que os afastava e a saudade que os unia numa tranquilidade que nunca nenhum dos dois sentira o desejo repentino de interromper  o normal decurso da sua vida para vir junto do outro dizer que o admirava e que sentia, irremediavelmente, a sua falta! 
Os afectos eram no mundo existencial de Rita um tema perfumadamente delicado! Se outrora acreditara, dogmaticamente, que o amor poderia ser harmoniosa e linearmente vivido, quando foi aprendendo a conhecer Pedro notou-lhe um não sei o quê de encanto delicioso que a fez por em questão ideias de tempos idos!Por isso, sentia-se reconfortadamente serena neste período da sua vida em que alguém, sem o saber, acrescentara à sua vida um pouco mais de alento, de desmedido aconchego, de uma saudade que o futuro ia expressando em utopia!
Sentira como nunca as mãos de Pedro afagando o seu rosto e enlaçando o seu corpo de menina...sorrira como nunca às palavras que Pedro tão delicadamente conversara com ela... vivera como nunca momentos de cumplicidade extrema que a tornaram uma pessoa surpreendentemente tolhida pelos momentos de sonho que, inesperada mas sempre agradavelmente, a fizeram ter cada vez mais a certeza boémia de que Pedro...

...continuaria seu!

Porquê?

Porque somente Rita o quer de uma maneira incomparavelmente única, com um cuidado plenamente transbordante de afectos que o seu coração enorme e generoso nunca deixaria, teimosamente,  adormecer!


Adoro-te, my dear!



                                             Lola

quarta-feira, 15 de março de 2017

Quando eu morrer




Quando eu morrer


OS DOIS SONETOS DE AMOR DA HORA TRISTE (Álvaro Feijó)

I

Quando eu morrer — e hei de morrer primeiro

Do que tu — não deixes de fechar-me os olhos
Meu Amor. Continua a espelhar-te nos meus olhos
E ver-te-ás de corpo inteiro.
Como quando sorrias no meu colo.
E, ao veres que tenho toda a tua imagem
Dentro de mim, se, então, tiveres coragem,
Fecha-me os olhos com um beijo.
Farei a nebulosa travessia
E o rastro da minha barca
Segui-los-á em pensamento. Abarca
Nele o mar inteiro, o porto, a ria...
E, se me vires chegar ao cais dos céus,
Ver-me-ás, debruçado sobre as ondas, para dizer-te adeus,
II
Não um adeus distante
Ou um adeus de quem não torna cá,
Nem espera tornar. Um adeus de até já,
Como a alguém que se espera a cada instante.
Que eu voltarei. Eu sei que hei de voltar
De novo para ti, no mesmo barco
Sem remos e sem velas, pelo charco
Azul do céu, cansado de lá estar.
E viverei em ti como um eflúvio, uma recordação.
E não quero que chores para fora,
Amor, que tu bem sabes que quem chora
Assim, mente. E, se quiseres partir e o coração
To peça, diz-mo. A travessia é longa... Não atino
Talvez na rota. Que nos importa, aos dois, ir sem destino?


Álvaro Feijó







Quando eu morrer, Pedro, 
dà-me um abraço de MAR e um beijo de Maresia 
e transporta-me nos teus braços até 
ao sonho vivido a dois durante anos! 
E depois, my dear....
diz-me muito baixinho, 
para que só nos possamos ouvir, 
que irás ter comigo 
para viver os pedaços de tempo 
que a saudade nos privou!




                                             Lola




domingo, 12 de março de 2017

Nos teus braços



Nos teus braços

Senti o doce sabor do apego
a liberdade de querer
o enlevo da esperança
o prazer quente do teu eu
 a infinitude do tempo
o aconchego que me tarda
o saber que és a diferença que me gosta!

Nos teus abraços
senti o laço que nos une
a fria dor da amarga ausência 
a saudade de um futuro que não chega
o desvendar do enigma de um voltar
a relação de naturezas indiziveis
no caminho que há muito partilhamos!

Nos teus abraços
senti  a tua admiraçao
que te faz falta o nosso encontro
que os laços são mais fortes que nós, 
que  resta ainda muito por dizer
de um tempo que foi nosso sem o ser!

Nos teus abraços
Sinto as palavras
que  acetinam o meu
enorme e doce coração:

Adoro-te, my dear!


                                              Lola


quinta-feira, 9 de março de 2017

Abraço



Abraço


"De repente deu vontade de um abraço...

Uma vontade de entrelaço,

de proximidade, de amizade... sei lá...
Talvez um aconchego que enfatize a vida
e amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
que seja teimoso e,
ao mesmo tempo, forte.
Deu vontade de poder rever,
saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço
mas que faça lembrar do carinho,
que surge devagarzinho
da magia da união dos corpos,
das auras... sei lá...
Lembrar do calor das mãos,
acariciando as costas,
a dizer: "estou aqui."
Lembrar do trançar
dos braços envolventes
e seguros afirmando:
"estou com você"...
Lembrar da transfusão de forças
com a suavidade do momento...
sei lá...abraço...abraço...abraço...
abraço... abraço...abraço...
abraço..abraço...abraço...
O que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energia que harmoniza,
integra tudo, e que se traduz
no cosmo, no tempo e no espaço.
Só sei que agora
deu vontade desse abraço
Que afaste toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima da alegria,
e acalme o coração
Que traduza a amizade,
o amor e a emoção...
E, para um abraço assim,
só pude pensar em você...nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade,
que sabe entender o porquê...
dessa vontade desse abraço... "

Vinicius de Moraes


Porque os teus abraços sempre me cativaram e iluminaram para viver, sinto irremediavelmente a candura do teu enlaço no meu corpo frio pela ausência!
Importas-te se eu repetir 
incansavelmente...

Adoro-te, my dear?


                                            Lola


Mulher




Mulher

MULHERES
Elas sorriem quando querem gritar.
Elas cantam quando querem chorar.

Elas choram quando estão felizes.
E riem quando estão nervosas.


Elas brigam por aquilo que acreditam.
Elas levantam-se para injustiça.

Elas não levam "não" como resposta quando
acreditam que existe melhor solução.


Elas andam sem novos sapatos para
suas crianças poder tê-los.

Elas vão ao medico com uma amiga assustada.
Elas amam incondicionalmente.


Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prémios.

Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversario ou um novo casamento.


Seus corações quebram quando seus amigos morrem.
Elas lamentam-se com a perda de um membro da família,

contudo são fortes quando elas pensam que não há mais força.
Elas sabem que um abraço e um beijo podem curar um coração quebrado.
O coração de uma mulher é o que faz o mundo girar!


Mulheres fazem mais do que dar a vida.
Elas trazem alegria e esperança.

Elas dão compaixão e ideais.
Elas dão apoio moral para sua família e amigos.
Mulheres têm muito a dizer e muito a dar.


Pablo Neruda
Porque sendo Mulher posso gritar: Adoro-te, my dear!

                                           Lola

segunda-feira, 6 de março de 2017

Amar o OUTRO



Amar o OUTRO

“Para amar, é necessário reconhecer que se tem necessidade do outro”
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Trecho de entrevista ao professor e psicanalista Jacques-Alain Miller, realizada por Hanna Waar e publicada na Psychologies Magazine de outubro 2008 (n° 278). Tradução de Maria do Carmo Dias Batista.



“Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que creem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias”.(Jacques-Alain Miller)
Psychologies: A psicanálise ensina alguma coisa sobre o amor?

Jacques-Alain Miller: Muito, pois é uma experiência cuja fonte é o amor. Trata-se desse amor automático, e frequentemente inconsciente, que o analisando dirige ao analista e que se chama transferência. É um amor fictício, mas é do mesmo estofo que o amor verdadeiro. Ele atualiza sua mecânica: o amor se dirige àquele que a senhora pensa que conhece sua verdade verdadeira. Porém, o amor permite imaginar que essa verdade será amável, agradável, enquanto ela é, de fato, difícil de suportar.
Psychologies: Então, o que é amar verdadeiramente?

Jacques-Alain Miller: Amar verdadeiramente alguém é acreditar que ao amá-lo, alcançará uma verdade sobre si. Amamos aquele que conserva a resposta, à nossa questão: “quem sou eu?”.
Psychologies: Por que alguns sabem amar e outros não?

Jacques-Alain Miller: Alguns sabem provocar o amor no outro, os serial lovers – se posso dizer – homens e mulheres. Eles sabem quais botões apertar para se fazer amar. Porém, não necessariamente amam, mais brincam de gato e rato com suas presas. Para amar, é necessário confessar sua falta e reconhecer que se tem necessidade do outro, que ele lhe falta. Os que creem ser completos sozinhos, ou querem ser, não sabem amar. E, às vezes, o constatam dolorosamente. Manipulam, mexem os pauzinhos, mas do amor não conhecem nem o risco, nem as delícias.
Psychologies: “Ser completo sozinho”: só um homem pode acreditar nisso…

Jacques-Alain Miller: Acertou! “Amar, dizia Lacan, é dar o que não se tem”. O que quer dizer: amar é reconhecer sua falta e doá-la ao outro, colocá-la no outro. Não é dar o que se possui, os bens, os presentes: é dar algo que não se possui, que vai além de si mesmo. Para isso, é preciso se assegurar de sua falta, de sua “castração”, como dizia Freud. E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza. É por isso que o amor é sempre um pouco cômico em um homem. Porém, se ele se deixa intimidar pelo ridículo, é que, na realidade, não está seguro de sua virilidade.
Psychologies: Amar seria mais difícil para os homens?

Jacques-Alain Miller: Ah, sim! Mesmo um homem enamorado tem retornos de orgulho, assaltos de agressividade contra o objeto de seu amor, porque esse amor o coloca na posição de incompletude, de dependência. É por isso que pode desejar as mulheres que não ama, a fim de reencontrar a posição viril que coloca em suspensão quando ama. Esse princípio Freud denominou a “degradação da vida amorosa” no homem: a cisão do amor e do desejo sexual.
Psychologies: E nas mulheres?

Jacques-Alain Miller: É menos habitual. No caso mais freqüente há desdobramento do parceiro masculino. De um lado, está o amante que as faz gozar e que elas desejam, porém, há também o homem do amor, feminizado, funcionalmente castrado. Entretanto, não é a anatomia que comanda: existem as mulheres que adotam uma posição masculina. E cada vez mais. Um homem para o amor, em casa; e homens para o gozo, encontrados na Internet, na rua, no trem…
Psychologies: Por que “cada vez mais”?

Jacques-Alain Miller: Os estereótipos socioculturais da feminilidade e da virilidade estão em plena mutação. Os homens são convidados a acolher suas emoções, a amar, a se feminizar; as mulheres, elas, conhecem ao contrário um certo “empuxo-ao-homem”: em nome da igualdade jurídica são conduzidas a repetir “eu também”. Ao mesmo tempo, os homossexuais reivindicam os direitos e os símbolos dos héteros, como casamento e filiação. Donde uma grande instabilidade dos papéis, uma fluidez generalizada do teatro do amor, que contrasta com a fixidez de antigamente. O amor se torna “líquido”, constata o sociólogo Zygmunt Bauman. Cada um é levado a inventar seu próprio “estilo de vida” e a assumir seu modo de gozar e de amar. Os cenários tradicionais caem em lento desuso. A pressão social para neles se conformar não desapareceu, mas está em baixa.

29 de dezembro de 2016




Lola

Quero-te



Quero-te 


Porque te encontrei numa tarde solitáriamente angustiante
Porque te admirei a humildade
Porque me seduziste pela serenidade
Porque senti o teu carácter determinado
Porque sonhei projectos em comum
Porque te procurava com os olhos cada manha
Porque me agradava o teu rir melodioso
Porque te envolvia um mistério aprazível
Porque resguardavas muito do teu eu
Porque tranquilizavas as minhas ansiedades
Porque aprendeste a conhecer os meus sentires
Porque eras de uma amabilidade inexcedível
Porque estavas comigo em momentos dolorosos
Porque gostas do Mar e ele nos une ao longo da costa
Porque me inspiras e te respiro
Porque te desejo em instantes de permanência sem ausência
Porque acredito que vais voltar
Porque aceito as palavras que me dàs
Porque gosto de partilhar melodias contigo
Porque vivemos momentos de alegre cumplicidade
Porque sei que não me esqueceste
Porque um dia me disseste...SUBLIME!

Quero-te....simplesmente...

porque ...
te pinto no aconchego do meu pensamento, nos momentos dos meus sonhos e no meu presente sempre feito amanha com que te despedes!

porque ...
 tu és único nesse olhar de profunda atenção que me preenche sempre de forma silenciosa, agradável, ternurenta e deliciosa com uma doçura de sabor a maresia !

Quero-te, my Dear!





                                             Lola

Vestido xadrez



Vestido xadrez

Rita sempre adorara a moda coquette dos anos 50!

Nos tempos de meninice a mãe sempre a adornara  com vestidos floridos, com laçarotes que tornavam engraçada a sua figura de boneca!

Esta marca de infância, Rita nunca a esquecera porque lhe continuavam a seduzir os tecidos de risquinhas, de pintinhas, de bolinhas, florinhas, as nervuras, as rendas e o xadrez!

Demorava-se em montras de tecidos que ordenada e criativamente  formavam um colorido suave...ou mais arrojado, mas o que ela nunca perdia de vista era a cor vermelha que sempre a acompanhou na alma e no corpo desde que se conhecia como existente!

Por isso cada manhã que chegava à empresa, Pedro olhava-a com um sorriso porque lhe apreciava esta harmonia de cores envolvida por um sorriso que brilhava e iluminava qualquer resquício de cansaço que pudesse, arbitriamente, imiscuir-se na vida de Pedro!

Rita tinha cada vez mais a certeza de que vestia para si própria e não tanto para que a pudessem lisonjear, mas nunca esquecera que era bom, mesmo muito bom sentir o agrado no olhar moreno que, nos últimos tempos, enchia de alegria o seu coração pequenino mas de uma generosidade enorme!

Por isso, cada manha preparava-se meticulosamente com as cores que lhe agradavam e sonhava que mais uma vez as poderia embrulhar em sorrisos cúmplices e palavras como aquelas que, um dia, Pedro de forma agradavelmente inesperada lhe sussurrara ao ouvido numa solidão íntima mas colorida, no meio de tanta gente:

 "Estàs tão linda..."





Mas o que Rita queria agora mesmo, 
neste momento efémero 

era...

...um abraço em xadrez !

 Podias envolver-me nele
pois eu há muito que o espero,
ansiosamente, 
nesta mistura geométrica de cores!

                                           Lola

Não digas nada!






Não digas nada!


Não digas nada!

Nem mesmo a verdade

Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver…
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã

Em outra paisagem

Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada…
Mas ali fui feliz
Não digas nada.


Fernando Pessoa, in “Cancioneiro”


Será que Pedro imaginava que Rita gostava dele, 

que sentia o vazio da ausência e que sempre 

esperava as suas palavras envoltas numa 

serenidade que a tranquilizava?


Será que Pedro saberia as linhas de aproximação

 do rosto de Rita ao seu?


                                              Lola