Mar, mar e mar
O mar é o desenhador de ausências - Mia Couto!
Sê-lo-à de esquecimentos?
Ou apenas da espera do RE-ENCONTRO?
Tu
perguntas, e eu não sei,
eu também
não sei o que é o mar.
É talvez uma
lágrima caída dos meus olhos
ao reler uma
carta, quando é de noite.
Os teus
dentes, talvez os teus dentes,
Miúdos,
brancos dentes, sejam o mar,
um mar
pequeno e frágil,
afável
diáfano,
no entanto
sem música.
É evidente
que a minha mãe me chama
quando uma
onda e outra onda e outra
desfaz o seu
corpo contra o meu corpo.
Então o mar
é carícia,
Luz molhada
onde desperta
Meu coração
recente.
Às vezes o
mar é uma figura branca
cintilando
entre os rochedos.
Não sei se
fita a água
ou se
procura
um beijo entre
conchas transparentes.
Não, o mar
não é nardo nem açucena.
É um
adolescente morto
de lábios
abertos aos lábios de espuma.
É sangue,
sangue onde
a luz se esconde
para amar
outra luz sobre as areias.
Um pedaço de
lua insiste,
insiste e
sobe lenta arrastando a noite.
Os cabelos
da minha mãe desprendem-se,
espalham-se
na água,
alisados por
uma brisa
que nasce
exactamente no meu coração.
O mar volta
a ser pequeno e meu,
anémona
perfeita, abrindo nos meus dedos.
Eu também
não sei o que é o mar.
Aguardo a
madrugada, impaciente,
os pés
descalços na areia.
Eugénio de Andrade
Sê-lo-à de esquecimentos?
Ou apenas da espera do RE-ENCONTRO?
Lola