terça-feira, 29 de abril de 2014

A linha




A linha

Tua caminhada ainda não terminou....

A realidade te acolhe
dizendo que pela frente
o horizonte da vida necessita
de tuas palavras
e do teu silêncio.

Se amanhã sentires saudades,
lembra-te da fantasia e
sonha com tua próxima vitória.
Vitória que todas as armas do mundo
jamais conseguirão obter,
porque é uma vitória que surge da paz
e não do ressentimento.

É certo que irás encontrar situações
tempestuosas novamente,

mas haverá de ver sempre
o lado bom da chuva que cai
e não a faceta do raio que destrói.

Tu és jovem.
Atender a quem te chama é belo,
lutar por quem te rejeita
é quase chegar a perfeição.
A juventude precisa de sonhos
e se nutrir de lembranças,
assim como o leito dos rios
precisa da água que rola
e o coração necessita de afeto.

Não faças do amanhã
o sinônimo de nunca,

nem o ontem te seja o mesmo
que nunca mais.
Teus passos ficaram.
Olhes para trás...
mas vá em frente
pois há muitos que precisam
que chegues para poderem seguir-te.

Charles Chaplin



Os dois horizontes

Dois horizontes fecham nossa vida:


Um horizonte, — a saudade
Do que não há de voltar;
Outro horizonte, — a esperança
Dos tempos que hão de chegar;
No presente, — sempre escuro, —
Vive a alma ambiciosa
Na ilusão voluptuosa
Do passado e do futuro.



Os doces brincos da infância
Sob as asas maternais,
O vôo das andorinhas,
A onda viva e os rosais.
O gozo do amor, sonhado
Num olhar profundo e ardente,
Tal é na hora presente
O horizonte do passado.



Ou ambição de grandeza
Que no espírito calou, 
Desejo de amor sincero
Que o coração não gozou;
Ou um viver calmo e puro
À alma convalescente, 
Tal é na hora presente
O horizonte do futuro.



No breve correr dos dias
Sob o azul do céu, — tais são
Limites no mar da vida:
Saudade ou aspiração;
Ao nosso espírito ardente,
Na avidez do bem sonhado,
Nunca o presente é passado,
Nunca o futuro é presente.



Que cismas, homem? — Perdido
No mar das recordações,
Escuto um eco sentido
Das passadas ilusões.
Que buscas, homem? — Procuro,
Através da imensidade,
Ler a doce realidade
Das ilusões do futuro.


Dois horizontes fecham nossa vida.


             Machado de Assis






Horizonte


O mar anterior a nós, teus medos
Tinham coral e praias e arvoredos.
Desvendadas a noite e a cerração,
As tormentas passadas e o mistério,
Abria em flor o Longe, e o Sul sidério
Splendia sobre sobre as naus da iniciação.



Linha severa da longínqua costa
Quando a nau se aproxima ergue-se a encosta
Em árvores onde o Longe nada tinha;
Mais perto, abre-se a terra em sons e cores:
E, no desembarcar, há aves, flores,
Onde era só, de longe a abstracta linha.



O sonho é ver as formas invisíveis
Da distância imprecisa, e, com sensíveis
Movimentos da esp'rança e da vontade,
Buscar na linha fria do horizonte
A árvore, a praia, a flor, a ave, a fonte
Os beijos merecidos da Verdade.


                                                                                            Fernando Pessoa

         Lola

Filme O Violinista Que Veio do Mar





O Violinista Que  Veio do Mar


Para aqueles que gostam de romance,  musica,  carinho, talento e do mar -  O violinista que veio do mar é um filme  adaptado do conto do consagrado escritor William Locke e com direção do ator Charles Dance

 A história  passa -se em 1936, no sudoeste da Inglaterra, onde duas irmãs idosas, que moram em numa pequena vila  encontram, após uma tempestade, um jovem ferido.

O filme "O violinista que veio do mar" reporta-nos a obras   de Mendelssohn-Bartholdy, Niccolò Paganini, Haydn Wood, Claude Debussy, Pablo de Sarasate, Sebastian Bach entre outros.


Violino do Titanic







Olhando o Mar, ouvindo musica clàssica!




                                           Lola

Mar ilustrado





Pawel Kuczynski: que reflexões?




















https://www.facebook.com/pages/Pawel Kuczynski/222849284410325

                                            Lola

sábado, 26 de abril de 2014

Marinheiro


Marinheiro

Era uma vez um marinheiro que andava sempre na lua. Em lugar de andar num barco, 
como toda a gente (quer dizer, como todos os marinheiros), andava na lua.
Como se distraía pelo caminho, chegava todos os dias atrasado ao porto e perdia sempre 
o barco. Então sentava-se no cais com os pés a balouçar sobre a água e ficava
longas horas a olhar o céu.
- É além que eu ando, murmurava ele às vezes, fitando a lua. – Parece que estou aqui sentado, mas ando além…
Porém, ninguém o escutava. As pessoas passavam e diziam: “Lá está outra vez o marinheiro na lua!”
Um dia, o marinheiro tirou por momentos os olhos do céu e viu a lua em forma de barco, a seus pés, brilhando no mar.
- A lua!, disse ele surpreendido, levantando-se. – A lua veio ter comigo, há quanto tempo
 a esperava!
Desceu as escadas do cais até à água, meteu-se pelo mar dentro e subiu para a lua. 
Pôs-se ao leme, levantou a âncora, desfraldou as velas, e partiu para todos os sítios, indistintos e distantes, com que sempre sonhara.
Ninguém mais o viu. A gente do porto repara às vezes no seu lugar, agora vazio, no cais,
 e pergunta:
- Que será feito do marinheiro?
- Deve andar por aí, na lua? – respondem.
E anda, nunca nenhum marinheiro teve barco tão bonito!


Manuel António Pina

Um Marinheiro na lua

Era uma vez
Um marinheiro
Que andava distraído
O dia inteiro.

Chegava atrasado,
Perdia o navio
E ficava no cais
Muitos dias ao frio.

Um dia partiu
Num barco de luar,
Saiu do cais
E desapareceu no mar. 


Turma do 2.º A - EB/JI da Corujeira



                                           Lola

sexta-feira, 25 de abril de 2014

Mulher antes de Abril



Mulher antes de Abril

O retrato da mulher durante o Estado Novo

Mãe, esposa e dona-de-casa. Eis o retrato da mulher nos anos que antecederam a revolução de Abril.
Em Portugal, o Estado Novo esforçou-se por conservar a mulher no seu posto tradicional, como mãe, dona-de-casa e em quase tudo submissa ao marido. A Constituição de 1933 estabeleceu o princípio da Igualdade entre cidadãos perante a Lei, mas com algumas excepções. No documento constavam referências às "diferenças resultantes da sua [mulher] natureza e do bem da família". A mulher via-se, assim, relegada para um plano secundário na família e na sociedade em geral.
Luísa Neto é docente na Faculdade de Direito da Universidade do Porto. Esta doutorada em Direitos Fundamentais explica qual a situação da mulher perante a Lei, durante a ditadura: "A constituição de 1933, que era a constituição que vigorava antes da Revolução de 25 de Abril de 1974, não estabelecia efectivamente o princípio da igualdade, pelo menos material. Formalmente estabelecia o princípio da igualdade, mas na prática ele não tinha grande vigência".
"A mulher praticamente não tinha direitos. Se se tratasse de uma mulher casada, os direitos eram exercidos pelo chefe de família. Aliás, a expressão do pai de família, que normalmente era benfiquista, deriva daí e do entendimento que era voz comum nessa altura", realça.
A lei portuguesa designava o marido como chefe de família, donde resultava uma série de incapacidades para a mulher casada, contrariamente à mulher solteira, que era considerada cidadã de plenos direitos: "a mulher não tinha direito de voto, a mulher não tinha possibilidade de exercer nenhum cargo político, e, mesmo em termos da família, a mulher não tinha os mesmos direitos na educação dos filhos", diz a magistrada.
Nesta altura, a Lei atribuía à mulher casada uma função específica: o governo doméstico, o que se traduzia pela imposição dos trabalhos domésticos como obrigação. E os poderes especiais do pai e da mãe em relação ao filho resultavam na sobrevalorização do pai e subalternidade da mãe, que, como recomendava a lei, apenas devia ser «ouvida».
Outro dos problemas que a mulher enfrentava na altura acontecia nas situações de reconstituição da família. O divórcio era proibido, devido ao acordo estabelecido com a Igreja Católica na Concordata de 1944, pelo que todas as crianças nascidas de uma nova relação, posterior ao primeiro casamento, eram consideradas ilegítimas. E havia duas alternativas no acto do registo: a mulher ou dava à criança o nome do marido anterior ou assumia o estatuto de "mãe incógnita". O que não podia era dar o seu nome e o do marido actual.

Trabalho só para homens

Também em relação ao trabalho, a mulher deparava frequentemente com grandes limitações. E o acesso a determinadas profissões era-lhe completamente vedado, como nos diz Luísa Neto: "no que diz respeito à questão profissional, a mulher não tinha direito de acesso a determinados lugares que se considerava que deviam ser ocupados por homens". A magistratura, a diplomacia e a política são apenas alguns dos exemplos de sectores profissionais a que a mulher não podia aceder.


Maria José Magalhães é hoje assistente na Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto, onde concluiu o seu mestrado em Ciências da Educação. Realiza investigação sobre a questão do género e participa em alguns grupos e publicações feministas. Sobre o tema, escreveu o livro "Movimento Feminista e Educação - Portugal, décadas de 70 e 80". E descreve assim a situação da mulher naquela altura: "Antes do 25 de Abril, muitas mulheres não podiam casar com quem queriam, as mulheres casadas não podiam mexer na sua propriedade, as enfermeiras não podiam casar, as professoras não podiam casar com qualquer pessoa: tinham que pedir autorização para casar, e saía em Diário da República a autorização para ela casar com o senhor fulano de tal".

Além disso, naquela altura estava escrito em decreto-lei que uma professora só podia casar com um homem que tivesse um vencimento superior ao dela. "Uma mulher casada não podia ir para o estrangeiro sem autorização do marido, não podia trabalhar sem autorização do marido. O marido podia chegar a uma empresa ou estabelecimento público e dizer: eu não autorizo a minha esposa a trabalhar. E ela tinha que vir embora, tinha que ser despedida", contou ao JPN Maria José Magalhães.

                                                                                                      In JPN, UP,Anabela Couto
Publicado: 26.04.2005




                                                                                        Lola

Abril





ANTES DO DIA EM QUE A ESPERANÇA RENASCEU



Quem tem menos de 50 anos ainda não havia nascido ou era demasiado pequeno, nas décadas de 60 e 70, para saber o que significava viver com um ferro cravado na garganta e grilhões no pensamento. Às mulheres, então, estava legalmente interdito o exercício de algumas profissões, como a magistratura e a diplomacia, e era obrigatória a autorização do marido para se ausentarem do país.

Quem tem menos de 50 anos, era demasiado pequeno para se aperceber da angústia de uma família com um filho ou um marido numa guerra que ninguém sabia ao certo para que servia, a quem servia.

Desconhece o que representava comprar às escondidas um jornal, o velhinho "República", então já com 62 anos de existência após a sua fundação em 1911 por António José de Almeida, o médico loquaz e republicano laico que viria a ser presidente da República em 1919.

Quem hoje tem menos de 50, não pôde sentir a amargura de viver no medo de ser denunciado à Polícia política pelo vizinho, pelo companheiro de trabalho, pelo amigo ou familiar, só porque exprimia o seu pensamento, o seu ideário político, a sua concepção de sociedade, a sua revolta por um regime que o inibia de ser livre de se expressar politicamente, o proibia de comprar os livros que quisesse ou de ouvir cantigas que os censores consideravam subversivas.

A queda do regime, essencialmente, devolveu aos portugueses o direito à liberdade de opinião e expressão.

Mas agora, quando existem claros indícios de que a liberdade de imprensa está ameaçada e quando a privacidade dos cidadãos é cada dia menor, só faltando implantarem-nos na pele um “chip”, é urgente avisar todos os que não têm memória do passado de que viver sob o jugo de um regime ditatorial, seja ele qual for, é das situações mais dolorosas que podem acontecer a um ser humano.

Por isso, estarei sempre com os ideais generosos de Abril, serei sempre contra os poderes totalitários, sejam eles de direita, de esquerda, ou de mascarada democracia.
Alertarei enquanto puder dos perigos de nos deixarmos conduzir, procurarei sempre arreganhar os dentes aos falsos profetas, aos demagogos, aos travestidos de democratas que mais não são do que tiranetes legitimados pelo voto dos que preferem deixar-se pastorear em vez de fazer uso do seu direito à indignação.

Viver em liberdade responsável assim mo exige.

- um texto de Jorge P.G. Sineiro, 24 Abril de 2014


 Lola

Liberdade sem censura



Liberdade sem censura


Esta é a madrugada que eu esperava 

O dia inicial inteiro e limpo 

Onde emergimos da noite e do silêncio 

E livres habitamos a substância do tempo


Sophia de Mello Breyner Andresen


                                          


                                        Lola

Afectos - O Forno





O Forno

Estes são os meus vós maternos: Maria e Manuel. 

Eram agricultores e criaram uma família numerosa de dez filhos. 

Lá em casa, dizia a minha avó, que nunca se passou, propriamente, fome! No entanto em tempos da segunda guerra mundial, conta a minha mãe que se viveram dias de muita dificuldade porque o açucar e o arroz eram racionados, ou seja, distribuídos às famílias mediante a apresentação de uma senha. 

Em casa dos meus avós, como em tantas outras, uma sardinha era dividida por três e comia-se um franguito no dia da festa da padoeira là da vila!

Os filhos mais velhos ajudaram a criar os mais novos enquanto os pais trabalhavam no amanho das terras

. Só ía à escola quem queria e, por isso mesmo, a maioria dos irmãos da minha avó, que tem hoje cerca de oitenta e dois anos, não completou os quatro anos da escola primária.

Alguns apenas assinam, com muita dificuldade, o seu nome!





Em casa dos meus avós havia um forno grande de pedra que estava diariamente aceso com lenha de monte que as mulheres adultas traziam para os fundos da casa!

Era, precisamente, esta  a lenha que  cozia o pão para a família.

 No tempo da segunda guerra mundial os meusavós recebiam a farinha da câmara e coziam o pão para as pessoas necessitadas que o vinham buscar lá a casa.

Os meus avós ajudaram muitas famílias de Arouca que lhe ficaram eternamente agradecidas.

Aliás a minha avó foi uma "parteira" muito requisitada na época e ajudou muitos bebes a nascer... alguns ainda falam disso hoje à minha mãe.

Quanto ao forno...bem, o forno lá permaneceu  até depois da morte deles.

A minha avó morreu primeiro com cerca de sessenta anos e o meu bisavô nunca superou as saudades tendo falecido cinco anos mais tarde!

Arouca antiga

                                            Lola


Afectos - os gemeos

Foto de 1927

Os gémeos

Chamavam-se Joaquim e Alberto e eram dois dos filhos dos meus avós. Esta foto é de 1927 e mostra o momento em que um deles esconde atrás das costas uma maçã e o outro fica triste. 

Eram muito unidos e se um queria ir dormir mais cedo, o outro, mesmo que não tivesse sono, acompanhava-o sempre para a cama.

Tinham cerca de três anos quando algo de muito triste  aconteceu na vida desta família. 

Um deles teve uma doença que a minha família não sabe especificar e mesmo atendido pelo médico da vila, Dr. Simões (avô do cientista Manuel Sobrinho Simões), não sobreviveu, acabando por falecer. 

O outro gémeo permaneceu junto do caixão todo o tempo e no dia do funeral fugiu atrás do velório até ao cemitério. 

De realçar que nesta altura só os homens acompanhavam a pessoa falecida até à “última morada”.

O gémeo que cá ficou passava o tempo a chorar agarrado às saias da minha avó e nunca mais foi o mesmo.

O Dr. Simões disse aos meus avós que ele morreu de lesão cardíaca por não aguentar a partida do seu irmão gémeo!


                                            Lola