A grandeza da mãe Paula
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Se perdesse uma filha num homicídio brutal, seria
capaz de perdoar? E se o homem que a matou pusesse termo à vida, seria capaz de
enviar condolências à família do assassino?
Estas são perguntas com as quais ninguém devia ser
forçado a deter-se. Que inquietariam qualquer pai ou mãe. Estas são perguntas
hostis de resposta tortuosa. Beatriz Lebre foi morta de forma cobarde por Rúben
Couto, com quem mantinha um relacionamento amoroso. O seu corpo foi lançado ao
rio Tejo e, cerca de um mês depois desse dia terrível, o homicida confesso pôs
termo à vida na prisão. Mas nesta história trágica avulta uma lição maior. A da
mãe da vítima, Paula Bochecha Lebre. "As minhas condolências à família de
Rúben Couto. Não é possível medir sofrimento, mas uma morte é uma morte. Quando
morre uma criança ou um jovem é sempre uma perda para as famílias como para a
sociedade", escreveu ela no Facebook, abrindo o peito frágil de mãe, mas
mantendo inviolável a decência e um profundo sentido de humanidade que não a
deixa defender a pena capital. Ainda que fosse entendível que a desejasse para
o carrasco da filha. "Prefiro um culpado livre do que um inocente no
corredor da morte".
Perderam-se dois jovens em circunstâncias dramáticas.
Sobrou uma dor corrosiva para as famílias. Mas ficou-nos como curativo
espiritual e sobressalto cívico esta enorme, enormíssima, dádiva de Paula. Ter
a capacidade de preservar os valores morais, civilizacionais, mesmo que habite
nela uma dor infinitamente maior do que o corpo, é de uma grandeza ímpar e, por
isso, merecedora da nossa vénia. Num mundo tão ensimesmado com futilidades, tão
desgastado por ódios boçais e vaidades fátuas, tudo seria melhor com pessoas
como Paula, com mulheres como Paula, com mães como Paula.
Senhor presidente da República, quer condecorar um
português verdadeiramente merecedor? Ei-lo: chama-se Paula Bochecha Lebre,
cidadã extraordinária.
Pedro Ivo
Carvalho
JN, 8 de Julho de 2020
Eu, que sei de cor a dor de perder uma filha, sensivelmente da mesma idade, ainda que não devido à brutalidade assassina de outrém...
...não sei mesmo se
conseguiria perdoar o autor de tamanha e amarga dor!
Lola