domingo, 31 de janeiro de 2016

You Raise Me Up



You Raise Me Up

Desde aquele dia que te vi...
Desde aquele momento que te senti
 um pouco perdido num espaço ainda a descobrir
Desde aquele instante 
em que te notei diferente 
no saber estar

Desde aquele olhar 
 percorri a elegância do teu ser
 irremediavelmente caloroso e disponível
Desde aquele momento
 que  sonhei o teu rosto
Tens sido a mão que afaga 
que entrelaça docemente
a minha solidão
os meus medos
a minha angustia
a minha alegria 
mesmo quando o reencontro
é humanamente (im)possível 
e dolorosamente  sofrido!

Tu sabes!

Estás, permanecerás
 eternamente, 
AQUI 
no meu mundo intelegivel
porque...

You Raise Me Up,
my dear!




Tirado DAQUI


 You Raise Me Up

When I am down and, oh, my soul, so weary
When troubles come and my heart burdened be
Then, I am still and wait here in the silence
Until you come and sit awhile with me

You raise me up, so I can stand on mountains
You raise me up, to walk on stormy seas
I am strong, when I am on your shoulders
You raise me up: To more than I can be

You raise me up, so I can stand on mountains
You raise me up, to walk on stormy seas
I am strong, when I am on your shoulders
You raise me up to more than I can be

There is no life - no life without its hunger
Each restless heart beats so imperfectly
But when you come and I am filled with wonder
Sometimes, I think I glimpse eternity

You raise me up, so I can stand on mountains
You raise me up, to walk on stormy seas
I am strong, when I am on your shoulders
You raise me up to more than I can be

You raise me up, so I can stand on mountains
You raise me up, to walk on stormy seas
I am strong, when I am on your shoulders
You raise me up to more than I can be


Você Me Eleva

Quando estou triste, e, oh, minha alma, tão cansada
Quando os problemas fazem o coração pesar
Então, eu paro no meio do silêncio
Até você vir e sentar-se por um instante comigo

Você me levanta para alcançar montanhas
Você me eleva para andar sobre o mar
Eu sou forte quando estou sobre seus ombros
Você me levanta mais do que eu possa alcançar

Você me levanta para alcançar montanhas
Você me eleva para andar sobre o mar
Eu sou forte quando estou sobre seus ombros
Você me levanta mais do que eu possa alcançar

Não há vida - não há vida sem este desejo
Cada batida do meu coração tão imperfeito
Quando quando você chega e eu me espanto
Às vezes, eu acho ter vislumbrado a eternidade

Você me levanta, para alcançar montanhas
Você me eleva, para andar sobre o mar
Eu sou forte, quando estou sobre seus ombros
Você me levanta mais do que eu possa alcançar

Você me levanta, para alcançar montanhas
Você me eleva, para andar sobre o mar
Eu sou forte, quando estou sobre seus ombros
Você me levanta mais do que eu possa alcançar

Composição: Brendan Graham / Rolf Løvland



                                             Lola

A arte do abraço




Breve introdução à arte do abraço

O abraço é uma longa conversa que acontece sem palavras. Tudo o que tem de ser dito soletra-se no silêncio

Diz-se que o nosso corpo tem a forma de um abraço. Talvez por isso a tarefa de abraçar seja tão simples, mesmo quando temos de percorrer um longo caminho. O abraço tem uma incrível força expressiva. Comunica a disponibilidade de entrar em relação com os outros, superando o dualismo, fazendo cair armaduras e motivos, cedendo, nem que seja por instantes, na defesa do espaço individual. Há uma tipologia vastíssima de abraços, e cada uma delas ensina alguma coisa sobre aquilo que um abraço pode ser: acolhimento e despedida, congratulação e luto, reconciliação e embalo, afeto ou paixão. Os abraços são a arquitetura íntima da vida, o seu desenho invisível, mas absolutamente presente; são plenitude consentida ao desejo e memória que revitaliza. Todos nos reconhecemos aí: em abraços quotidianos e extraordinários, abraços dramáticos ou transparentes, abraços alagados de lágrimas ou em puro júbilo, abraços de próximos ou de distantes, abraços fraternos ou enamorados, abraços repetidos ou, porventura, naquele único e idealizado abraço que nunca chegou a acontecer mas a que voltamos interiormente vezes sem conta.

No princípio era o abraço, se pensarmos no colo que nos nutriu na primeira infância. Essa foi, para a maioria de nós, a primeira e reconfortante forma de comunicação. Mas a necessidade de um abraço acompanha a nossa existência até ao fim. O abraço é uma longa conversa que acontece sem palavras. Tudo o que tem de ser dito soletra-se no silêncio, e ocorre isto que é tão precioso e afinal tão raro: sem defesas, um coração coloca-se à escuta de outro coração. “Em teu abraço eu abraço o que existe,/ a areia, o tempo, a árvore da chuva./ E tudo vive para que eu viva” — garantem os versos de Neruda.





Calcula-se que um ser humano precise de 1500 abraços por ano para sobreviver. Dá uns quatro abraços por dia. Mas os números podem subir, pois encontram-se instruídos nessa humaníssima ciência chamada abraçoterapia a defender 12. Está também calculado – para quem ache graça à semântica dos números – que a duração média de um abraço entre duas pessoas é de três segundos. Mas há abraços mais demorados. 




O dos chamados “amantes de Valdaro”, por exemplo, tem pelo menos 6000 anos. Trata-se de dois esqueletos que remontam ao Neolítico, descobertos, há não muito tempo, numa necrópole perto de Mântua. Crê-se que pertenceram a uma mulher e um homem, entre os 18 e os 20 anos. Representam algo de único no mundo, quer pela antiguidade, quer pela posição em que foram encontrados: os corpos vizinhos e cruzados, o braço dele em torno do pescoço dela, numa espécie de abandono que talvez tenha sido o de um amor. Não há sinais de violência e, por isso, exclui-se a hipótese de terem sido mortos. O mais provável é que tenham perecido a uma doença, de fome ou de frio. Há 6000 anos, porém, o seu abraço permanece inalterado.
O Abraço, Helena Almeida, Serralves

Um dos momentos mais extraordinários da arte contemporânea portuguesa é a sequência fotográfica, de Helena Almeida, intitulada “O Abraço”. São sete imagens de grandes dimensões (180 x 100 cm) em que a fotógrafa e o marido se abraçam. Apenas isso. Estão ambos sentados num banco que só dá para uma pessoa e apertam-se, agarram-se, suplicam-se, buscando no outro amarra, como se navegassem numa jangada destinada a um naufrágio irremediável. Por vezes o abraço deles parece uma luta, por vezes um reencontro para sempre. Os corpos dão-se a ver numa fragilidade que dói, num equilíbrio mais do que precário, instáveis e tensos como não se julgaria. Mas são, em todo o tempo, o radical abrigo um do outro, a passagem mais do que a fronteira, o interminável espanto de reconhecer no corpo do outro o nosso, no nosso o do outro.

José Tolentino Mendonça,
 in Revista Expresso, Edição 2256  de 22/01/16







Lola


Desamigar


Desamigar

Aquilo em que não queremos pensar


São como barcos à deriva na noite. Existem ainda, podemos vê-los, as fotografias do seu rosto estão bem focadas mas, ao contrário de nós, deixaram de estar enredados em tudo, deixaram de preocupar-se, dispensam a oportunidade de partilhar mais links, já chega, não precisam de comentar o que toda a gente comenta, não contabilizam o número de likes.

Os amigos do Facebook que morreram continuam na nossa lista. Não tivemos coragem de desamigá-los, apesar de sabermos que aquele perfil já não lhes pertence, eles já não estão lá. Às vezes, o quadrado com o rosto deles aparece a meio de qualquer caminho prosaico: sugerido quando procuramos alguém com um nome semelhante, quando entramos no perfil de um amigo comum ou por simples capricho da máquina. Entre vídeos de dois minutos, fotografias de alguém na praia e aforismos que podem rimar ou não, esses encontros súbitos lembram-nos que a morte faz parte do mundo.

Às vezes, também pode acontecer que sejamos nós a dirigirmo-nos aos perfis de Facebook dos nossos amigos mortos, sabemos onde encontrá-los. Lá, espera-nos um longo instante, tempo estagnado. O post mais recente que publicaram fala de um tema que o Facebook ultrapassou há muito. Existe uma grande diferença de tom entre esse post, ignorante da morte que se aproximava, e os comentários, póstumos, a lamentarem essa mesma morte. O nosso amigo nunca teve tantos likes e tantos comentários. Demasiado tarde, dirigem-se a ele, tratam-no por tu.

Que post escreveremos nós se soubermos que é o último?

Algum dia chegará essa hora. Espero que não seja novidade para ninguém, não quero ser eu a dar esta notícia aziaga. Algum dia chegará o momento em que todos estaremos mortos, até os mais inocentes, até aqueles que não merecem. Antes disso, no entanto, iremos acumular mortos entre os nossos amigos do Facebook. Se vivermos tempo suficiente, é possível que cheguemos a um momento em que, no Facebook, teremos mais amigos mortos do que vivos. Depois, entraremos também nessa multidão de mortos, perfis baldios, roupas fora de moda nas fotografias. Nesse dia, se olharmos para este instante preciso, acredito que vamos achar que passou pouco tempo entre aqui e lá, entre este e esse momento.



José Luís Peixoto, in Notícias Magazine, 
17 de janeiro de 2016


Eu não quero...
não quero mesmo desamigar alguns seres
 que partiram e que continuam no Facebook! 
Porquê?
Porque morreram para AQUI 
mas continuam exageramente embrenhados
 na minha vida que os gostou de forma doce!
Continua no meu telemóvel o numero da minha filha Diana 
Que desde há nove anos não está fisicamente comigo...
Continua no facebook o meu amigo João Reimão que partiu há cerca de três meses...
De vez em quando dirijo-me a eles, 
é verdade 
e não é por um esquecimento fugaz de que irremediavelmente partiram!

Mas...
por esta necessidade existencialmente arrebatadora 
de os ter permanente e saudavelmente na minha memoria e...
sobretudo na SAUDADE que lhes devo e os quero...
PERMANENTEMENTE em mim!

                                            Lola

segunda-feira, 11 de janeiro de 2016

Só nós dois





SÓ NÓS DOIS



Tirado DAQUI


Só Nós Dois É Que Sabemos
Tony de Matos


Só nós dois é que sabemos
Quanto nos queremos bem
Só nós dois é que sabemos
Só nós dois e mais ninguém
Só nós dois avaliamos
Este amor forte e profundo
Quando o amor acontece
Não pede licença ao mundo

Anda, abraça-me... beija-me
Encosta o teu peito ao meu
Esquece que vais na rua
Vem ser minha e eu serei teu
Que falem não nos interessa
O mundo não nos importa
O nosso mundo começa
Cá dentro da nossa porta

Só nós dois é compreendemos
O calor dos nossos beijos
Só nós dois é que sofremos
A tortura dos desejos
Vamos viver o presente
Tal qual a vida nos dá
O que reserva o futuro
Só Deus sabe o que será

Anda, abraça-me... beija-me
... ... ... ...

Era somente aquilo que queria dizer!
Revisitei o baú musical da infância...
...e as palavras estavam là!!!


                                                Lola

sábado, 9 de janeiro de 2016

Chove!



Chove!

Dia de Chuva
O ar é de um amarelo escondido, como um amarelo pálido visto através dum branco sujo. Mal há amarelo no ar acinzentado. A palidez do cinzento, porém, tem um amarelo na sua tristeza.
Fernando Pessoa - "Bernardo Soares"


Solidão
A solidão é como uma chuva. 
Ergue-se do mar ao encontro das noites; 
de planícies distantes e remotas 
sobe ao céu, que sempre a guarda. 
E do céu tomba sobre a cidade. 


Cai como chuva nas horas ambíguas, 
quando todas as vielas se voltam para a manhã 
e quando os corpos, que nada encontraram, 
desiludidos e tristes se separam
e quando aqueles que se odeiam 
têm de dormir juntos na mesma cama: 
então, a solidão vai com os rios... 




Rainer Maria Rilke, in "O Livro das Imagens" 
Tradução de Maria João Costa Pereira 





                                             
                                                Lola

Sorte infinita



Sorte infinita

Breve partilha da minha sorte infinita

  
Como se alguma coisa me chamasse, levanto o rosto do livro. Acabado de chegar, surpreendo o mundo inteiro a existir em cada detalhe. Entre as páginas, pouso um marcador que o André fez na escola e me ofereceu no dia do pai. Cada movimento é muito vagaroso para não perturbar nada. Mantenho a distância. E fico apenas a assistir, como se ainda estivesse a ler, como se tudo continuasse sem mim.

A paz do cloro mistura-se com o fim da tarde e com o azul limpo das paredes da piscina. Calculo que os meus filhos estejam mais ou menos a vinte metros de mim. Descalços sobre a relva, jogam com raquetes de madeira. A bola de borracha faz um barulho surdo, sem eco, toc, toc. Às vezes, essa cadência mantém-se certa durante algum tempo mas, depois, sem explicação, perde-se, não dá para confiar na regularidade desse ritmo.  

O João, com dezasseis anos e mais de um metro e oitenta, atira a bola para o André, com oito anos, quase nove, que pode ser capaz de apanhá-la ou não. Em qualquer dos casos, entusiasmam-se com esse desafio, riem-se e as suas vozes atravessam esta distância, perdendo pelo caminho a forma das palavras, mas mantendo o seu tom, a sua idade, a sua música.

Numa cadeira ao lado da minha, inclinada para trás, a minha mãe ressona baixinho, como se o ar lhe raspasse no céu da boca. Tem os óculos desacertados dos olhos e a expressão séria que sempre faz quando está a dormir. Tem as mãos juntas, pousadas sobre a barriga, os dedos tortos, a artrose. Tem as pernas esticadas, os dedos gordos dos pés a apontarem para qualquer lado, a dormirem também.

Neste momento, tenho a noção precisa do tamanho da minha sorte.

No ano passado, fomos de férias juntos pela primeira vez, só nós. Em novembro, quando a minha mãe teve o AVC, pensei em várias ocasiões: ainda bem que fizemos essa viagem, ainda bem que não esperámos mais. Quando recuperou a fala, ela própria disse a mesma coisa. Estes meses passaram com a minha mãe a reaprender a andar, a segurar nos objectos, a falar. Não sei se os meus filhos chegaram a entender completamente aquilo que aconteceu à avó. Eles ainda não são capazes de perceber que ela é uma rapariga nova no corpo de uma mulher de setenta e um anos, a ouvir mal, a andar devagar, a usar palavras estranhas, a contar histórias antigas e a não gostar de todas as comidas.

Mesmo sem essa tangente à morte, mesmo sem a violência dos detalhes que não descrevo aqui, acredito que continuaria a ser capaz de avaliar a dimensão da sorte deste momento. Desde cedo que temo a possibilidade de passar pelas horas mais felizes da minha vida sem as reconhecer. Não sei com quem aprendi esse talento. Sinto pena silenciosa quando vejo alguém recordar um tempo em que foi feliz como se, só naquele instante, demasiado tarde, identificasse a felicidade que atravessou. Não quero esse desperdício para mim. A vontade de reconhecer os melhores momentos da minha vida no instante em que estou a vivê-los, dá-me a lucidez de estar sempre alerta para a felicidade. É essa a minha sorte.

Os meus filhos jogam com as raquetes de madeira. Quando um ou outro não acerta na bola, dão dois ou três passos para ir buscá-la entre os arbustos. A minha mãe continua a dormir, os seus sonhos parecem tranquilos como as suas sobrancelhas. O tempo desliza nestas cores do entardecer. O sol, de certeza, encontrou o horizonte. Somos sempre os últimos a sair, não temos pressa.

Depois, quando sairmos, voltaremos a ser um grupo invulgar de quatro elementos com muitas diferenças entre si: um menino de oito anos, irrequieto, cheio de coisas para dizer; um adolescente de dezasseis anos, carapinha, aparelho nos dentes e muito vagar; uma mulher de setenta e um anos, a descer degraus com dificuldade, mas animada para todas as hipóteses que surjam; e eu, de chinelos, t-shirts difíceis de compreender, estranho e tatuado.

Mas isso será depois. Agora, há o rumor da água da piscina, empurrada por uma brisa que não se sente, há a minha mãe aqui ao lado, há os meus filhos a serem irmãos e há esta sorte infinita que me rodeia e me acompanha.

Há esta gratidão compacta que me preenche. 




José Luís Peixoto,
 in revista Visão (julho de 2013)




Lola

Chuva...



Chuva ...

Rita sempre gostara de passear chuva dentro com o seu porte elegante sem esquecer o guarda chuva vermelho que é para ela uma cor única e inigualável!
Rita sente, frequentemente, saudade do MAR, do cheiro a maresia, da musica ritmada das ondas que se desfazem a seus pés!Gosta de passear junto ao mar, olhando o infinito e sem temer a presença de uma ou outra gaivota que por ali passe pois esse é o seu habitat e Rita até nem desgosta de as ver voar, desenhando movimentos curvilíneos que se perdem na distância!
Inverno! 
O mar é menos brilhante, está mais enfurecido, mas o mistério que ele guarda é exactamente igual ao de qualquer outro dia mais dourado pelo sol! Claro, que passear na areia molhada lhe faz cansar as pernas mas o desejo premente de se encontrar junto a ele...o mar... combina a dureza dos passos com a magia daquela musica de água salgada de que Rita é uma fervorosa amante!
Cedo Rita conjugou o mar e a reflexão existencial! Sempre a cativou ficar frente a frente tentando descobrir e descobrir-se a si própria em momentos que carecia de encontrar sentidos para a vida!
 Por isso este continuará a ser, para ela, um caminho que percorre sozinha ...ou talvez não...
...com o sonho de que um dia tu possas partilhar o guarda chuva vermelho enrolando-a num olhar de futuro que, neste momento, é-lhe tão estranho quanto a misteriosa mas sedutora envolvência de si própria com a tranquilidade do horizonte timidamente infinito!


Dàs-me um abraço de Mar, 
my dear?


                                              Lola

Sapatos




Sapatos

Rita sempre gostara de passear rua fora com o seu porte elegante e nunca descurando um pormenor, por mínimo que fosse,  na forma como se apresentava num espaço que não o  de sua casa!
Não era muito antiga esta sua vontade de olhar para si própria! Descobrira-a após sentir que não lhe tinham reconhecido o seu valor...a sua lealdade...o seu cuidado para com os seus...esquecendo-se, e não foram poucas as vezes, de si e da sua beleza graciosa e interessante!
Por vezes achava curioso porque lhe diziam os miúdos que ela era vaidosa! Rita sorria pois não estava nada de acordo!
Nunca sentira o desejo de agradar a quem quer que fosse...senão a si própria e à terrível  tarefa mental que lhe era suscitada pela necessidade intrínseca da combinação de cores, acessórios, bâton e... não poderia esquecer nunca um pouco de tempo a escolher os ... sapatos!
Ai, como os sapatos eram a grande debilidade de Rita! Desde a sua meninez que se perdia em montras de uma qualquer sapataria da cidade a saborear os modelos que mais a fascinavam e que naquele momento nunca poderia ter!
Namorava-os tanto que sonhava um dia ter uns sapatos, um par que fosse de tacão para notar que elegância lhe proporcionavam!
E eram os coloridos que mais a atraiam...condiziam com o seu espírito inquieto, insubmisso, desalinhado e da garra que sempre a acompanhava mesmo nos silêncios que teimava dar como resposta a assuntos que nada lhe interessavam!
Rita sonhava muito! Sempre fora habituada a não ter o que queria...os tempos eram de escassez... mas o enamoramento e o desejo no tempo que havia de converter-se em ter o que desejava, mesmo o mais simples, trouxe-lhe uma ânsia pela busca e menos pelo encontro!
O sonho fora aquilo que Rita tinha de muito seu, sem interferências, nem descuidos, sem rejeições! Um dia o tempo ajuda-la-ia a chegar ao que, durante muitos anos a separou de uma vidraça!
 Rita, porém, continua a sonhar! 
Não propriamente com sapatos...embora continue a passar para là das montras quando um exemplar inova o seu olhar e lhe agrada radicalmente!
Hoje Rita é uma enamorada da vida, do saber estar com quem a gosta e de quem gosta...por isso...
...de vez em quando namora, de novo, uns sapatos vermelhos de enormes laçarotes com os quais passeava na tua mão e se esticava para te enlaçar num abraço de transparência colorida!
Atè porque  o enamoramento lhe agrada, o desejo a mantém esperançada num reencontro...
...agora, certamente, para cá da vidraça onde encontra, continuadamente o moreno atlântico dos teus olhos indiziveis!


                                            Lola

terça-feira, 5 de janeiro de 2016

Ouvi dizer





Ouvi dizer


Ouvi dizer
Que o nosso amor acabou
Pois eu não tive a noção do seu fim.
Pelo que eu ja tentei
Eu não vou vê-lo em mim
Se eu não tive a noção de ver nascer o homem.

E ao que eu vejo
Tudo foi para ti
Uma estúpida canção que só eu ouvi
E eu fiquei com tanto para dar
E agora não vais achar nada bem
Que eu pague a conta em raiva

E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

Ouvi dizer
Que o mundo acaba amanhã
E eu tinha tantos planos p'ra depois
Fui eu quem virou as páginas
Na pressa de chegar até nós
Sem tirar das palavras seu cruel sentido.

Sobre a razão estar cega
Resta-me apenas uma razão
Um dia vais ser tu
E um homem como tu
Como eu não fui
Um dia vou-te ouvir dizer

E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

Sei que um dia vais dizer
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma
E pudesse eu pagar de outra forma

A cidade está deserta
E alguém escreveu o teu nome em toda a parte
Nas casas, nos carros,
Nas pontes, nas ruas...
Em todo o lado essa palavra repetida ao expoente da loucura
Ora amarga, ora doce
Para nos lembrar que o amor é uma doença
Quando nele julgamos ver a nossa cura


Ornatos Violeta 


Foto Gustavo Machado @All rights reserved

Tirado DAQUI

                                              Lola