terça-feira, 30 de maio de 2017

Lua-de-mel




Lua-de-mel


Podem esconder a lua
Dentro de um saco de papel
Atirá-la pelo ar
E amarrá-la noutro lugar
Com os fios dourados de um cordel

Podem varrer as estrelas
Para dentro de um vulcão
Apagá-las ao escurecer
Ou fazê-las desaparecer
Com uma varinha de condão

Que mesmo que não haja luar
Nem estrelas a brilhar
A noite vai aparecer
E eu não a quero perder
Pois enquanto eu te beijo
Já só consigo pensar
Que a noite que esperávamos
É a que está a começar
Por isso não vou partir
Hoje vim para ficar
Esta é a nossa noite
E eu não a quero desperdiçar

Podem levar as nuvens
Num sopro que se deixa no ar
Até as podem pousar
Ou fazê-las rodopiar
Como um vira-vento a girar

Podem adormecer o céu
E depois empurrá-lo para cá
Podem prendê-lo ao sol
Embrulhado num lençol
Ou deitá-lo no regaço de um divã

Que mesmo com o céu a dormir
E com as nuvens a fugir
A noite vai aparecer
E eu não a quero perder
Pois enquanto eu te beijo
Já só consigo pensar
Que a noite que esperávamos
É a que está a começar
Por isso não vou partir
Hoje vim para ficar
Esta é a nossa noite
E eu não a quero desperdiçar

Miguel Brandão
1967


Gosto muito da lua!
Porquê?
Talvez porque ela envolve mistério, sonho e poesia!
A lua nao aquece, mas ilumina o rosto em noites de profunda solidao, de irremediável desencanto, de desnecessário e dispensável desconforto existencial!
A lua beija o mar...transporta-nos ao infinito, abraça a utopia do possível, cobre-nos de esperança pelo colorido em que alegremente se transforma nos momentos diferentes de um dia que vai passando!

Gosto muito da lua! 
Porquê?
Talvez por ser a musa de poetas e trovadores, de pintores, marinheiros e cantores. 
Como o meu amigo Miguel que a inventou numa melodia tão actual, tão expressivamente doce e prazerosa!

Sabe bem sentir a lua!
 Por mim em vez de Lua de Mel...
...Lua de Mar pelo sabor de maresia 
que quero embalar 
quando ambos se enlaçam num profundo, esperançado e demorado...

...Abraço!



                                               Lola

terça-feira, 23 de maio de 2017

E depois do adeus



E DEPOIS DO ADEUS

Quis saber quem sou

O que faço aqui
Quem me abandonou
De quem me esqueci
Perguntei por mim
Quis saber de nós
Mas o mar
Não me traz
Tua voz.
Em silêncio, amor
Em tristeza e fim
Eu te sinto, em flor
Eu te sofro, em mim
Eu te lembro, assim
Partir é morrer
Como amar
É ganhar
E perder.
Tu vieste em flor
Eu te desfolhei
Tu te deste em amor
Eu nada te dei
Em teu corpo, amor
Eu adormeci
Morri nele
E ao morrer
Renasci.
E depois do amor
E depois de nós
O dizer adeus
O ficarmos sós
Teu lugar a mais
Tua ausência em mim
Tua paz
Que perdi
Minha dor
Que aprendi.
De novo vieste em flor
Te desfolhei...
E depois do amor
E depois de nós
O adeus
O ficarmos sós.



José Niza 



Vamos ouvir a leveza da melodia na doçura das palavras?
Vem...
senta-te junto a mim, 
abraça-me com o teu olhar e não despregues a tua mão da minha...
tenho muito receio de te sentir numa quietude deveras perturbadora!
Sabias...
mesmo depois daquele adeus só nosso...
continuo a adorar-te, my dear?


                                             Lola

terça-feira, 16 de maio de 2017

Amor invulgar




Amor invulgar

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Brigitte Macron está na vida de seu marido desde que ele tinha 15 anos – primeiro como professora, depois como companheira sentimental e agora como sua primeira-dama.
E ela esteve ao lado de Emmanuel Macron quando o centrista pró-União Europeia (UE), de 39 anos, assumiu o cargo como o presidente mais jovem da história da França, depois de ter vencido a eleição presidencial.
Elegante e esbelta, Brigitte Macron, de 64 anos, é a colaboradora mais próxima de seu marido, e ele  prometeu-lhe um papel oficial no palácio presidencial.
“Todas as noites conversamos e repetimos o que ouvimos um sobre o outro”, disse Brigitte à revista Paris Match no ano passado. “Eu tenho que prestar atenção em tudo, fazer o máximo para protegê-lo”.
Brigitte já foi capa de quase uma dúzia de revistas, e esteve ao lado de seu marido em muitos comícios lotados, enquanto o mundo acompanhava com fascínio o romance pouco ortodoxo do casal.
Mas antes disso tudo ela foi esposa num primeiro casamento e mãe de três filhos, e ensinava francês, latim e teatro. Brigitte estava no caminho para uma vida confortável, embora um tanto convencional.
Brigitte Trogneux nasceu em 13 de abril de 1953 em Amiens, no norte da França, que também é a cidade natal de Emmanuel Macron, numa família próspera que dirige um negócio conhecido de pastelaria e chocolate.
No início da década de 1990, ela foi surpreendida por um jovem que estava a actuar numa produção de “Jacques e seu Amo”, de Milan Kundera. 
Era Emmanuel.
Ela concordou rapidamente quando ele lhe pediu que o ajudasse a trabalhar  num roteiro e, assim, eles começaram a construir um vínculo.
A professora, então com 39 anos, foi “totalmente cativada” pela inteligência de Emmanuel, que tinha apenas 15 anos. O sentimento era mútuo, e dois anos depois ele fez uma previsão ousada.
“Quando tinha 17 anos, Emmanuel me disse: “Aconteça o que acontecer, eu vou  casar-me com você!”, contou Brigitte Macron à revista Paris Match em abril passado.

Concluidos os estudos superiores, o aluno voltou para casar com a professora!

Em 2006, Brigitte deixou seu marido Andre Louis Auziere, um banqueiro e um ano depois casou-se com Macron. Mudou-se para Paris, onde ele continuou seus estudos e ela trabalhou como professora.
“Quando eu decido fazer algo, eu faço”, disse ela num documentário sobre Emmanuel.
Ela é descrita como uma pessoa afetuosa e pé no chão pelos que a conhecem, que também destacam o seu charme e positividade.
Um deles, Gregoire Campion, conheceu-a   numa praia na cidade turística de Le Touquet há mais de 40 anos. Suas barracas de praia estavam próximas, e ele se lembra que a jovem Brigitte “não era festeira” e era “muito educada”.
Le Touquet continuou sendo parte da sua vida e a agora avó de sete netos passou muitos fins de semana lá com sua família. Ela estava ao lado de Emmanuel quando ele votou neste domingo.
É um lugar para se reunir com seu filho, engenheiro, e suas duas filhas, uma cardiologista e uma advogada, todos do seu primeiro casamento.
No entanto, a vida com seu marido político e o compromisso maciço da campanha continuam sendo um grande foco.
“Tenho sorte de compartilhar isso com Emmanuel, mesmo que, quando se trata de política, eu não tenha tido muita escolha”, disse, manifestando também o desejo de ajudar jovens desfavorecidos como primeira-dama.

Na tomada de posse, quando mão na mão, caminhavam num dos corredores do Palácio do Eliseu, ele olhou-a numa cumplicidade estonteante dizendo-lhe: "je t'aime!"





O filho de médicos que deve à avó a vocação de esquerda

Emmanuel Macron, o novo presidente de França, começou como inspetor dos impostos e trabalhou para o banco Rotschild.
Filho de dois médicos, foi o tempo passado em criança com a sua adorada avó materna, filha de um casal de analfabetos que chegou a diretora de um colégio, que alimentou a veia de esquerda de Emmanuel Macron. "Lembro-me da sua imagem. Da sua voz. Lembro-me das lembranças dela. Da sua liberdade. Da sua exigência", afirmava o agora novo presidente de França no livro Os Políticos também Têm Avó sobre a mulher que mais marcou a sua inclinação política. Educado num colégio de jesuítas, é na Universidade, em Sciences Po, que começa a militar no Movimento dos Cidadãos (MDC). A adesão ao Partido Socialista, essa, só chegaria mais tarde, aos 24 anos.
Assistente do filósofo Paul Ricoeur na universidade, Macron fará mais tarde a sua tese sobre Maquiavel e mantém até hoje a paixão pela filosofia. Mas é na muito pragmática inspeção dos impostos que começa a trabalhar em 2004. Quatro anos mais tarde, mudança de rumo: Macron aceita o convite para trabalhar no banco Rotschild, onde depressa chega a sócio-gerente.
Um sucesso fulgurante que não o impede em 2012 de aceitar o convite de François Hollande para ser secretário-geral adjunto da presidência. Os dois homens tinham-se conhecido cinco anos antes num jantar em casa de Jacques Attali, o antigo conselheiro de François Mitterrand. Aos 34 anos, o jovem secretário chama as atenções dos media e até tem direito a vários artigos nos jornais - com todos a destacar as suas posições "não muito de esquerda".
Dois anos depois, Macron, hoje com 39 anos, é nomeado ministro da Economia de Manuel Valls, destacando-se pelo seu "liberalismo social", como destacava o Le Monde em 2015. Os choques com o governo sucedem-se e em agosto de 2016, quatro meses depois de anunciar a criação do seu movimento En Marche!, Macron demite-se. A 16 de novembro anuncia a candidatura às presidenciais. Candidato mais votado na primeira volta de 23 de abril, na segunda derrotou Marine Le Pen, com 65,5% dos votos, contra os 34,5% da candidata da Frente Nacional.

Brigitte Trogneux, a mulher que conheceu quando ela foi sua professora de Francês no liceu, esteve sempre ao lado de Macron na campanha

Casado com Brigite Trogneux, 24 anos mais velha do que ele e que conheceu no liceu onde esta foi sua professora de francês, Macron gosta de brincar com o facto de ter sete "netos". O casal tem surgido nas capas de várias revistas cor-de-rosa durante a campanha, não deixando que os rumores sobre uma relação homossexual de Macron surgisse em fevereiro. Durante a campanha, Macron prometeu oficializar o cargo de primeira-dama para Brigitte.
Pianista de grande talento, Macron apresentou-se na campanha como capaz de escolher "o melhor da direita, o melhor da esquerda e até o melhor do centro". Uma fórmula que pediu emprestada a De Gaulle e que o levou ao mesmo Eliseu que já foi morada do general.






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 https://www.youtube.com/watch?v=mD17FHE12eo

                                              Lola

sábado, 13 de maio de 2017

O mar não e de ninguém




O mar não é de ninguém


O mar não e de ninguém
Ninguém e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar

O mar não e de ninguém
Ninguém e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar

Se eu um dia não voltar
Desenha o meu nome no chão
Pede um desejo ás ondas do mar
E guarda na tua mão
Sempre que a noite vier, 
quando nao houver luar
Dá o desejo a uma onda qualquer 
e pede-lhe para eu voltar
Trago o destino das águas
No aguardar dos rochedos
Dizem que o tempo é que apaga as mágoas
Quem será que apaga os medos?

O mar não e de ninguém
Ninguém e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar

O mar não e de ninguém
Ninguém e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar

Deixa os sorrisos correrem pela praia
Nem aqueles que la sabem navegar
E se depois eu vier
Que o temporal acabou
Foi porque o mar te escutou
Por te querer saber deitada

E havemos nós de fazer
Se a sorte está decidida
As mãos que nos têm presos a morte
São de quem nos prende à vida
Trago um coral de ansiedades

O mar não e de ninguém
Maior que a dor que vem nas tempestades
Ter de esperar pela chegada
Ninguem e dono do mar
O mar não e de ninguém
Andam rezas pela praia
Nem aqueles que la sabem navegar  
Ninguem e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar
Vou embalado pelo vento  Ando sem hora marcada
Nem aqueles que la sabem navegar
Na barca anda um lamento 
 Que nem eu sei de onde vem
A aguardar pela chegada
Faz-se o destino cinzento
Sempre que a barca não vem
De ninguém... de ninguém...

O mar não e de ninguém
O mar não e de ninguém
Ninguem e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar

Ninguem e dono do mar
Nem aqueles que la sabem navegar
O mar não e de ninguém
Ninguem e dono do mar








Sabes, Pedro?
Nunca tinha pensado que o Mar nao pertença a ninguém...mas parando um pouco nas linhas ténues do pensamento, revisito o Mar como realidade que não sendo, efectivamente, de ninguém, porque especificamente a sua liberdade não se enquadra na clausura a que alguns o quereriam submeter...
...ele é,  irremediavelmente, de todos nos!

Daqueles que, como nos, o adoramos na sua infinitude impossível, no seu conforto ternurento e criticamente revoltado!
Eu e tu adoramos o MAR!

Nao é assim, My Dear?




                                               Lola

sexta-feira, 12 de maio de 2017

E agora, José?



JOSÉ

E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
Você que faz versos,
que ama, protesta?

e agora, José?
Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?
Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;

quer ir para Minas,
Minas não há mais.

José, e agora?
Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse…
Mas você não morre,
você é duro, José!
Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja do galope,
você marcha, José!

José, para onde?


CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE, 
in ANTOLOGIA POÉTICA (José Olympio, Rio de Janeiro, 1978)



...Para o desejo do encontro,

para a necessidade de 

momentos de delicada solidao, 

para a esperança colorida,

para a surpresa e o mistério, 

para a nudez da realidade solitária, 

para a urgência do cuidar o outro,


para o suave amanhecer, 

para o ser reconfortante reencontro...
...com o Mar!

(Sabes? O Mar nao secará nunca no nosso coração...)


Nao será, simplesmente,  isto, José?






                                               Lola

terça-feira, 9 de maio de 2017

Amar pelos dois




Amar pelos dois


A noite aproximou-se devagarinho e Rita nem deu pela sua chegada! 
Há já uns dias que se sentia inebriada por uma melodia que a embalava nao só pela simbologia das palavras mas, e sobretudo, pela carga emocionalmente doce com que brotava daquele ser!
Não era, em seu entender, muito comum encontrar palavras que se soltam da alma como suspiro de encantamento  e se tornassem voo!
Mas esta era a melodia do ser que gosta, que ama mas que é suficientemente capaz de se transformar em si mesmo e no outro que ama...pois se o amar pressupõe o amado, este último nao tem que  aceitar sê-lo para que o amor exista, persista e insista!
Emoção, sensibilidade, generosidade e abundância de existir era o que Rita encontrava na melodia que, baixinho, fazia as delicias do seu estado pré sono...ou quiçá... antecipando o sonho recorrente, mas divergente, com Pedro - esse ser de uma extrema candura que um dia cruzara a sua vida sem nada prometer, exigir ou hipotecar.
Noite!
Noite que se enlaça delicadamente!
A melodia vai, agora, ecoando num conteúdo de sentido invulgar... a possibilidade da generosidade e enfrentamento de saber e entender amar pelos dois... numa mistura de quereres espaço temporais que dispensam o retorno seguro, as palavras gastas em narrativas do efémero saltitante!
Hoje, ao anoitecer, Rita tivera um pequenino desejo...partilhar algo de Belo que foi sentindo ao longo do dia e que foi apenas seu...
Vamos ouvir em conjunto, Pedro?
Senta-te aí...pode ser na orla do Mar que se estende num infinito de brilho ou junto ao pequeno e desgastado beiral  de madeira carcomido pelo tempo, apreciando  a chuva miudinha cair um pouco inibida e, surpreendentemente,  desastrada!

Amar Pelos Dois
Salvador Sobral
  

Se um dia alguém perguntar por mim
Diz que vivi para te amar
Antes de ti, só existi
Cansado e sem nada para dar

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Meu bem, ouve as minhas preces
Peço que regresses, que me voltes a querer
Eu sei que não se ama sozinho
Talvez devagarinho possas voltar a aprender

Se o teu coração não quiser ceder
Não sentir paixão, não quiser sofrer
Sem fazer planos do que virá depois
O meu coração pode amar pelos dois

If one day someone asks about me Tell them I lived to love you Before you, I only existed Tired and with nothing to give My dear, listen to my prayers I beg you to return, to want me again I know that one can’t love alone Maybe slowly you might learn again My dear, listen to my prayers I beg you to return, to want me again I know that one can’t love alone Maybe slowly you might learn again If your heart doesn’t wish to give in Not to feel passion, not to suffer Without making plans of what will come after My heart can love for the both of us



Sabes, Pedro...
...mesmo que nunca quebremos a muralha gelada das distancias...
Mesmo que no conto das nossas vidas nunca se vislumbrem esperançadamente caminhos 
que possam cruzar-se 
dando sentido 
à utopia do desejo...

Mesmo assim...


O meu coração quer, pode e vai, certamente, amar pelos dois! 

Adoro-te, my dear!



                                               Lola