terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Se Tu Viesses Ver-me...



Se Tu Viesses Ver-me...

Se tu viesses ver-me hoje à tardinha, 

A essa hora dos mágicos cansaços, 

Quando a noite de manso se avizinha, 

E me prendesses toda nos teus braços...


Quando me lembra: esse sabor que tinha 

A tua boca... o eco dos teus passos... 

O teu riso de fonte... os teus abraços... 

Os teus beijos... a tua mão na minha...


Se tu viesses quando, linda e louca, 

Traça as linhas dulcíssimas dum beijo 

E é de seda vermelha e canta e ri


E é como um cravo ao sol a minha boca... 

Quando os olhos se me cerram de desejo... 

E os meus braços se estendem para ti...


Florbela Espanca, in "Charneca em Flor"


Se Tu Viesses Ver-me...

 eu dar-te-ia a minha saudade de ti,
a minha ausência de te querer,
a minha solidão de te esperar,
o meu rosto de viver esta utopia, 
num sorriso que renovo 
a cada instante
com a esperança de sentir 
os teus braços
 enlaçar-me num laçarote
 colorido pelo desejo!

Se tu viesses, my dear...
...adormeceria, por certo,
 no aconchego doce 
do teu corpo 
de cor ébano 

sabor a maresia! 



                                             Lola

domingo, 15 de janeiro de 2017

Dia teu





Dia Teu

Rita esperara cuidadosamente pelas 00:00 horas daquele dia para ser a primeira a desejar um dia especial a Pedro que, muito provavelmente,
  ainda não sentira, de modo completo, a passagem de um novo ano na sua existência!

Com uma certa avidez, resultante da espera, 

mal o dia se tornou no seguinte escreveu 
com doçura e SAUDADE tamanha 
que as palavras, como era seu jeito, fluíram escorregadias pelo seu coração demasiadamente embrenhado de
 ondinhas de racionalidade:

"Se o tempo que se aproxima fosse sabor seria, inevitavelmente, maresia...


Se o momento a chegar fosse um numero, seria par...


Se o dia que agora adormece, para amanhecer mais tarde, fosse uma melodia seria, por certo...


Wonderful Tonight by Eric Clapton!"








A resposta chegou denotando um agrado surpreendido mas reconfortante:

So tu...

Porque tu mereces, my dear!









                                        Lola

Cansada


Cansada

Estou Cansado

Estou cansado, é claro, 

Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. 
De que estou cansado, não sei: 
De nada me serviria sabê-lo, 
Pois o cansaço fica na mesma. 
A ferida dói como dói 
E não em função da causa que a produziu. 
Sim, estou cansado, 
E um pouco sorridente 
De o cansaço ser só isto — 
Uma vontade de sono no corpo, 
Um desejo de não pensar na alma, 
E por cima de tudo uma transparência lúcida 
Do entendimento retrospectivo... 
E a luxúria única de não ter já esperanças? 
Sou inteligente; eis tudo. 
Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, 
E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá, 
Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.

Álvaro de Campos, in "Poemas"


Rita leu nesse dia o poema...
e lembrara o cansaço existencial 
do des-respeito que outrora tiveram com ela! 
E era tal a tentativa de a humilhar
 que Rita já quase perdera a esperança de ser feliz!

Um dia, 
forçadamente e em jeito profissional, 
conhecera Pedro que, sem querer,
 lhe mostrara a doçura de um olhar, 
o enlevo de uma conversa, 
o encantamento de um diálogo...
...a ternura de um abraço 
como só ele sabia partilhar!

Rita aninhava o seu corpo 
sempre que um abraço chegava 
e permitia-se pedir,
 em silêncio,
 que 
o tempo pudesse, 

silenciosamente, 
agradavelmente,
demoradamente;
inexplicavelmente, 
mas...
repetidamente...


esquecer-se de continuar!





                                                Lola

Girassol



Girassol

O relógio marcava exactamente 00:00 quando entrou em casa regressando solitária do encontro com aqueles que brilharam concluindo mais uma etapa da sua vida! 

No palco foi vendo o orgulho daqueles cujo nome era dito bem alto e o sorriso de quem tanto lutou com eles para que futuros pudessem brilhar num sucesso desejado!


Rita sentia-se feliz, demasiadamente feliz!


Não só por aquele encontro mas e, sobretudo, pela recordação....

...era sempre confortável rever na sua memória uma noite ida, também ela de entrega de diplomas a quem já completara a etapa adolescente!

Nessa noite, de um tempo ameno e  tranquilo, Pedro aproximara-se de Rita e, com o sorriso doce e sereno, oferecera-lhe o girassol que há bem poucos minutos recebera!


Rita ficou esvaziada pela surpresa...levantou-se, deu-lhe um beijo e disse em jeito de sussurro:

"És um amor!"

Nem esperou pela resposta...olhou o girassol enquanto Pedro, com alguma pressa, regressava para onde Rita assumidamente desconhece pois ele é o MAR que a acompanha cada momento sempre que ela o deseja....

....mesmo com interditos!

Pedro começava, talvez inexplicável e surpreendentemente,  a ser cada vez um brilho colorido na existência de  Rita mesmo que ele não o soubesse e ela o desejasse teimosamente ... sem lhe pedir para concordar!


Cada pétala do girassol foi caindo nos dias que se seguiram! Rita, porém, sorria a cada instante que com ele se cruzava na entrada de sua casa!


Um simples girassol...os afastava e unia!

Para sempre?
Talvez...
...enquanto Rita teimasse em manter o desejo de sentir Pedro em si mesma!

Gosto de ti, my dear!






                                               Lola