Amizade verdadeira entre um
homem e uma mulher
Sei que as pessoas se confundem num mundo já ele
próprio confuso, mas a amizade é uma coisa séria, se preservada dura epopeias,
se cultivada é inexplicável e se sentida não tem género. É ainda impossível uma
amizade entre um homem e uma mulher?
A amizade é um amor diferente, nem é para mais nem para menos, sente-se
noutra medida. Sofre-se como se fossemos o outro a sofrer, ganhamos com as
conquistas dele, somos felizes se lhes sentirmos as gargalhadas, e um dos
maiores princípios é vê-los bem... aos nossos amigos, porque é dessa forma que
também estaremos felizes.
Os nossos amigos não têm diferenças, nem sequer género, mas na maior parte
das vezes (ou sempre) parece quase impossível que um homem e uma mulher não
possam partilhar uma amizade verdadeira, que lhes desconfiamos de imediato
segundas intenções. Não se percebe que existe um laço gigantesco e inquebrável
que pode unir pessoas do sexo oposto e que pode apenas ser a amizade, que se
ouve logo um burburinho "ah é mais que isso...", como se pudesse
existir algo mais que a amizade.
Um rapaz e uma rapariga podem realmente ser amigos, carrego comigo um
testemunho digno disso mesmo, capaz de entrar para o Guiness, se porventura
existissem recordes na amizade. "Ela" é a Leticia, e não, não
namoramos. Temos que dar esta resposta tantas vezes que já a sabermos de cor.
Também não trocamos roupa interior nem as outras coisas que levantam as dúvidas
de quem não percebe que a maior das bençãos é ela poder conceder-me uma amizade
em vias de extinção. Sofro-lhe as ausências, sinto a perda de não poder
partilhar os dias todos com ela, porque quando estamos juntos não escasseamos
de felicidade, as gargalhadas podem conter décibeis que não são permitidos por
lei, mas o que perdemos em poluição sonora ganhamos em cumplicidade.
Ela consegue perceber quando o meu coração sofre uma arritmia mesmo antes
de acontecer e se o encontro que vou ter dali a 15 dias valerá a pena.
Escolhe-me a melhor camisa naquele momento, porque segundo ela é entendida nos
gostos da outra pessoa. Eu dou-lhe os melhores conselhos, não consinto ver-lhe
uma lágrima a escorrer-lhe pelos nosso rosto e sei que vai sempre correr tudo
bem independentemente do que ela leve vestido, porque lhe conheço a presença e
a atitude, a genialidade do sentido de humor ou a cor dos olhos que vai dar
segredo às inseguranças que lhe vão surgir, porque eu sei que elas vão
acontecer. Serei o porto de abrigo para a sms — urgente, mas sei que ela não
vai carregar no botão, nem é por vergonha, é porque na hora da verdade ela não
teme... ela enfrenta. Conheço-lhe os maiores segredos que o coração lhe guarda
e abro-lhe sempre a cortinas do meu de forma a nem deixar uma fisga fechada.
Brindamos e outras vezes rimos de todas as vezes que nos dizem: "...mas
porque não tentam? ficam tão bem juntos...". Na verdade nós já estamos
juntos e de uma forma insubstituível, só que não percebem. Nessas alturas ela
já é mais descarada e consegue rir-se sem explicar às pessoas que um rapaz e
uma rapariga podem ser somente amigos, mas existe sempre alguém que lhe
desconhece a essência e nem o faz por mal, é porque nem percebe a amizade.
Põe a música que eu gosto, fuma a meias comigo (e sei o quanto isso lhe
custa , sofre com as minhas perdas, exulta com as minhas vitórias, sorrimos ao
mesmo tempo, percebe as piadas que só nós os dois entendemos, acrescenta-me bom
gosto sem que eu tenha que nada retribuir e sabemos fazer uma coisa juntos que
só o consegue quem dignifica a amizade ao mesmo tempo que a sente: silêncios,
aqueles que demoram e não incomodaram porque nem os sentimos, quando estamos
lado a lado, daqueles que parecem interromper a vida e numa outra ocasião
alguém teria que tossir para que não parecesse mal, nós sabemos fazer isso...
em silêncio.
Quando parto sei que lhe deixo uma parte de mim e trago a dela comigo, mas
a distância não interrompe a intensidade. É intrínseco isto. Preciso dela por
cada encontro, nem é que sejam muitos, mas ela nunca falha na cor da camisa ou
na fragância, creio que é por saber as mulheres de cor ou por me conhecer tão
bem. Ela critica-me na frente e defende-me nas costas, eu faço o mesmo porque
nos é exigido assim.
Aprecio-lhe aquele jeito bravo ou rebelde, a frontalidade, as inseguranças
e gosto de a ver refilar... umas vezes para mim, outras vezes para o ar, gosto
da forma como a cabelo dela sopra em uníssono com o vento, do reflexo das
coisas quando lhe resvalam no olhar. Admiro a forma como ela vê o mundo, como
exibe a opinião, como recua quando percebe que não é a correcta.
"Só se escreve assim quando estamos apaixonados por alguém",
também já ouvi esta, admito que o ênfase que lhe dou pode ganhar outros
sentidos, mas é porque a amizade que nos une é desmedida, contém mais exageros
e afecto que lacunas, tenho em mim que nada pode ficar por dizer, ou por
mostrar. A amizade entre um homem e uma mulher é das coisas mais
extraordinárias, o mundo devia parar para pensar que os amigos se escolhem, mas
a escolha não é feita pelo sexo, que um beijo no rosto é tão nobre e forte como
uma muralha, que uma amizade vale pela combinação e quando ela se acerta não há
jogo de lotaria que lhe faça frente, vale pela cumplicidade, pelo
companheirismo, pelos abraços a qualquer hora, pelas zangas que são pazes cinco
minutos depois.
Nunca poderei perguntar a um padeiro como se faz uma estante e é por isso
que consigo entender quem não nos percebe, quem nos troca o sentimento, porque
somos de géneros diferentes. Acredito que o facto de nós não vivermos em mundos
diferentes possa encurtar as semelhanças. Sei que as pessoas se confundem num
mundo já ele próprio confuso, mas a amizade é uma coisa séria, se preservada
dura epopeias, se cultivada é inexplicável e se sentida não tem género.
É ainda
impossível uma amizade entre um homem e uma mulher?
Texto de Marco Gil •
15/02/2016 - 12:02
in publico
Sera possível mesmo quando somos mais do que
amigos e menos do que amantes!
A inevitabilidade do amor Platónico...porque o
envolvemos
num pensamento delicioso
que é só nosso!
Simplesmente porque há...
um SE...
Lola