quinta-feira, 26 de março de 2020

Aparelhei o barco da ilusão



Aparelhei o barco da ilusão



Aparelhei o barco da ilusão
E reforcei a fé de marinheiro
Era longe o meu sonho, e traiçoeiro
O mar…

(Só nos é concedida esta vida
Que temos;
E é nela que é preciso
Procurar
O velho paraíso
Que perdemos.)

Prestes, larguei a vela
E disse adeus ao cais, à paz tolhida.
Desmedida,
A revolta imensidão
Transforma dia a dia a embarcação
Numa errante e alada sepultura...
Mas corto as ondas sem desanimar.
Em qualquer aventura
O que importa é o partir, não o chegar.

Miguel Torga

Encontrar-te-ei, no MAR...ao amanhecer...num dos teus passeios com que inicias o dia...e, por certo, iremos entardecer, fundindo-nos num abraço delicado e silenciosamente infinito. 

Prometes, my dear?


                                                Lola

Civilização



Civilização

Anos atrás, a antropóloga Margaret Mead foi perguntada por um estudante o que ela considerava ser o primeiro sinal de civilização em uma cultura. O aluno esperava que Mead falasse sobre anzóis, panelas de barro ou pedras de amolar. Mas não. Mead disse que o primeiro sinal de civilização em uma cultura antiga era um fêmur (osso da coxa) que havia sido quebrado e depois curado. Mead explicou que no reino animal, se você quebrar sua perna, você morre. Você não pode correr do perigo, chegar ao rio para beber ou caçar comida. Você é carne para animais rondando. Nenhum animal sobrevive a uma perna quebrada por tempo suficiente para o osso curar. Um fêmur quebrado que curou é prova de que alguém teve tempo para ficar com aquele que caiu, amarrou a ferida, levou-o em segurança e cuidou dele até se recuperar. Ajudar alguém através da dificuldade é onde a civilização começa, disse Mead. Estamos no nosso melhor quando servimos aos outros. Seja civilizado.

Ira Byock, no seu livro O Melhor Cuidado possível:
a busca de um médico para transformar o cuidado até o fim da vida (Avery, 2012)


                                                Lola

Menina




Menina

Menina em teu peito sinto o Tejo
E vontades marinheiras de aproar
Menina em teus lábios sinto fontes
De água doce que corre sem parar

Menina em teus olhos vejo espelhos

E em teus cabelos nuvens de encantar
E em teu corpo inteiro sinto feno
Rijo e tenro que nem sei explicar
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero te tanto
Que não vai haver menina para sobrar
Aprendi nos esteiros com Soeiro
E aprendi na fanga com Redol
Tenho no rio grande o mundo inteiro
E sinto o mundo inteiro no teu colo
Aprendi a amar a madrugada
Que desponta em mim quando sorris
És um rio cheio de água lavada
E dás rumo à fragata que escolhi
Se houver alguém que não goste
Não gaste, deixe ficar
Que eu só por mim quero te tanto
Que não vai haver menina para sobrar.
Pedro Barroso
Até sempre, Trovador!

                                                Lola

Tenho saudades tuas.





Tenho saudades tuas


Tenho saudades tuas. 
Uma saudade de alguns anos....que se espuma nos dias que te penso, junto ao MAR!
Não sei se pela falta que me fazes ou pelo grito do coração que me apertava deliciosamente num abraço incomparável. 
Confesso... Mas tenho saudades tuas. Todos os dias....várias vezes ao dia.
Ainda hoje acordei assim, com tantas saudades tuas. Estive contigo no sonho...mas isso não me bastou e acordei procurando-te num espaço que não conheces ainda ....numa saudade que, deveras, sentes numa distância que ambos sabemos...

Arrebatam-me as saudades.
Aquelas saudades em que quase dói fisicamente. Daquele tipo de saudade em que as horas parecem eternas e os dias se transformam em semanas....em anos de diatancia... 

Hoje tenho saudades tuas. 
Tantas. Saudades do brilho dos teus olhos, dos teus braços que me envolvem, das tuas palavras que me aquecem. Saudades de te ver chegar e te dar o maior sorriso do mundo. Saudades de ficar ali só a olhar para ti em silêncio... E em silêncio falarmos tanto. - porque nos conhecemos tão bem...


Saudades de te dizer que tenho saudades. E saudades de não sentir saudades.
Hoje acordei assim, numa ambiguidade de sentimentos agri doce... Por te ter e não te ter. Por seres e não estares.

Hoje eu só queria encontrar-me em ti...no teu olhar ternamente moreno e brilhante de carinho! 

Saudade de estar...
Contigo. Ou, simplesmente...EM TI!

                                             Lola

E as pessoas ficaram em casa




E as pessoas ficaram em casa 

"E as pessoas ficaram em casa
E leram livros e ouviram

E descansaram e se exercitaram

E fizeram arte e brincaram
E aprenderam novas maneiras de ser
E pararam
E ouviram fundo
Alguém meditou
Alguém orou
Alguém dançou
Alguém conheceu a sua sombra
E as pessoas começaram a pensar de forma diferente
E pessoas se curaram
E na ausência de pessoas que viviam de maneiras ignorantes,
Perigosas, sem sentido e sem coração,
Até a Terra começou a se curar
E quando o perigo terminou
E as pessoas se encontraram
Lamentaram pelas pessoas mortas
E fizeram novas escolhas
E sonharam com novas visões
E criaram novos modos de vida
E curaram a Terra completamente"


Um poema de Kathleen O'Meara (1839-1888)


                                                Lola

Letreiro






Letreiro


"Porque não sei mentir,

Não vos engano:
Nasci subversivo.
A começar por mim – meu principal motivo
De insatisfação ,
Diante de qualquer adoração,
Ajuízo.
Não me sei conformar.
E saio, antes de entrar,
De cada paraíso"

Miguel Torga no poema Orfeu Rebelde, 
in A Criação do Mundo


                                                Lola