quinta-feira, 25 de agosto de 2016

No teu poema





No teu poema



No teu poema

Existe um verso em branco e sem medida

Um corpo que respira, um céu aberto

Janela debruçada para a vida

No teu poema existe a dor calada lá no fundo
O passo da coragem em casa escura
E, aberta, uma varanda para o mundo.
Existe a noite
O riso e a voz refeita à luz do dia
A festa da Senhora da Agonia
E o cansaço
Do corpo que adormece em cama fria.
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe o grito e o eco da metralha
A dor que sei de cor mas não recito
E os sonos inquietos de quem falha.

No teu poema
Existe um canto, chão alentejano
A rua e o pregão de uma varina
E um barco assoprado a todo o pano
Existe um rio
O canto em vozes juntas, vozes certas
Canção de uma só letra
E um só destino a embarcar
No cais da nova nau das descobertas
Existe um rio
A sina de quem nasce fraco ou forte
O risco, a raiva e a luta de quem cai
Ou que resiste
Que vence ou adormece antes da morte.

No teu poema
Existe a esperança acesa atrás do muro
Existe tudo o mais que ainda escapa
E um verso em branco à espera de futuro.



JOSÉ LUÍS TINOCO - POEMA


Para ouvir:


Tirado daqui:
https://www.youtube.com/watch?v=UMz5jh3WGr0







                                               Lola

segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Uma ideia é uma visão




Uma ideia é uma visão

Hoje chegou a vez do Gil se encontrar com o escritor José Luís Peixoto. 
As perguntas? Essas são curiosas, como sempre  

O que é, para ti, uma ideia?
Uma ideia é uma visão. Para ser partilhada, precisa de ser concretizada em palavras ou em signos de qualquer código, mas as ideias começam a existir antes das palavras e dos signos. Depois, quando há palavras, as ideias habitam-nas. Então, essa visão inicial passa a ser uma espécie de paisagem, mais ou menos nítida. As palavras são janelas abertas sobre ela.

Conta-me uma história em que penses, a que regresses com frequência.
Essas histórias são sérias e muito preciosas. São o centro do que nos interessa, são o que não conseguimos ultrapassar. Há relativamente pouco tempo, descobri que não tenho de responder a todas as perguntas que me fazem. Antes, não sei porquê, achava que tinha a obrigação de o fazer. Esta descoberta singela é uma “história” a que tenho regressado com frequência nos últimos tempos, tenho desfrutado bastante dela.

O que é que gostavas de preservar?
Escrever e publicar palavras em papel é uma forma de tentar parar o tempo, de tentar preservar. Essa, no entanto, é uma ilusão. Não é possível parar o tempo. Tudo muda, tudo passa, tudo morre. Não faço estas afirmações com amargura, creio que tenho retirado o partido possível desta transitoriedade, deste efémero. A esse respeito, não tenho muitos arrependimentos. Periodicamente, por diversos meios, chego à avaliação daquilo que é mais importante para mim, que quero preservar. É nesses períodos que inicio a escrita de um livro. Então, mesmo sabendo que esses assuntos, ideias, palavras e imagens não chegarão ao fim da eternidade, anima-me a ilusão de estar a preservar alguma coisa, de estar a difundi-la, de estar a soprar-lhe um pouco mais de vida. Normalmente, tratam-se de princípios, convicções.

E qual é a tua memória mais antiga? 
A primeira memória que julgo recordar é de quando tinha quatro anos. Lembro-me de pensar: “Tenho quatro anos”. Sei os detalhes dessa hora e sou capaz de convocar essa sensação com alguma clareza.


Entrevista por Gil Sousa

Foto de Rita Carmo



 Lola

Ciência e Mar




Ciência e Mar

CIÊNCIA EXPLICA COMO A PRAIA PODE MUDAR NOSSOS CÉREBROS E SAÚDE MENTAL

Alguma vez você já passou um dia na praia e voltou para casa sentindo-se relaxado e rejuvenescido? Você pode concordar prontamente que a praia tem um efeito calmante, mas também sabe que estar na praia pode ter um enorme efeito sobre a sua saúde e bem-estar, e pode mesmo mudar seu cérebro. Vamos dar uma olhada em alguns dos benefícios cientificamente apoiados que a praia pode oferecer.


Professor Lora Fleming is Director of the European Centre and Chair of Oceans, Epidemiology and Human Health at the University of Exeter.

Lora Fleming, da Universidade de Exeter na Inglaterra, diz que a ideia de que a praia ajuda a nossa saúde está bem estabelecida. Os médicos do século XVIII costumavam prescrever viagens para o oceano para visitar “hospitais de banho”. Hospitais de banho eram clínicas especialmente projetadas que ofereciam tratamentos banho de água salgada.
Fleming observa, no entanto, que os cientistas só começaram a olhar para os benefícios de saúde do oceano experimentalmente nos últimos tempos.
1.O córtex pré-frontal do seu cérebro é ativado






O córtex pré-frontal, uma área do cérebro associada com a emoção e autorreflexão (bem como outras funções) é ativado quando os sons do oceano são reproduzidos. Isso foi provado através de pesquisas de cientistas com participantes de estudos que foram expostos a sons e ruídos do oceano.


2.As ondas dos oceanos geram íons negativos





A sensação de paz que temos na praia pode ser um resultado de alterações moleculares em nossos corpos. As ondas do oceano produzem íons negativos. Íons negativos aceleram a capacidade do nosso corpo de absorver oxigênio. Eles também equilibram os níveis de serotonina; uma substância química produzida pelo organismo que está relacionada com o humor e o stress. Esta é uma das razões pelas quais estar na praia foi ligada, por cientistas, à energia mental positiva e uma sensação geral de saúde e bem-estar. Pode até fazer-nos dormir melhor.


3.Os níveis de seu hormônio do estresse, cortisol, diminuem






A razão pela qual as praias têm um efeito tão calmante sobre nós pode ser por causa do som das ondas.
Os sons mais relaxantes e agradáveis de ouvir são aqueles que têm padrões de ondas previsíveis. O som também deve ser suave em volumes e frequências harmônicas em intervalos regulares. As ondas do oceano são dessa forma. Regulares e suaves de ouvir.
O som do mar pode ter um efeito ainda mais profundo no emocional, de acordo com a neurocientista Shelley Batts. O ruído do oceano provavelmente desencadeia memórias profundas ou sensações de relaxamento e segurança. Algumas pessoas podem até dizer que recordam o útero e os batimentos cardíacos de sua mãe.
Há um hormônio do estresse chamado cortisol. Alguns ruídos, tais como tráfego e o ruído de avião pode acioná-lo. Quando esse hormônio é liberado, problemas de saúde, tais como úlceras e doenças cardíacas podem ocorrer. O barulho calmante do oceano trabalha para diminuir os níveis de cortisol. Desta forma, o oceano pode ter um efeito positivo sobre nossa saúde em geral e evitar potenciais problemas de saúde.


4.A superfície plana do oceano te acalma








A superfície plana do oceano pode também dar-nos uma sensação de segurança. O neurocientista Michael Merzenich diz que os seres humanos se sentem seguros quando estão em lugares que não são complexos. Na floresta, seres humanos precisam fugir de animais predadores; nas cidades, há bandidos e vilões com os quais devemos tomar cuidado; no entanto, na praia podemos enxergar milhas, e isso nos dá paz de espírito. Não há ameaças potenciais.
“Somos construídos, neurologicamente, para normalizar o nosso ambiente e controla-lo.”, diz Merzenich. “Quando olhamos para o mar, ou estamos ao longo da costa, nós estamos em um ambiente previsível e estável.”
Traduzido pela equipe de O Segredo – Fonte: Life Hack

Luiza Fletcher • 24 de junho de 2016



                                               Lola

sábado, 6 de agosto de 2016

So Long, Marianne



So Long, Marianne

Até já, Marianne: Leonard Cohen despediu-se da sua musa dos anos 1960

Conheceram-se na ilha grega de Hidra no início da década de 1960. Ele, canadiano, ela norueguesa. Seriam amantes durante os anos seguintes, seriam amigos até ao fim. O dela chegou dia 28 de Julho. Marianne Ihlen morreu aos 81 anos. "Encontrar-te-ei pelo caminho", escreveu-lhe Cohen

Na ilha de Hidra, recordou Marianne, "banhámo-nos, brincámos, bebemos, discutimos". DR
Havia uma Marianne real. Chamava-se Marianne Ihlen, era norueguesa e morreu dia 28 de Julho, aos 81 anos, em Oslo. Foi para ela que Leonard Cohen escreveu So long, Marianne, editada em 1967 e incluída no álbum de estreia do cantor canadiano. “Your letters they all say that you’re beside me now / Then why do I feel alone?, diz a canção sobre o amor e os desencontros que os dois viveram desde que, no início dos anos 1960, se encontraram na ilha grega de Hidra. Quando uma leucemia fulminante a vitimou, Marianne não estava sozinha. Tinha a família e amigos próximos à sua volta. E, ainda consciente, ouvira a carta que o velho amigo e amante lhe endereçara.
Quando lhe foi diagnosticada a leucemia incurável, poucas semanas antes da morte, o realizador norueguês Jan Christian Mollestad, que prepara um documentário sobre a sua vida, contactou Cohen a informá-lo da proximidade do fim. A resposta chegou rápida. O El País transcreveu as palavras do cantor e poeta.
“Bem, Marianne, chegámos a este ponto em que somos tão velhos que os nossos corpos se desfazem; penso que te seguirei muito em breve. Quero que saibas que estou tão próximo de ti que, se estenderes a tua mão, creio que conseguirás tocar a minha. Sabes que sempre te amei pela tua beleza e sabedoria, mas não preciso de alongar-me, porque já sabes tudo isso. Quero apenas desejar-te boa viagem. Adeus, velha amiga. Com todo o amor, encontrar-te-ei pelo caminho”.
Depois da morte, como dá conta a página de Facebook de Leonard Cohen, Mollestad endereçou-lhe uma carta em que o informava do falecimento, contando que, quando leram a Marianne o que lhe escrevera, ela sorriu “como só Marianne sabia sorrir” e ergueu a mão para tocar a mão do amigo, que Cohen dizia tão próxima. 


Marianne Ihlen chegou à ilha de Hidra com o seu namorado de então, o escritor norueguês Axel Jensen, e o filho bébé de ambos. Tinha 25 anos. Pouco depois, abandonada por Axel - que, diz a lenda, iniciara uma relação com a namorada de Cohen -, aproximar-se-ia daquele canadiano praticamente da mesma idade, um dos jovens artistas e boémios que pululavam pela ilha no início da década de 1960. Nos anos seguintes, em Hidra, mas contando também com temporadas em Nova Iorque ou Montreal, os dois seriam amantes e serviriam de inspiração mútua. Cohen considerava-a a sua musa. Escreveu para ela So long, Marianne ou Bird in the wire e dedicou-lhe o seu livro de poesia Flowers for Hitler, publicado em 1964. 
“Esses anos foram realmente bons. Muito bons”, disse Marianne Ihlen numa entrevista ao escritor Kari Hesthamar, em 2006. “Sentámo-nos ao sol e deitámo-nos ao sol, andámos ao sol, ouvimos música, banhámo-nos, brincámos, bebemos, discutimos. Escrevemos e fizemos amor”. Acrescentou: “Durante cinco anos não tive sapatos nos pés, sabe. E conheci muitas pessoas maravilhosas. Agora foram lançadas ao vento. Algumas estão mortas. Muitas estão mortas”.
contracapa de Songs From a Room (1969), o segundo álbum de Leonard Cohen, mostra uma jovem mulher que sorri para a câmara, sentada à máquina de escrever num quarto modesto onde o branco impera. O sorriso é de Marianne, a máquina era de Cohen, o quarto era grego.
https://s.publico.pt/NOTICIA/1740503 https://s.publico.pt/musica/1740503 https://s.publico.pt/culturaipsilon/1740503

Fotografia de Leonard Cohen usada na contracapa do álbum Songs from a Room de 1969
MÁRIO LOPES, Publico 
06/08/2016 - 15:19

Com Oslo palco de rebeliões juvenis, Marianne Ihlen e Axel Jensen, conhecido escritor norueguês, fogem para a ilha de Hydra, Grécia, onde vários artistas internacionais se juntavam habitualmente, e compram uma pequena casa branca onde Axel escreve. Anos depois, Axel sai de Hydra abandonando Marianne e o filho de seis meses de ambos. Certo dia, Marianne estava na mercearia e recebe um convite de um homem para se juntar ao grupo de pessoas que está sentado na rua. Esse homem era Leonard Cohen. Leonardo Cohen diz-lhe que ela é  a mulher mais bonita que já viu e mais tarde vivem juntos no Canadá, com o filho de Marianne. Durante os anos 60 vivem entre Montreal, Nova Iorque e Hydra e a canção “So Long, Marianne” é composta, muito tempo antes de Leonard Cohen terminar a relação. A colecção de poemas Flowers for Hitler de Leonard Cohen é dedicada a Marianne. Em entrevista, Marianne Ihlen afirmou “He taught me so much, and I hope I gave him a line or two.”


Marianne Ihlen faleceu na semana passada. Como homenagem, a página de Facebook do músico encheu-se de memórias, poemas e várias outras formas de celebração da vida.


Kari Hesthamar, autor de So Long Marianne – A Love Story e amigo de Marianne, relembra:
“Listening to Leonard Cohen’s songs, it feels as though he’s singing precisely to you. Marianne had that gift: she made you feel that you were seen; she made you become a better version of yourself. With her eye for beauty, she made everything around herself beautiful. I remember how she put together a simple salad or an omelette, the light-footed, dancing way she moved, the laughter and the gravity. She spoke of how love doesn’t end. Relationships end, people die, but the love you have received remains within you, a foundation to be built upon.”
Jan Christian Mollestad, que se encontra a realizar um filme sobre a vida de Marianne, escreveu uma carta a Leonard Cohen, onde lhe comunica a morte de Marianne, imortal na sua música.
“Dear Leonard
Marianne slept slowly out of this life yesterday evening. Totally at ease, surrounded by close friends.
Your letter came when she still could talk and laugh in full consciousness. When we read it aloud, she smiled as only Marianne can. She lifted her hand, when you said you were right behind, close enough to reach her.
It gave her deep peace of mind that you knew her condition. And your blessing for the journey gave her extra strength. Jan and her friends who saw what this message meant for her, will all thank you in deep gratitude for replying so fast and with such love and compassion.
In her last hour I held her hand and hummed Bird on a Wire, while she was breathing so lightly. And when we left he room, after her soul had flown out of the window for new adventures, we kissed her head and whispered your everlasting words
So long, Marianne”


A musa...

Marianne Ihlen, 81 anos

A melodia...

Ver AQUI: https://www.youtube.com/watch?v=cZI6EdnvH-8


O cantor/amante...

Leonard Cohen
                                                Lola