quinta-feira, 30 de julho de 2015

Cada um...









Cada um...



"Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, pois cada pessoa é única
e nenhuma substitui a outra.
Cada um que passa em nossa vida,
passa sozinho, mas não vai só
nem nos deixa sós.
Leva um pouco de nós mesmos,
deixa um pouco de si mesmo.
Há os que levam muito,
mas há os que não levam nada.
Essa é a maior responsabilidade de nossa vida,
e a prova de que duas almas
não se encontram ao acaso.
"


(Antoine de Saint-Exupéry)


Entraste pelo MAR da minha vida silenciosa e 

discretamente como que num desejo de porto de 

abrigo 

numa manha de Setembro soalheiro...

Não mais ficaste so...

Não mais embalei, com o olhar profundo e em vão as 

ondas azuladas do infinito onde o céu se deixa beijar 

pelo mar!

Não mais fiquei vazia de vontade ...de leveza... de 

frescura do encontro sentidamente procurado

Decididamente, continuas-me numa

 esperança luzidia 

que me amanhece com o teu sorriso 

pintado de simplicidade!



                                              Lola

Declarações de Amor







AS MAIORES DECLARAÇÕES DE AMOR DA LITERATURA UNIVERSAL


Pedimos aos leitores e colaboradores da Revista Bula que apontassem, entre passagens literárias memoráveis, quais eram as maiores declarações de amor da história da literatura. Na lista, aparecem personagens dos mais díspares perfis, em comum entre eles, apenas a paixão flamejante. De Humbert Humbert, personagem de Vladimir Nabokov, descrevendo Dolores Haze, em “Lolita”— o mais citado —, até a metáfora da pedra de Bolonha, do romance “Os Sofrimentos do Jovem Werther”, de Goethe, que imortaliza não apenas o amor de Werther por Carlota, mas todos os grandes amores da literatura universal. Abaixo, a lista baseada no número de citações e uma pequena amostra do amor incendiário dos personagens selecionados.
Carta a D.

André Gorz
(De André Gorz para Dorine Keir)

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher. Eu só preciso lhe dizer de novo essas coisas simples antes de abordar questões que, não faz muito tempo, têm me atormentado. Por que você está tão pouco presente no que escrevi, se a nossa união é o que existe de mais importante na minha vida?

Primo Basílio

Eça de Queiroz
(De Basílio para Luísa)

Que outros desejem a fortuna, a glória, as honras, eu desejoTEhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png a ti! Só a ti, minha pomba, porque tu és o único laço que me prende à vida, e se amanhã perdesse o teu amor, juro-te que punha um termo, com uma boa bala, a esta existência inútil. E Luísa tinha suspirado, tinha beijado o papel devotamente! Era a primeira vez que lhe escreviam aquelas sentimentalidades, e o seu orgulho dilatava-se ao calor amoroso que saía delas, como um corpo ressequido que se estira num banho tépido; sentia um acréscimo de estima por si mesma, e parecia-lhe que entrava enfim numa existência superiormente interessante.
Dom Quixote

Miguel de Cervantes
(De Dom Quixote para Dulcinéia)

Ó Dulcinéia del Toboso, dia da minha noite, glória da minha pena, norte dos meus caminhos, estrela da minha ventura (assim o céu te depare favorável em tudo que lhe pedires!), considera, te peço, o lugar e o estado a que a tua ausência me conduziu, e correspondas propícia ao que deves à minha fé! Ó solitárias árvores, que de hoje em diante ficareis acompanhando a minha solidão, dai mostras com o movimento das vossas ramarias de que vos não anoja a minha presença! Ó tu, escudeiro meu, agradável companheiro em meus sucessos prósperos e adversos, toma bem na memória o que vou fazer à tua vista, para que pontualmente o repitas à causadora única de tudo isto!
Romeu e Julieta

William Shakespeare
(De Julieta para Romeu)

Meu inimigo é apenas o teu nome. Continuarias sendo o que és, se acaso Montecchio tu não fosses. Que é Montecchio? Não será mão, nem pé, nem braço ou rosto, nem parte alguma que pertença ao corpo. Sê outro nome. Que há num simples nome? O que chamamos rosa, sob uma outra designação teria igual perfume. Assim Romeu, se não tivesse o nome de Romeu, conservara a tão preciosa perfeição que dele é sem esse título. Romeu, risca teu nome, e, em troca dele, que não é parte alguma de ti mesmo, fica comigo inteira.
Lolita

Vladimir Nabokov
(Humbert sobre Dolores Haze)

Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola aoVESTIRhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial.
Os Sofrimentos do Jovem Werther

Johann Wolfgang von Goethe
(Werther sobre Carlota)

Hoje não pude ir ver Carlota, uma visita inesperada me segurou em casa. Que havia a fazer? Mandei o meu criado ao encontro dela, só para ter junto de mim alguém que tivesse estado em sua presença. Com que impaciência o esperei, com que alegria tornei a vê-lo! Não tivesse vergonha e teria me atirado ao seu pescoço e coberto seu rosto de beijos. Falam que a pedra de Bolonha, quando exposta ao sol, absorve seus raios e reluz por algum tempo durante a noite. Dava-se o mesmo comigo e aquele rapaz. A lembrança de que os olhos de Carlota haviam pousado em seu rosto, em suas faces, nos botões de sua casaca e na gola de seu sobretudo, tornava-o tão querido, tão sagrado para mim!
http://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.pngA Trégua

Mario Benedetti
(Martín Santomé sobre Avellaneda)

Ah, os velhos tempos em que Avellaneda era só um sobrenome, o sobrenome da nova auxiliar (faz apenas cinco meses que anotei: A mocinha não parece ter muita vontade de trabalhar, mas pelo menos compreende o que a gente explica), a etiqueta paraIDENTIFICARhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png aquela pessoinha de testa ampla e boca grande que me olhava com enorme respeito. Ali estava ela agora, diante de mim, envolta em sua manta. Não me lembro de como era ela quando me parecia insignificante, inibida, nada além de simpática. Só me lembro de como é agora: uma deliciosa mulherzinha que me atrai, que me alegra absurdamente o coração, que me conquista.





                                                Lola


Beleza na Literatura



OS 15 TRECHOS MAIS BELOS DA HISTÓRIA DA LITERATURA

      
Perguntamos aos leitores, seguidores do Facebook e Twitter: qual o seu trecho de livro favorito. Mais de 2 mil participantes responderam a enquete. A partir da opinião dos convidados, sintetizamos a lista reunindo os 15 trechos mais citados. Os trechos estão classificados de acordo com o número de citações que obtiveram. Gabriel García Márquez foi o único autor que teve dois trechos entre os mais citados. O resultado nãoPRETENDEhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.pngser abrangente ou definitivo e corresponde apenas à opinião das pessoas consultadas.
O Pequeno Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry
Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz.
Cem Anos de Solidão, de Gabriel García Márquez
Muitos anos depois, diante do pelotão de fuzilamento, o Coronel Aureliano Buendía havia de recordar aquela tarde remota em que seu pai o levou paraCONHECERhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png o gelo. Macondo era então uma aldeia de vinte casas de barro e taquara, cons­truídas à margem de um rio de águas diá­fanas que se precipitavam por um lei­to de pedras polidas, brancas e enor­mes como ovos pré-históricos. O mundo era tão recente que muitas coisas careciam de nome e para mencioná-las se precisava apontar com o dedo.

Choveu durante quatro anos, onze meses e dois dias.
Orgulho e Preconceito, de Jane Austen
É uma verdade universalmente conhecida que um homem solteiro na posse de uma bela fortuna deve estar necessitando de uma esposa.
Meu Pé de Laranja Lima, de José Mauro de Vasconcelos
Matar não quer dizer a gente pegar revolver de Buck Jones e fazer bum! Não é isso. A gente mata no coração. Vai deixando deQUERERhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png bem. E um dia a pessoa morreu.
O Diário de Anne Frank, de Anne Frank
É difícil em tempos como estes: ideais, sonhos e esperanças permanecerem dentro de nós, sendo esmagados pela dura realidade. É um milagre eu não ter abandonado todos os meus ideais, eles parecem tão absurdos e impraticáveis. No entanto, eu me apego a eles, porque eu ainda acredito, apesar de tudo, que as pessoas são realmente boas de coração.
O Apanhador no Campo de Centeio, de J. D. Salinger
O cara da Marinha e eu dissemos que tinha sido um prazer conhecer um ao outro. Esse é um troço que me deixa maluco. Estou sempre dizendo: ‘Muito prazer em conhecê-lo’ para alguém que não tenho nenhum prazer em conhecer. Mas a gente tem que fazer essas coisas paraSEGUIRhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png vivendo.
Os Sofrimentos do Jovem Werther, de Johann Wolfgang von Goethe
É uma coisa bastante uniforme a espécie humana. Boa parte dela passa seus dias trabalhando para viver, e o poucochinho de tempo livre que lhe resta pesa-lhe tanto que busca todos os meios possíveis para livrar-se dele. Oh, destino dos homens!
O Encontro Marcado, de Fernando Sabino
De tudo, ficaram três coisas: a certeza de que ele estava sempre começando, a certeza de que era precisoCONTINUARhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png e a certeza de que seria interrompido antes de terminar. Fazer da interrupção um caminho novo. Fazer da queda um passo de dança, do medo uma escada, do sono uma ponte, da procura um encontro.
Demian, de Hermann Hesse
http://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.pngNão creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas.
Lolita, de Vladimir Nabokov
Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita.
A Revolução dos Bichos, de George Orwell
Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todos iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir, quem era homem, quem era porco.
On The Road, de Jack Kerouac
Assim, na América, quando o sol se põe, eu me sento no velho e arruinado cais do rio olhando os longos, longos céus acima de Nova Jersey, e consigo sentir toda aquela terra crua e rude se derramando numa única, inacreditável e elevada vastidão, até a costa oeste, e aESTRADAhttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png seguindo em frente, todas as pessoas sonhando naquela imensidão, e em Iowa eu sei que agora as crianças devem estar chorando na terra onde deixam as crianças chorar, e você não sabe que Deus é a Ursa Maior? A estrela do entardecer deve estar morrendo e irradiando sua pálida cintilância sobre a pradaria, reluzindo pela última vez antes da chegada da noite completa, que abençoa a terra, escurece todos os rios, recobre os picos e oculta a última praia, e ninguém, ninguém sabe o que vai acontecer a qualquer pessoa, além dos desamparados andrajos da velhice.
Carta a D., de André Gorz
Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.
Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle
Eu sou um cérebro, Watson. O resto é mero apêndice.







Lola

Quando a ternura





Quando a ternura for a única regra da manhã

um dia, quando a ternura for a única regra da manhã,
acordarei entre os teus braços. a tua pele será talvez demasiado bela.
e a luz compreenderá a impossível compreensão do amor.
um dia, quando a chuva secar na memória, quando o inverno for
tão distante, quando o frio responder devagar com a voz arrastada
de um velho, estarei contigo e cantarão pássaros no parapeito da
nossa janela. sim, cantarão pássaros, haverá 
FLOREShttp://cdncache-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png
, mas nada disso
será culpa minha, porque eu acordarei nos teus braços e não direi
nem uma palavra, nem o princípio de uma palavra, para não estragar
a perfeição da felicidade.


 
José Luís Peixoto, in 'A Criança em Ruínas'




                                                Lola

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Há tantos diálogos






Há tantos diálogos


Diálogo com o ser amado 

o semelhante 
o diferente 
o indiferente 
o oposto 
o adversário 
o surdo-mudo 
o possesso 
o irracional 
o vegetal 
o mineral 
o inominado

Diálogo consigo mesmo 

com a noite 
os astros 
os mortos 
as ideias 
o sonho 
o passado 
o mais que futuro

Escolhe teu diálogo 

e 
tua melhor palavra 
ou 
teu melhor silêncio. 
Mesmo no silêncio e com o silêncio 
dialogamos.


Carlos Drummond de Andrade, in 'Discurso da Primavera'





Dialogo tanto contigo à beira mar! 

Porquê?
Porque sinto a doçura da tua voz 
nas pequenas ondas 
que perfuram a areia fina que me queima os pés!


                                          Lola