quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Vida



Vida

A vida... 
... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós. 


Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem. 

A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.

Miguel Torga




Lola

terça-feira, 19 de setembro de 2017

Gato

Siobhan Meow


Ode ao Gato

Tu e eu temos de permeio
a rebeldia que desassossega,

a matéria compulsiva dos sentidos.

Que ninguém nos dome,
que ninguém tente
reduzir-nos ao silêncio branco da cinza,
pois nós temos fôlegos largos
de vento e de névoa
para de novo nos erguermos
e, sobre o desconsolo dos escombros,
formarmos o salto
que leva à glória ou à morte,
conforme a harmonia dos astros
e a regra elementar do destino.

José Jorge Letria, em "Animália Odes aos Bichos"


Siobhan Meow

                                            Lola

segunda-feira, 11 de setembro de 2017

Até já, Salvador Sobral





Até já, Salvador Sobral

Salvador Sobral deixa um sentido “até já” com os olhos em lágrimas e nos ombros da irmã

"Se morrer, morro feliz". 
A frase foi dita meses antes de Salvador ganhar o Festival Eurovisão a 13 de maio. Ele sabia do que falava : sofre de insuficiência cardíaca, tem um desfibrilador injetado e depende de um transplante. 
Precisa de um coração. 


Curioso é que foi o coração que ele privilegiou na canção que lhe deu, em Kiev, na Ucrânia, o galardão nunca conquistado. "Amar pelos dois" fala de um sentimento não partilhado. "O meu coração pode amar pelos dois" é o remate da letra que a irmã, Luísa Sobral, lhe escreveu.
 E uma maioria, na altura, falou com o coração e considerou-o um herói. 
Salvador era a nossa voz, o nosso orgulho.
Pouco tempo depois, talvez por "ter o coração perto da boca", disse outras frases, menos bonitas e caiu na boca do povo. Passou de menino com coração de ouro a menino com coração mimado. E a desbocado. 
Aos 27 anos, Salvador diz que vai entregar o corpo à Ciência. E ontem à noite, em Cascais, terá dado o último concerto "num adeus temporal". 
Diz que em cada dia que acorda e pode respirar "é um dia feliz".

No Facebook, justificou a sua retirada ao som de "Hello, goodbye", dos The Beatles. Eu espero pelo "hello".
O meu coração de mãe pede isso.
In JN
Madalena Tavares






Espero por ti, Salvador!
Contigo  aprendi a sentir a musica de modo mais imperturbavelmente  serena e sofrida!
Sem ti as palavras perdem o perfume das emoções, o aroma dos teus gestos embrulhados de uma ternura estonteante!
Por ti, iria de mãos dadas buscar à lua ou ao infinito no MAR o coração de ouro de que tanto precisas... a melodia de um ritmo que  o teu corpo afortunadamente merece!
Para ti,  um abraço de corpo inteiro!                                         


Os Jardins do Casino Estoril revelaram-se pequenos para receber as centenas de pessoas que quiseram estar presentes no último concerto de Salvador Sobral. 
Salvador Sobral terminou o seu ultimo concerto, naturalmente, com "Amar Pelos Dois", num dueto com a irmã, Luísa Sobral, autora da canção. 
Um dueto que acabou por não o ser: o cantor ficou em lágrimas e abraçou-se à irmã, fazendo com que fosse o público a terminar o tema.



                                            Lola