... e a gente põe-se a pensar em quantas maravilhosas teorias os filósofos arquitectaram na severidade das bibliotecas, em quantos belos poemas os poetas rimaram na pobreza das mansardas, ou em quantos fechados dogmas os teólogos não entenderam na solidão das celas. Nisto, ou então na conta do sapateiro, na degradação moral do século, ou na triste pequenez de tudo, a começar por nós.
Mas a vida é uma coisa imensa, que não cabe numa teoria, num poema, num dogma, nem mesmo no desespero inteiro dum homem.
A vida é o que eu estou a ver: uma manhã majestosa e nua sobre estes montes cobertos de neve e de sol, uma manta de panasco onde uma ovelha acabou de parir um cordeiro, e duas crianças — um rapaz e uma rapariga — silenciosas, pasmadas, a olhar o milagre ainda a fumegar.
Salvador Sobral deixa um sentido “até já” com os olhos em lágrimas e nos ombros da irmã
"Se morrer, morro feliz".
A frase foi dita meses antes de Salvador ganhar o Festival Eurovisão a 13 de maio. Ele sabia do que falava : sofre de insuficiência cardíaca, tem um desfibrilador injetado e depende de um transplante.
Precisa de um coração.
Curioso é que foi o coração que ele privilegiou na canção que lhe deu, em Kiev, na Ucrânia, o galardão nunca conquistado. "Amar pelos dois" fala de um sentimento não partilhado. "O meu coração pode amar pelos dois" é o remate da letra que a irmã, Luísa Sobral, lhe escreveu.
E uma maioria, na altura, falou com o coração e considerou-o um herói.
Salvador era a nossa voz, o nosso orgulho.
Pouco tempo depois, talvez por "ter o coração perto da boca", disse outras frases, menos bonitas e caiu na boca do povo. Passou de menino com coração de ouro a menino com coração mimado. E a desbocado.
Aos 27 anos, Salvador diz que vai entregar o corpo à Ciência. E ontem à noite, em Cascais, terá dado o último concerto "num adeus temporal".
Diz que em cada dia que acorda e pode respirar "é um dia feliz".
No Facebook, justificou a sua retirada ao som de "Hello, goodbye", dos The Beatles. Eu espero pelo "hello".
O meu coração de mãe pede isso.
In JN
Madalena Tavares
Espero por ti, Salvador!
Contigo aprendi a sentir a musica de modo mais imperturbavelmente serena e sofrida!
Sem ti as palavras perdem o perfume das emoções, o aroma dos teus gestos embrulhados de uma ternura estonteante!
Por ti, iria de mãos dadas buscar à lua ou ao infinito no MAR o coração de ouro de que tanto precisas... a melodia de um ritmo que o teu corpo afortunadamente merece!
Para ti, um abraço de corpo inteiro!
Os Jardins do Casino Estoril revelaram-se pequenos para receber as centenas de pessoas que quiseram estar presentes no último concerto de Salvador Sobral.
Salvador Sobral terminou o seu ultimo concerto, naturalmente, com "Amar Pelos Dois", num dueto com a irmã, Luísa Sobral, autora da canção.
Um dueto que acabou por não o ser: o cantor ficou em lágrimas e abraçou-se à irmã, fazendo com que fosse o público a terminar o tema.