terça-feira, 21 de junho de 2016

Saber de ti



Saber de ti

Chove torrencial e demoradamente! 
Rita apoia-se no peitoril da janela e vai cuidadosamente olhando as pingas de água que deslizam pela larga vidraça naquele momento em que parou um pouco para apreciar o mundo que está lá fora!

Nem sempre o faz, nem sempre lhe apetece permanecer do lado de lá de si própria, no exterior do que pensa, que sonha e que observa dentro dos momentos enormes que tomaram conta da sua estória de vida!

Rita já tem algumas décadas vincadas na sua memória desde que consegue recuar ao ano de 1962 - marcante na sua existência por motivos que não se esgotam no nascimento do seu irmão e no carinho redobrado que então recebeu por parte dos familiares e vizinhos da família. 

Este é o ano que memorizou como sendo o inicio da sua vida consciente, da atenção e ligação aos pais, dos meninos correndo na rua, das brincadeiras ao esconde esconde, do jogo da macaca, marcada a giz branco, que permaneceu sulcada na terra do espaço contiguo do bairro em que sempre se lembra de ter vivido!

Por vezes sentava-se na varanda do apartamento e com as pernas de cada lado dos ferros cantarolava uma musica que ouvia, com frequência, no radio lá de casa que sempre acompanhava os dias e se despedia à noite calando-se para o silêncio da noite.

De Pedro que, por essa altura iniciaria a existência do outro lado do mundo, nada sabia nem imaginava que um dia viria a constatar que em cada momento das nossas alegrias perdularias ou dos nossos choros infantis, muito de novo se envolve no e para o mundo humano!

Viver o encanto do por-vir é demasiado colorido para uma inqualificável desistência do agora!

Por isso e, à medida que a noite adormece, Rita acredita! Em quê?

Hà algum ser que um dia nos vai dizer com o brilho de um cristal que nunca souberamos apreciar...


GOSTO DE TI!




                                           Lola

Dizem por ai...



Dizem por ai...


Que é dia do Amor! 
E eu vi milhares que corações embrulhando sonhos e desejos de utopias esmagadas

E là fora continua a chuva torrencialmente incomodativa 
para os corpos de amor não ferido!

Dizem por ai...
Que é dia do Amor como se este se fizesse anunciar quando quer entrar portas adentro no nosso Ser!

Como se um dia pudesse sobre existir a todos aqueles momentos em se pensa, deseja e procura o Outro para desvelar o nosso eu no remoinho do nos!

Dizem por ai...
Que é dia do e de Amor como se fosse possível desvendar; de modo inequivoco e transparente, o sentir do outro lado sem um misto de surpresa e de angustia!

Afinal, não é o mistério que dà as mãos ao amor num continuo percurso de busca do eternamente desejado?



                                                Lola

Hoje fui ver o Mar





Hoje fui ver o Mar 







Deliciosamente percorri a entrada do mar...









Corajosamente olhei-o num infinito de emoções que 



me habitam...







Procurei em cada onda que se deitava...o teu olhar 



de profunda tranquilidade!









Olhei-o...


... saboreando a sua voz e a sua dança em 


movimentos harmoniosamente descontínuos!



Talvez apenas uns tempos de distancia para um dos



 lados...



estavas tu a falar com a infinitude grandiosa



 do MAR que nos une 



porque um dia dele e com ele conversamos...




Hoje fui ver o Mar do qual  sempre tenho muitas, 



muitas Saudades! 



Ouviu-me sem contestar!




Estou Feliz, my dear!






                                               Lola

Cumplicidade intelectual





Cumplicidade intelectual

Pode A CUMPLICIDADE INTELECTUAL tornar-se DESEJO? 


Quem já amou alguém intelectualmente compatível, sabe o quanto o sexo fica muito mais saboroso depois de uma boa conversa. Sabe que uma boa conversa é a melhor das preliminares, o caminho mais certeiro para alcançar e satisfazer os desejos mais íntimos da pessoa amada. Sabe que conversar é uma forma muito especial de fazer amor. 
Muito se fala sobre os encantos físicos que atraem rapidamente o interesse das pessoas. Muito se fala sobre a química da pele , sobre o beijo perfeito, sobre os lábios que parecem ter sido feitos para nos beijar, sobre as mãos que parecem ter sido feitas para nos tocar.
Muito se fala sobre sensualidade e virilidade. Corpos malhados, perfeitos. Grande preparo físico para loucas empreitadas sexuais. Corpos flexíveis, mãos experientes e hábeis. Fôlego infinito. Verdadeiras maratonas sexuais em que é preciso estar atraente sob os mais variados ângulos.
Muito se fala sobre estímulos que nos capturam quase que imediatamente, que nos fazem cair na teia de um jogo sexual bem banal se a gente for parar para pensar. Para falar a verdade, nem é preciso pensar tanto assim...
O sexo virou performance, um exibicionismo a mais na nossa cultura do simulacro. O amor mero detalhe no contexto das relações eróticas. Se ele acontecer , aconteceu. Como diria a música "Amor e sexo"...sexo antes, amor depois.
Mas, muitas vezes nos esquecemos de que grandes encontros afetivos, pautados no amor, centrados no amor necessitam de muita química intelectual. Sim, o intelecto pode ser um grande afrodisíaco. Mais do que isso. Pode ser a bomba propulsora de uma relação consistente e densa.
Nenhuma relação se sustenta com caras e bocas e joguinhos de sedução desprovidos de inteligência e ideais em comum. Sim, é preciso gostar de conversar com a pessoa. É preciso gostar de estar com a pessoa. É preciso gostar de fazer amor com a pessoa pelo simples fato de ser a pessoa que amamos e que nos ama.
Quando existe amor das duas partes, com o tempo, o sexo vai se tornando cada vez melhor. Vai se tornando melhor não porque nos tornamos atletas do sexo. Vai se tornando melhor porque aprendemos a dar prazer a quem é especial para nós. Vamos aprendendo a conhecer os limites e as necessidades de quem nos faz feliz fora da cama.
Quem já amou sabe o quanto vale um abraço ou um beijo de despedida por parte de quem amamos. Quem já amou alguém intelectualmente compatível, sabe o quanto é prazeroso e erótico conversar com a pessoa pois a sexualidade não se expressa somente por meio de músculos e genitais. A sexualidade está nas palavras, nas ideias compartilhadas, na troca cúmplice de olhares, naquele sorriso que demonstra que a pessoa amada está te compreendendo.
Numa sociedade materialista como a nossa, muito mais voltada para a aparência física e para os estímulos sexuais imediatos, o texto pode soar bizarro. Numa sociedade que busca parcerias afetivas no tumulto e no frenesim dos bares e das baladas, pode soar estranho falar de conversa e intelecto como manifestações do erotismo.
Na pressa em arranjar alguém ou simplesmente se satisfazer sexualmente, muitas pessoas perdem a oportunidade de se desenvolverem e aprimorarem suas potencialidades afetivas e intelectuais, transformando tudo em espasmos momentâneos.


publicado em recortes por Sílvia Marques



E porque não a sedução em vez da conquista?

A busca em vez do encontro?

Conversar em vez de sexo?

Intimidade em vez de satisfação imediata?

Prazer em vez de consumação física?

Mão dada...

Olhar perfurante...

Olhar o mar num simultâneo azul....

Risos desencontrados...

Afectividade transparente...

Lealdade delicadamente assumida...

Serias tu, Pedro, um ser disponível para esta 

cumplicidade intelectual?






                                            Lola

Carta de amor de Karl Marx






Carta de amor de Karl Marx para sua mulher 
Jenny:



"Manchester, 21 de Junho de 1865
Minha querida,

Escrevo-te outra vez porque me sinto sozinho e porque me perturba ter um diálogo contigo na minha cabeça, sem que tu possas saber nada, ou ouvir, ou responder…
A ausência temporária faz bem, porque a presença constante torna as coisas demasiado parecidas para que possam ser distinguidas. A proximidade diminui até as torres, enquanto as ninharias e os lugares comuns, ao perto, se tornam grandes. Os pequenos hábitos, que podem irritar fisicamente e assumir uma forma emocional, desaparecem quando o objecto imediato é removido do campo de visão. As grandes paixões, que pela proximidade assumem a forma da rotina mesquinha, voltam à sua natural dimensão através da magia da distância. É assim com o meu amor. Basta que te roubem de mim num mero sonho para que eu saiba imediatamente que o tempo apenas serviu, como o sol e a chuva servem para as plantas, para crescer.
No momento em que tu desapareces, o meu amor mostra-se como aquilo que na verdade é: um gigante onde se concentra toda a energia do meu espírito e o carácter do meu coração. Faz-me sentir de novo um homem, porque sinto um grande amor. (…) Não o amor do homem Feuerhach, não o amor do metabolismo, não o amor pelo proletariado – mas o amor pelos que nos são queridos e especialmente por ti, faz um homem sentir-se de novo um homem.
Há muitas mulheres no mundo e algumas delas são belas. Mas onde é que eu podia encontrar um rosto em que cada traço, mesmo cada ruga, é uma lembrança das melhores e mais doces memórias da minha vida? Até as dores infinitas, as perdas irreparáveis… eu leio-as na tua doce fisionomia e a dor desaparece num beijo quando beijo a tua cara doce.
Adeus, minha querida, beijo-te mil vezes da cabeça aos pés,

Sempre teu,

Karl"


                                              Lola