domingo, 20 de março de 2016

Estrela do Mar






Estrela do Mar 

Estrela do Mar
Jorge Palma
  

Numa noite em que o céu tinha um brilho mais forte
E em que o sono parecia disposto a não vir
Fui estender-me na praia sozinho ao relento
E ali longe do tempo acabei por dormir

Acordei com o toque suave de um beijo
E uma cara sardenta encheu-me o olhar
Ainda meio a sonhar perguntei-lhe quem era
Ela riu-se e disse baixinho: estrela do mar

Sou a estrela do mar
Só ele obedeço, só ele me conhece
Só ele sabe quem sou no principio e no fim
Só a ele sou fiel e é ele quem me protege
Quando alguém quer à força
Ser dono de mim

Não se era maior o desejo ou o espanto
Mas sei que por instantes deixei de pensar
Uma chama invisível incendiou-me o peito
Qualquer coisa impossível fez-me acreditar

Em silêncio trocámos segredos e abraços
Inscrevemos no espaço um novo alfabeto
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são poucos ou nada
 para a estrela do mar








Es e serás sempre a minha estrela do mar...
Porquê?
Já passaram mil anos sobre o nosso encontro
Mas mil anos são poucos ou nada
 para a estrela do mar...




                                                Lola

Rosa





Rosa


MELODIA: Rodrigo Leão

"Hoje o céu está mais azul,
eu sinto...
Fecho os olhos.
Mesmo assim eu sinto...

O meu corpo estremeceu.

Não consigo adormecer.

Nem o tempo vai chegar
Para dizer o quanto eu sinto
Você longe de mim.
É uma espécie de dor...

Hoje o céu está mais azul
eu sinto...
Olho à volta
E mesmo assim eu sinto
Que este amor vai acabar
e a saudade vai voltar...

Já não sei o que esperar
Dessa vida fugidia...
Não sei como explicar
Mas eu mesmo assim o amo."






Tirado DAQUI




Porque ninguém como tu exprime, suave e deliciosamente,
 o perfume da...

ROSA!








                                                Lola




Nâo Tenho Tempo




Não Tenho Tempo

 NÃO TENHO TEMPO

Sabes, meu filho, até hoje não tive tempo para brincar contigo.
Arranjei tempo para tudo, menos para te ver crescer.
Nunca joguei contigo dominó, damas, xadrez, ou batalha naval.
Eu percebo que tu me procuras, mas sabes meu filho, eu sou muito importante e não tenho tempo.
Sou importante para números, convites sociais e toda uma série de compromissos inadiáveis.
Como largar tudo isto, para ir brincar contigo. Não, não, tenho tempo. .
Um dia trouxeste o teu caderno escolar para eu ver e ficaste ao meu lado. Lembras-te?
Não te dei atenção e continuei a ler o jornal.
Porque afinal, afinal os problemas Internacionais são mais sérios do que os da minha casa.
Nunca vi os teus livros não conheço a tua professora.
Nem me lembro qual foi a tua primeira palavra.
Mas, tu sabes, eu não tenho tempo.
De que adianta saber as mínimas coisas a teu respeito, se eu tenho outras grandes coisas a saber.
É incrível: como tu cresceste! Estás tão alto! Nem tinha reparado nisso.
Aliás, eu quase que não reparo em nada.
E, na vida agitada, quando tenho tempo, prefiro usá-lo lá fora, porque aqui fico calado diante da televisão.
Porquê. Porque a televisão é importante e Informa-me muito.
Sabes, meu filho, a última vez que tive tempo para ti; foi numa noite de amor com a tua mãe.
Eu sei que tu te queixas eu sei que tu sentes a falta duma palavra, duma pergunta amiga, duma brincadeira, dum chuto na tua bola.
Mas eu não tenho tempo. Eu sei que sentes a falta de um abraço e de um sorriso, de um passeio a pé, de ir até ao quiosque, ao fundo da rua, comprar um Jornal, uma revista:
Mas sabes há quanto tempo eu não ando a pé na rua?
Não tenho tempo.
Mas tu entendes, eu sou um homem importante. Tenho de dar atenção a muita gente, eu dependo delas.
Meu filho, tu não entendes nada de comércio.
Na realidade eu sou um homem sem tempo.
Eu sei que tu ficas triste porque as poucas vezes que falamos, é um monólogo: Só eu é que falo.
Eu quero silêncio. Quero sossego e tu tens a péssima mania de querer brincar com a gente.
Tens a mania de saltar para os braços dos outros. Filho, eu não tenho tempo para te abraçar.
Não tenho tempo para conversas e brincadeiras de crianças.
Filho, o que é que tu percebes de computadores, comunicação, cibernética, racionalismo? Tu sabes quem é Descartes e Kant?
Como é que eu vou parar para falar contigo? Sabes, filho. Não tenho tempo.
Mas o pior de tudo, o pior de tudo é que se tu morresses agora, já, neste instante, eu ficava com um peso na consciência.
Porque, até hoje, até hoje não arranjei tempo para brincar contigo.
 E, na outra vida, Deus não terá tempo de me deixar pelo menos...
Ver-te.
Poema de Neymar de Barros
Brasil, anos 70







Porque há pais que, lamentável e recorrentemente,
 não têm tempo ...




                                               Lola

sábado, 19 de março de 2016

Porque és Pai...





Porque és Pai...


"… Eu achava meu pai enorme, imenso. A porta de casa era pequena para um homem tão grande, dizia eu. Por isso, acreditava que ele entrava pela janela - não que fosse maior que a porta, mas, se pela janela entrava o céu, também podia entrar meu pai; para mim ele tinha a grandeza do céu imenso em claros dias de Verão.

E eu, com toda a força, a apertar o fio da antena na ponta dos dedos pequenos sempre que falhava a emissão, sempre que se perdia o sinal, sempre que se perdiam os sons que de longe nos traziam as novidades daquilo a que meu pai chamava “a revolução!”

Ouviam-se músicas pelo meio e de novo voltavam as palavras e as ruas cheias de gente e o grito de um povo que estava com o MFA. Com os soldados - explicava meu pai -, com aqueles que tinham prendido os homens que já não mandavam no país. “Agora já não precisamos de ter segredos, pois não?”, perguntava eu. “Não. Agora podemos falar de tudo, acho que podemos falar de tudo…”, respondeu-me com um sorriso. 

Quando nos recolhemos no ninho, eu, pássaro pequeno, por dentro dos cobertores, enroscado no pássaro grande, adormeci a ouvir explicações sobre a palavra Liberdade…

Tinha por meus pais uma admiração imensa, um imenso amor. 

Amor é tudo o que ainda não foi dito e tudo o que nunca será dito, porque o amor não se diz. 

De todos os modos, por aquele tempo, eu era apenas um pássaro pequeno, se o amor se dissesse, eu não o saberia dizer - sabia apenas retribuir abraços quentes…"


In: O Pássaro dos Segredos
João Morgado
  Contos - 2014
   Edição: 'Kreamus'


"O pássaro dos Segredos" é um conto ilustrado que relata uma história de ternura e intimidade entre pai e filho, confidentes da vida, num cenário antes do “25 de Abril” em que as “paredes tinha ouvidos” e era preciso guardar segredos.
Uma criança a olhar ingenuamente para a revolução e a segurar a antena para ouvir na rádio o povo que nas ruas já gritava “liberdade”. ..

A obra tem o prefácio de Martins Guerreiro, um “capitão de Abril”, que disse ter sentido “uma forte emoção” ao ler este conto da celebração de Abril e da Liberdade.

Joaquim Pessoa também assina o prefácio dizendo que todo o conto é em si mesmo “um longo poema”, um hino ao amor e à liberdade.


                                       Lola

terça-feira, 15 de março de 2016

Sonho de Mar



Sonho de Mar

Acordara ainda envolvida pelo sonho de um sono coloridamente longo com a cor de mar!

Cansada, Rita levantou-se a custo para dar inicio a mais um dia de trabalho! No dia anterior, pensara muito em Pedro e no seu estado anímico: andaria ele exausto?, como estava a correr o seu desempenho profissional? precisava de uma palavra amiga de incentivo? Seria necessário repetir que ele era de uma excelência incomparável? Que pensaria ele naquele preciso momento?
Cansada, extremamente cansada, Rita adormecera suavemente, sem antes recordar aqueles de quem gostava muito apesar das ausências, diferentes mas exageradamente provocadoras de uma SAUDADE arrebatadora!
Nem sempre, poder-se-ia dizer mesmo que muito raramente, sonhava com Pedro! Não que não o desejasse com mais frequência, não que o esquecesse uma noite que fosse...mas sabia que os sonhos são quase como as andorinhas que voltam no momento certo para, de repente, desaparecerem para outros mundos por nós desconhecidos!
Essa foi uma noite diferente, prazerosa e agradavelmente doce, muito doce!
Rita assistia a uma actividade e viu, inesperadamente, chegar Pedro que delicadamente se colocou a seu lado sem proferir uma palavra! Rita não estranhou o silêncio pois já sabia que quando o olhasse sentiria a emoção do reencontro sempre desejado e vivido como de uma primeira vez se tratasse!
Não resistiu, porém, por mais de uns breves minutos e .... olhou-o perguntando-lhe como estava ao mesmo tempo que notava o seu rosto ainda mais amorenado pelo sol!
"Estás tão bonito", disse-lhe Rita de um modo ousado quase impensado ao que Pedro respondeu "Estive ontem junto ao mar"! 
Realmente o dia anterior fora de um calor fora de época que daria para se demorar junto ao mar, olhando-o na tranquilidade única das suas ondas, mas Rita não tivera tempo de o fazer, muito embora sinta, recorrentemente, uma falta estranha do cheiro a maresia, do doce (en)canto das ondas, do pausado passear pela areia com o fervilhar das ondas salpicando de frescura os seus pés!
Olhou Pedro nos olhos pela primeira vez e deu-lhe um beijo de cada lado da cara sentindo o aveludado da sua  pele morena e o mistério do seu olhar profundo, interessante mas sempre com um quê de nublado que muito a fascinava!




Vieste cá? Perguntou-lhe ao mesmo tempo que lhe confessava que sentia muitas saudades de uma conversa a dois, de uma gargalhada em conjunto, de uns desabafos perfumados de humor, de um olhar meigo e sereno que só Pedro soubera aportar à sua vida!
Lembrava-se sempre daquele dia em que tiveram uma reunião na cidade e em que Pedro a esperara na curva arredondada colocando previamente musica francesa que sabia que ela gostava. Descobrira-lhe, desde então, uma sensibilidade e uma elegância que ainda hoje a fazia sorrir demoradamente no seus espaços e tempos de solidão recatada!
Noite....
Pedro não desiste de continuar no seu sonho! Que bom ... há noites que se prolongam deliciosamente até ao amanhecer!
O dia abraçou a madrugada! Rita prepara-se e segue o caminho da empresa! Com algumas quebras não consegue encadear todas as vidas do sonho, mas sabe que Pedro se recostou num dos sofás lá de casa e se deixou adormecer!
Rita cobriu-o carinhosamente, afagando os lençóis suaves ao rosto daquele que há muito, talvez sem saber, lhe traz momentos de beleza e recantos de felicidade nunca tão adoravelmente vividos!

Rita acordou cansada...mas exageradamente feliz porque sonhou Pedro tranquilo!
O sonho revela-se, quando traz ausências no presente, como uma catarse de SAUDADE com a qual convivemos muito mal!
Rita não entristeceu por sentir que era só um sonho efémero...
...se os sonhos lhe trouxerem Pedro, nem que seja de vez em quando, para junto de si, porque não sentir-se maravilhosamente feliz com estes momentos de brilho e cristal de pureza cintilante?

Logo mais tarde, o dia vai, de novo, envolver a noite!

Rita, vai provavelmente sonhar de novo....não com Pedro e com o seu sorriso axadrezado de um azul mar como no dia que o viu pela primeira vez!
Mas esses, tal como alguns momentos vividos, são tempos desinteressantes com os quais não perde tempo em ser feliz!
Porquê?
Porque gosta de gostar tanto de Pedro ...aquele ser de uma bondade extraordinária que um dia encontrou numa estrada de interditos mas que  nunca a farão desistir de sonhar com o mar de que Pedro tanto gosta e de se envolverem num abraço transparente sempre que se dá o ....
....o inesperado, mas desejado .... ENCONTRO!



                                               Lola

quarta-feira, 9 de março de 2016

Abraço


War of feelings by Leonid Afremov

Abraço

Abraço
"De repente deu vontade de um abraço...

Uma vontade de entrelaço,
de proximidade, de amizade... sei lá...
Talvez um aconchego que enfatize a vida
e amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
que seja teimoso e,
ao mesmo tempo, forte.
Deu vontade de poder rever,
saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço
mas que faça lembrar do carinho,
que surge devagarzinho
da magia da união dos corpos,
das auras... sei lá...
Lembrar do calor das mãos,
acariciando as costas,
a dizer: "estou aqui."
Lembrar do trançar
dos braços envolventes
e seguros afirmando:
"estou com você"...
Lembrar da transfusão de forças
com a suavidade do momento...
sei lá...abraço...abraço...abraço...
abraço... abraço...abraço...
abraço..abraço...abraço...
O que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energia que harmoniza,
integra tudo, e que se traduz
no cosmo, no tempo e no espaço.
Só sei que agora
deu vontade desse abraço
Que afaste toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima da alegria,
e acalme o coração
Que traduza a amizade,
o amor e a emoção...
E, para um abraço assim,
só pude pensar em você...nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade,
que sabe entender o porquê...
dessa vontade desse abraço... "

Vinicius de Moraes





                                               Lola