quarta-feira, 27 de março de 2019

Entrei no café com um rio na algibeira




Entrei no café com um rio na algibeira


Entrei no café com um rio na algibeira
e pu-lo no chão,
a vê-lo correr
da imaginação...

A seguir, tirei do bolso do colete
nuvens e estrelas
e estendi um tapete
de flores
a concebê-las.

Depois, encostado à mesa,
tirei da boca um pássaro a cantar
e enfeitei com ele a Natureza
das árvores em torno
a cheirarem ao luar
que eu imagino.

E agora aqui estou a ouvir
A melodia sem contorno
Deste acaso de existir
-onde só procuro a Beleza
para me iludir
dum destino.

 José Gomes Ferreira


                                             Lola

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Este é o poema duma macieira.
Quem quiser lê-lo,
Quem quiser vê-lo,
Venha olhá-lo daqui a tarde inteira.


Floriu assim pela primeira vez.
Deu-lhe um sol de noivado,
E toda a virgindade se desfez
Neste lirismo fecundado.

São dois braços abertos de brancura;
Mas em redor
Não há coisa mais pura,
Nem promessa maior.
.

Miguel Torga
Vila Nova, 4 de Abril de 1936
in Diário I


                                             Lola

Mar



MAR

Não cabes no teu nome, búzio aberto,
E transbordas em ondas,

Espumoso como um vinho singular,

Salgado e azul,
Só bebido por náufragos
E nasciturnos.



Da terra, a olhar-te,
Embebedam-se os olhos
Dos poetas.
Mas excedes, também, os versos do seu canto
Oceano, oceano, oceano,
Grita do céu uma gaivota inquieta,
Desamparada, a asa do finito
Mede, aterrada, as léguas do infinito...


Miguel Torga, 
in Diário IX (1964)


O Mar é como a Filosofia...

inquieto
inquietante
inintelegível
inquestionado
irrequieto
insolente
impar 
iluminado
imperioso
impetuoso
inalterável
incolor
intimista
integro
infimo
imperturbável
insolente
inalterável
incomensurável
irreparável
intransigente
infinitamente...meus!

Porquê?
Simplesmente porque vivem em mim...
...Intensa e...
 irremediávelmente!



                                             Lola