segunda-feira, 19 de agosto de 2024

Dever de solidariedade: Jorge Sampaio



Dever de solidariedade


Os dramáticos atentados do 11 de Setembro originaram manifestações de veemente repúdio à escala mundial e desencadearam uma intensa cooperação internacional, na qual Portugal se integrou desde a primeira hora, e cujo objectivo primordial era a luta contra o terrorismo por forma a garantir uma segurança internacional duradoura. A intervenção militar no Afeganistão, em 2001, inscreveu-se neste contexto e foi um exercício legítimo perante o direito internacional. O sucesso militar então alcançado foi significativo, com a derrota do regime taliban e a aniquilação das forças da Al Qaeda e dos seus aliados.

Mas, subjacentes aos ataques do 11 de Setembro, havia objectivos políticos e ideológicos, como sejam o de atiçar a discórdia e o ódio entre o Ocidente e o Islão, que, a meu ver, exigiam uma resposta forte de natureza não militar. A iniciativa da Aliança das Civilizações, lançada pelas Nações Unidas em 2006 – depois da problemática, contestada e danosa invasão e ocupação militar do Iraque e da multiplicação de atentados à bomba contra civis em vários países, designadamente ocidentais – era, a meu ver, a resposta certa para promover o diálogo de civilizações, uma cultura da tolerância, do conhecimento e respeito mútuos e uma coexistência pacífica entre os povos com base no direito internacional e na protecção dos direitos humanos. Lamentavelmente, apesar da bondade dos seus fundamentos e da sua ambiciosa agenda, esta iniciativa nunca dispôs dos meios humanos e financeiros de que necessitava para desempenhar cabalmente a sua missão, para além de o seu enquadramento institucional pelo sistema das Nações Unidas ter sido lento, insuficiente e pouco expressivo no terreno. Lembro-me particularmente bem de uma diligência que efectuei na minha qualidade de Alto Representante da Aliança das Civilizações para persuadir os EUA a aderir a esta iniciativa, durante a qual o embaixador Z. Khalizad (agora o Enviado Especial dos EUA para o Afeganistão) me interpelou, entre o irónico e o céptico, repetindo a célebre frase but how many divisions has you got, Sir? (Mas quantas divisões militares tem o Senhor?).

De qualquer forma, o que pretendo sublinhar é que as duas primeiras décadas deste século XXI nos trouxeram já matéria de sobra para reflexão urgente – reflexão por parte da comunidade internacional (e quem diz comunidade internacional, diz Estados, organizações internacionais como o as Nações Unidas e as suas agências e as organizações regionais, de que quero destacar a União Europeia e a NATO por nos serem especialmente próximas e pelo seu peso decisivo nas dinâmicas internacionais), mas também a nível das sociedades e do exercício da cidadania, ou seja por parte dos cidadãos, das organizações da sociedade civil, fundações, empresas, comunidade académica, associações e actores vários, etc.

Há urgência em dar resposta aos desafios de longo prazo que são comuns a toda a humanidade, quer seja no plano das alterações climáticas, da revolução digital, dos desequilíbrios mundiais, das desigualdades ou da instabilidade e conflitualidade crescentes em certas regiões que ameaçam a paz global. Há pois urgência em forjar novos consensos para promover um processo de desenvolvimento sustentável, mais equitativo e mais solidário. Há ainda urgência em relançar a confiança na cooperação multilateral, nos processos de diálogo, mediação, concertação e negociação, na diplomacia preventiva. Há depois urgência em mobilizar mais esforços para uma actuação concertada, sobretudo em contexto humanitário.

Não podemos ignorar que o século XXI tem sido marcado por sucessivas crises humanitárias que atingem milhões de pessoas, agravando as suas condições de vida e exacerbando a sua vulnerabilidade – especialmente das crianças, mulheres e idosos – ou originando movimentos maciços de populações que ficam à mercê de redes criminosas de toda a espécie. Urge reforçar respostas coordenadas a este desafio que é global, mas que se declina sempre no plano local, motivado por uma variedade de factores que vão dos conflitos aos desastres naturais, passando pelas pandemias ou pelas alterações climáticas.

As novas crises que surgem e que nos são presentes através de imagens avassaladoras que os media disponibilizam praticamente em tempo real não podem ter o efeito pernicioso de fazer esquecer crises mais antigas e prolongadas ou conflitos enquistados, frequentemente apelidados de “congelados”. Não podemos responder às crises humanitárias ao sabor de modas ou ignorá-las por razões de cansaço, enfado ou indiferença. A crise síria, no Iémen, no Haiti, no Tigray, no Sudão, no Sudão do Sul, na Somália, em Cabo Delgado ou a actual situação no Afeganistão, para citar apenas alguns exemplos, atingem homens, mulheres, jovens e crianças com a mesma gravidade, igual força e idêntica desesperança. Importa intervir sempre no completo respeito pelos princípios da humanidade, neutralidade, independência e imparcialidade, subjacentes à actuação humanitária, seja em que domínio, sector ou local se trate, sob pena de desacreditar e inviabilizar os propósitos e resultados pretendidos.

Nunca seria demais recordar que a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade Partilhar citação

programa de bolsas de estudo para estudantes sírios, com o objectivo de contribuir para dar resposta à emergência académica que o conflito na Síria criara, deixando milhares de jovens para trás sem acesso à educação, foi lançado em 2013 pela Plataforma Global para os Estudantes Sírios, a que tenho a honra e o gosto de presidir, inscrevendo-se neste contexto humanitário. Entretanto, a Plataforma foi alargando o seu âmbito de actuação para além da crise síria, e hoje trabalha na criação de um Mecanismo de Resposta Rápida para o Ensino Superior nas Emergências (RRM). Neste contexto, está agora a ser preparado, para além de um reforço do programa de bolsas para estudantes sírios, libaneses e outros, um programa de emergência de bolsas de estudo e de oportunidades académicas para jovens afegãs.

Aproveito, assim, esta tribuna para lançar um apelo a todos parceiros da Plataforma – às entidades oficiais, às instituições do ensino superior, centros de estudos e investigação, bem como empresas, fundações, outras organizações e particulares – para que colaborem sempre mais connosco, e disponibilizem apoios, oportunidades académicas e profissionais, estágios e vagas para estes jovens oriundos de sociedades atingidas por conflitos e crises humanitárias que carecem de protecção e que só buscam poder seguir em frente no encalço dos seus sonhos. A experiência que reunimos nos últimos 7 anos com a integração de estudantes sírios tem mostrado o quanto esta tem sido duplamente benéfica, não só para os estudantes, que assim encontram um horizonte de futuro para as suas vidas, como para as comunidades de acolhimento que desta forma se renovam, dinamizam e reforçam o seu potencial criativo, produtivo e de inovação. E mesmo que assim não fosse, nunca seria demais recordar que a solidariedade não é facultativa, mas um dever que resulta do artigo 1.º da Declaração Universal dos Direitos Humanos – Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade. Façamos uma vez mais prova de que sabemos estar à altura das nossas responsabilidades.

(Jorge Sampaio, in Público, 26/08/2021)

último texto publicado de Jorge Sampaio

Antigo Presidente da República



                                                                                                                                                                                                                                                                                          
Lola

Mandela: estórias de vida





Mandela: estórias de vida


′′Depois de me tornar presidente, pedi a alguns membros da minha escolta para ir passear pela cidade. Após o passeio, fomos almoçar num restaurante.
Sentamo-nos num dos mais centrais, e cada um de nós pediu o que lhe apetecia. Depois de um tempo de espera, apareceu o empregado trazendo os nossos menus. Foi aí que eu percebi que na mesa que estava na nossa frente, havia um homem sozinho, a espera de ser atendido.
Quando foi servido, eu disse a um dos meus soldados: Pede aquele senhor que se junte a nós.
O soldado foi e transmitiu-lhe o meu convite. O homem levantou-se, pegou no prato e sentou-se ao meu lado.
Enquanto comia as suas mãos tremiam constantemente e não levantava a cabeça do seu prato. Quando terminamos, ele despediu-se de mim sem olhar, apertei-lhe a mão e partiu.
O soldado comentou:
Madiba, esse homem devia estar muito doente, já que as suas mãos não paravam de tremer enquanto comia.
- Não, não estava doente! A razão dos seus tremores é outra. Eles olharam para mim de forma estranha e eu expliquei-lhes:
- Aquele homem era o guarda da minha cela na prisão onde eu estava; muitas vezes, depois das torturas a que me submetiam, eu gritava e chorava pedindo um pouco de água, ele vinha, humilhava-me, ria-se de mim e em vez de me dar água, urinava na minha cabeça.
Não, ele não estava doente, estava assustado e tremia talvez porque esperava que eu, agora que sou presidente da África do Sul, o mandasse prender e lhe fizesse o mesmo que ele me fez; torturá-lo e humilhá-lo. Mas eu não sou assim, essa conduta não faz parte do meu caráter, nem da minha ética. Mentes que procuram vingança destroem estados, enquanto as que procuram a reconciliação constroem nações."
𝗡𝗲𝗹𝘀𝗼𝗻 𝗠𝗮𝗻𝗱𝗲𝗹𝗮
Retirado de:
Mozambique in my heart




Lola

sábado, 20 de novembro de 2021

POEMA XX

 


POEMA XX

Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Escrever por exemplo:
A noite está fria e tiritam, azuis, os astros à distância
Gira o vento da noite pelo céu e canta
Posso escrever os versos mais tristes esta noite
Eu a quis e por vezes ela também me quis
Em noites como esta, apertei-a em meus braços
Beijei-a tantas vezes sob o céu infinito

Ela me quis e as vezes eu também a queria
Como não ter amado seus grandes olhos fixos?

Posso escrever os versos mais lindos esta noite
Pensar que não a tenho
Sentir que já a perdi
Ouvir a noite imensa mais profunda sem ela
E cai o verso na alma como orvalho no trigo
Que importa se não pode o meu amor guardá-la ?
A noite está estrelada e ela não está comigo
Isso é tudo

A distância alguém canta. A distância
Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Para tê-la mais perto meu olhar a procura
Meu coração procura-a, ela não está comigo

A mesma noite faz brancas as mesmas árvores
Já não somos os mesmos que antes havíamos sido
Já não a quero, é certo
Porém quanto a queria!
A minha voz no vento ia tocar-lhe o ouvido
De outro. será de outro
Como antes de meus beijos

Sua voz, seu corpo claro, seus olhos infinitos
Já não a quero, é certo,
Porém talvez a queira
Ah ! é tão curto o amor, tão demorado o olvido
Porque em noites como esta
Eu a apertei em meus braços,

Minha alma se exaspera por havê-la perdido
Mesmo que seja a última esta dor que me causa
E estes versos os últimos que eu lhe tenha escrito.


Pablo Neruda

Talvez o mais belo poema do autor....



                                                 Lola

 

domingo, 9 de maio de 2021

Virginia partiu!



 Virgínia partiu!

Um destes dias percorrendo o facebook, encontrei este texto...

Todos os dias tenho agradecido o simples facto de acordar.

Estas últimas 6 semanas estão a ser as mais difíceis da minha vida. Sei que esta partilha será um choque para muitos, e pensei muito antes de a fazer...

Há quase 6 semanas foi-me detectado Cancro Intra Hepático, nas vias biliares, estágio 4, sem cura, previsão de pouco tempo de vida.

Cancro raríssimo, que os médicos não conseguem sequer explicar como alguém com a minha idade o tem. Como me disse um médico a quem fui pedir 2a opinião, com +30 anos de carreira "É daqueles casos que sabemos que existem, mas que ninguém conhece ninguém".

Estive 4 semanas no hospital. Comecei quimio de urgência, tive de parar porque as vias biliares estavam obstruídas (e o fígado não aguentaria a toxicidade). Fui para intervenção no Curry Cabral, que teve complicações sérias, como uma hemorrogia interna em que poderia não ter sobrevivido. Sobrevivi!

Neste momento não me conseguem retomar nenhum tratamento que permita tentar a redução do tamanho do cancro (quando foi detectado tinha 11 cms, e estava cada vez maior e metastizado), para que possa ter um pouco mais de qualidade de vida nestes tempos (menos dor... mais energia, que tem sido pouca... ). O cenário não é o melhor.

Estou a ser acompanhada no HBA, Champalimaud, com o ter recorrido a CUF e outras opiniões externas. As opiniões são unânimes.

Aproveito esta partilha para vos fazer alguns pedidos... até porque em nenhum momento tenciono que tenham pena de mim, me considerem uma vítima, e muito menos demagógica 🙂

1- Dêem sangue. Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas 6) que me foi feita, por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito.

Quem tiver a oportunidade de o fazer, mande-me fotos!! Vou adorar saber que "inspirei"

2- Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias a todos os órgãos abdominais que tinha feito em fevereiro de 2020, e em março de 2021 é-me detectado um cancro, com um tumor de 11cm sem cura, e que não pára de crescer... Não descurem da vossa saúde.

3- Aproveitem a vida. Dêem valor ao pouco que por vezes parece que têm...

 

Fica também um outro ENORME PEDIDO. NÃO me liguem para o telemóvel ( não tenho atendido nenhum telefonema nem o irei fazer), nem contactem as minhas irmãs... 😔como devem imaginar, está a ser demasiado para todos os que me são mais próximos.

Adoraria sim receber mensagens vossas, por mensagem de Facebook, por exemplo, com alguma boa recordação que tenham comigo... com alguma fotografia que tirámos no passado... com alguma palavra que me queiram dizer. Garanto que verei todas.❤️

Quero aproveitar também para agradecer às minhas irmãs e ao João, que têm sido o meu grande apoio. Que deixaram as suas vidas em suspenso para virem cuidar de mim... que me mostram todos os dias que me amam incondicionalmente.

Quero também agradecer à fantástica equipa que tenho da Lisbon, que têm sido imparáveis, e que têm levado o barco a bom porto (para além do amor e carinho que sinto sempre do vosso lado).

Ao grupo restricto de pessoas que contei anteriormente, obrigada pela vossa amizade, carinho, mimos, e respeito que têm tido pelo meu espaço. Nunca duvidei, mas vejo com clareza hoje a pessoa sortuda que sou, e as pessoas maravilhosas que me rodeiam. 

 

Virginia Coutinho

 

 


 Dias depois esbarrei neste outro texto...

 

 

Infelizmente a nossa irmã Virgínia Coutinho, Gi para os amigos, partiu ontem, 20 de Abril.

Não haverá velório, mas uma celebração (ao ar livre como tanto gostava de estar...) para algumas pessoas mais chegadas, em data e dia a ser anunciados (infelizmente com a situação que vivemos sabemos que teremos dificuldade em juntar todos que lhe eram importantes).

Este será "Um muito obrigada" que ela quis preparar a todos os que a ajudaram a ser uma pessoa melhor, e mais feliz. ❤

Nestas semanas esteve também a preparar um fundo, através da Associação Girls Move, para ajudar à criação de uma nova geração de mulheres líderes em Moçambique - mais especificamente através do projecto de mentoria Tech4Good. Dizia ela que este era um ponto bom no que aconteceu, poder planear, dizer às pessoas que as amava. Lamenta não ter visto todos os que gostava... Será o fundo Virgínia Coutinho para ajudar jovens adolescentes, em Moçambique, país de que tanto gostava. Para além do seu donativo, fica o pedido para quem quiser contribuir para que o mundo bonito que a Gi acreditava que conseguia ser, esteja a mais um passo de o ser.

Se quiserem fazer parte deste projecto que era tão próximo ao coração da Gi podem fazê-lo para:

Associação Girls Move Portugal

IBAN: PT50003300004548587001605

--

Esta conta de Facebook será desactivada dentro de três semanas. Obrigada a todos pelo carinho que sentimos que tinham por ela.

Nota das irmãs: Pedimos para, por favor, respeitarem a nossa privacidade e não nos ligarem. Fiquem à vontade de nos enviar mensagem com o vosso carinho, mas pedimos que respeitem esta altura tão dolorosa para todos nós.

 




E li, ainda, a sentida e merecida homenagem... 


José Crespo de Carvalho

 

Professor Catedrático; Presidente da Comissão Executiva – INDEG – ISCTE Executive Education

Virgínia Coutinho

Deixo o que posso deixar. Um artigo simples para dar força a um ser humano que se apaixonou pela educação como forma de vida.

16 abr 2021, 00:08

Obervador

    

Era ainda uma miúda quando entrou na minha sala de aula.

Tinha um ar curioso e não provinha certamente de Lisboa.

Parecia mais velha do que os mais miúdos e vinha ao que vinha: aprender, fazer um mestrado.

Dei-lhe uma cadeira. Marcou-me como aluna. Sempre com questões pertinentes e onde não colocava de lado, nunca, a vontade de saber e de saber porquê. Por vezes fazia-me lembrar o livro Porquê, da Bertrand Editora, que tinha na minha estante enquanto miúdo: 500 perguntas e 1000 respostas. Sempre uma resposta a mais para a Virgínia, ou uma explicação a mais, ou um ângulo a mais, ou um ponto de vista a mais. E um debate curioso, participativo, inteligente.

Não, não esteve lá pelo canudo. Esteve lá para aprender. Esteve para trabalhar. Esteve para se capacitar. Esteve para crescer. Tinha curiosidade, muita curiosidade intelectual. E era de uma simplicidade atroz.

Perguntam-me, então, porque escrevo sobre a Virgínia? Poucos a conhecem, ao Observador não importa, não é um político/a ou um empresário/a notório/a. Porquê?

A Virgínia é a fundadora e CEO da Lisbon Digital School (LDS). Uma escola que não é apenas um centro de formação e que, desde a primeira hora que entrei para as funções que desempenho, quis trazer para dentro do ISCTE Executive Education. Com a LDS temos uma parceria para uma pós-graduação em applied digital marketing, mesmo applied, mesmo digital marketing, mesmo desenvolvida por profissionais de mercado para suprir necessidades de mercado. E temos ainda mais uma meia dúzia de cursos de curta duração desenhados em parceria.

Tudo começou a meu pedido. Ao que a Virgínia de pronto acedeu. Logo firmámos um protocolo, pusemos em marcha o comboio e vamos fazer desta próxima edição da pós-graduação em applied digital marketing, uma edição dedicada à Virgínia. O melhor grupo de alunos receberá um prémio Virgínia Coutinho.

É o mínimo que posso fazer pela Virgínia. É o mínimo que posso fazer para a homenagear em vida. É o mínimo que posso fazer a alguém que, tão novo, é apanhado por uma doença traiçoeira, um cancro terminal, contra a ordem natural das coisas. É o mínimo para quem, como a Virgínia, no seu percurso, tenha andado por onde tenha andado, começou numa aula minha há cerca de dez anos e hoje é a líder de uma escola que ela própria criou.

Se alguma coisa puder dizer sobre a Virgínia, é que ela é a pessoa certa para se falar em educação e em conhecimento. Ela é a pessoa certa para se falar no valor do trabalho. E no valor do trabalho orientado para a formação. O valor e a diferença que faz ter conhecimento. É isso que é o projeto da Virgínia: “O homem não é nada além do que a educação faz dele” (Kant) poderia bem ser um mote seu.

A Virgínia partilhou nas redes sociais, esta semana, um texto comovente sobre a sua doença: “Há quase seis semanas foi-me detetado um cancro intra-hepático, nas vias biliares, estágio 4, sem cura, com pouco tempo de vida”; “Neste momento não me conseguem retomar nenhum tratamento que permita tentar a redução do tamanho do cancro (quando detetado, tinha 11 cm e está cada vez maior e metastizado”; “Todos os dias tenho agradecido o simples facto de acordar”; “É daqueles casos de cancro que todos os médicos sabem que existe, mas que ninguém conhece alguém que tenha tido.”

A Virgínia deixa-nos três pedidos que, esses sim, são importantes fazer chegar a muita gente. Eu junto um quarto pedido, que, estou certo, a Virgínia não se importará.

1.   Deem sangue. “Sou dadora há imensos anos, mas não imaginam a gratidão que senti em cada transfusão (foram umas seis) que me foi feita por alguém se ter predisposto a dar parte de si a quem precisa. As reservas estão baixas, não custa muito. Quem tiver oportunidade de o fazer mande-me fotos. Vou adorar saber que inspirei.”

2.   “Não adiem os vossos exames de rotina. Tenho ecografias de todos os órgãos abdominais de Fevereiro de 2020 e, em Março de 2021, é-me detetado um tumor com 11 cm, sem cura, e que não para de crescer.”

3.   “Aproveitem a vida. Deem valor ao pouco que por vezes parece que têm…”

4.   Este acrescento eu, pelos 10 anos que levo de conhecimento da Virgínia: eduquem-se. Porque a educação e o conhecimento farão diferença nas vossas vidas.

E, finalmente, deixo o que posso deixar. Um artigo simples para dar força a um ser humano que se apaixonou pela educação como forma de vida. E um prémio Virgínia Coutinho para o melhor grupo da pós-graduação em applied digital marketing.

E porque a Virgínia tem muito ainda para nos dar, deixo-lhe aqui a minha homenagem mas, não menos, toda a minha esperança. O meu obrigado e um “volta rápido”. Vamos continuar a trabalhar. Força Virgínia.


Não conheci a Virgínia embora partilhe com ela a paixão pela educação e o enorme respeito pelo OUTRO!

São pessoas como a Virgínia que fazem falta ao mundo!

Até já!


 

                                                 Lola

Palavras para o Tony Carreira




Palavras para o Tony Carreira


Olá! 

Conheço muito bem a sua dor que amargamente senti há uns anos, também na altura do Natal. Contrariamente à Sara, a minha Diana durou um mês desde que eu soube que não havia cura em nenhum país do mundo. Também eu nunca entendi a partida, mas nunca me senti revoltada, isso tornaria a minha dor muito mais azeda.

 Tive de continuar pelos que cá ficaram- dois rapazes que continuam comigo. 

Olhe, Tony, os primeiros três anos são dolorosamente indiscritíveis ….depois a dor vai dando lugar a uma SAUDADE que só nós sentimos. 

Cá por casa a DIANA (tinha 22 anos) está presente, nas fotos, nas palavras, nas recordações, nas situações vividas. 

Sabe? Prefiro que a minha filha esteja no céu do que numa cama como um vegetal. A morte tal como a vida merece DIGNIDADE....e isso é fundamental para todas as pessoas. 

Um dia destes vou passar aos meus alunos o seu tema "Ai, Destino, ai destino" e já me referi à sua perda dizendo-lhes que gostaria de saber se o Tony acha que o que lhe (nos) aconteceu é ou não fruto do destino! 

Espero que este texto, que estava no meu pensamento desde aquele sábado inesperado, lhe chegue por alguma via e que o NATAL que, nunca mais será o mesmo, lhe traga a serenidade de pensar que um dia nos encontraremos com as meninas da nossa vida. 

Por enquanto, continuaremos com esta SAUDADE, um sentimento tão português que nos envolverá para o resto da vida. 

Abraço de conforto de uma MÃE DE SAUDADE!

22 de Dezembro de 2020

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 Olá, Tony! 

Ao ver esta imagem lembrei-me que, com a perda de um filho, nós repensamos, inconscientemente, o conceito de família. E quando nos perguntam: quantos filhos tens? nós, num primeiro momento não sabemos o que responder.

 Quando a minha Diana partiu, o meu filho mais novo tinha 11 anos e, um dia, ao fazer uma composição para a disciplina de Francês, perguntou-me: "Mãe, ponho a Diana?" e eu respondi: "Claro, ela continua nossa". E assim foi....ele lá escreveu junto a uma foto: "Voici ma sœur Diana. Maintenant, elle vit dans le ciel!". 

Ainda guardo religiosamente esse documento que se mantém afectivamente actual. 

Efectivamente, a vida presenteou-nos com esta dura realidade: ter dois rapazes junto de nós e uma menina numa outra dimensão onde, sem qualquer dúvida, um dia voltaremos. Seria muito mais duro se soubéssemos que apenas elas partiam e nós fossemos eternos mas, estou certa, de que um dia abraçá-las-emos numa outra dimensão. 

Até lá, restará um profundo e desmesurado AMOR ETERNO pelos três filhos....os seus e os meus! 

Um abraço de conforto de uma MÃE DE SAUDADE!

9 de Fevereiro, 2021

Instagram


                                                 Lola

domingo, 29 de novembro de 2020

Do Norte, carago!

 


Do Norte, carago!


Quem é do Norte, conhece! Quem não é, aprenda!

1. Adianta um grosso – Não vale a pena
2. Aguça – Afia
3. Alapar – Sentar
4. Andar de cu tremido – Viajar sentado num veículo
5. Arreganhar a tacha – Rir e mostrar muito os dentes
6. Banca – Pia de lavar a loiça
7. Basqueiro – Barulho
8. Beiçudo/Estar de beiças – Mal-humorado
9. Bergar a mola – Trabalhar
10. Bicha – Fila
11. Biqueiro – Pontapé
12. Biscate – Serviço temporário pago
13. Bisga – Cuspidela
14. Borra-Botas – Zé Ninguém
15. Breca – Cãibra
16. Bregalho – Pénis
17. Briol – Frio
18. Broeiro – Pessoa rude ou com maus modos
19. Bufar – Soprar
20. Cascos de rolha – Local longe (ou cujo nome a pessoa não recorda)
21. Catraio(a)/Canalha/Canalhada – Crianças/Conjunto de crianças
22. Chaço – Objeto velho (especialmente carro)
23. Chibar – Revelar um segredo ou algo a quem não deveria saber
24. Choldra – Prisão
25. Chuço/Guarda-chuva – Chapéu de chuva
26. Comer o caco – Confundir (no sentido, ‘não entendo, estás a confundir-me’)
27. Cremalheira/Roda cremalheira – Dentes/Dentadura
28. Cruzeta – Cabide
29. Cunfias/Não dar cunfias – Confiança/Não dar confiança
30. Dar um bacalhau – Cumprimentar outra pessoa com um passou-bem
31. Endrominar – Persuadir alguém (com más intensões ou falsos depoimentos)
32. Esbardalhar – Cair
33. Esquinar – Olhar de lado
34. Está um barbeiro – Está muito frio
35. Estar com a piela – Estar embriagado
36. Estar com a rebarba – Estar de ressaca
37. Estar com a telha/com o tau – Estar rabugento
38. Esteio – Parvo
39. Esterqueira – Sujidade
40. Estrilho – Confusão (no sentido de comportamento)
41. Ficar sarapantado – Ficar assustado/muito surpreendido
42. Foguete na meia-calça – Fio que surge num collant rasgado
43. Gânfias – Unhas
44. Grizar – Rir
45. Jeco – Cão
46. Lapada – Chapada
47. Laurear a pevide/Serandar – Passear
48. Levar um pêro – Levar um soco/murro
49. Lingrinhas – Pessoa magra
50. Magnório – Nêspera
51. Mirolho – Pessoa que vê mal
52. Molete – Pão papo-seco
53. Morfar – Comer
54. Morrinha – Chuvisco
55. Naifa/Naifada – Faca/Levar uma facada
56. Não vale um chabeiro – Não vale nada
57. Paleio – aquilo a que se chama ‘ter muita garganta’ quando alguém fala demais ou é confiante de mais
58. Palheiro – Local sujo/confuso
59. Palheta – Rasteira
60. Parolo – Que tem maus modos ou não se veste/comporta bem
61. Persiana – Estore
62. Peta – Mentira
63. Picheleiro – Canalizador
64. Pincho – Salto
65. Portinhola – Braguilha (referente à abertura das calças)
66. Ráfia – Fome
67. Regar – Mentir
68. Repas – Franja
69. Sabugos – Cutículas das unhas
70. Saraiva/Saraivada – Granizo
71. Sebadola – Pessoa suja ou que se suja com facilidade
72. Ser atabalhoado – Ser trapalhão/desajeitado
73. Sertã – Frigideira
74. Sostra – Preguiçoso(a)
75. Surbia – Cerveja
76. Testo – Tampa do tacho
77. Traquitana – Carro velho
78. Trengo – Trapalhão/desajeitado/totó
79. Trunfa/Gadelha – Cabelo grande e desajeitado
80. Vai dar uma volta ao bilhar grande – Mandar alguém sair do caminho (especialmente em situações de zanga)
81. Vai-me à loja – Vai passear (no sentido de ‘não me chateies’)



Orgulho imenso em ser do norte!


                                                 Lola