sábado, 28 de fevereiro de 2015

És linda




És linda


És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim, deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo. 
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar.
 És linda, repito. Mas tenta não encarar o que te digo como um elogio.

Joaquim Pessoa, in 'Ano Comum'



Através do mar em circulo vejo-te cada vez mais 
serenamente moreno

e sorridentemente dialogante!

Sabes?

Es lindo... de uma beleza filosófica que fez de mim 
metade de existência!

Encontrar-te-ei inteiro no mar de serenidade em

tempo que teima em não encontrar-te 

em cada onda que não desiste da 
 espera?





                                                Lola