És linda
És linda. E nem sabes quantos pedaços de beleza tive de
juntar para chegar a esta conclusão. Para te construir, tive de misturar a
conspiração das searas com a tristeza do choupo, a inquietação da cotovia com o
cheiro lavado do vento do ocidente. E a firmeza repartida dos livros, com a
alegria explosiva dos miosótis e a luz escura das violetas. Juntei depois um
pouco de ansiedade das estrelas, a paciência das casas à beira da falésia, a
espuma da terra, o respirar do sul, as perguntas de gesso que se fazem à lua. Acrescentei-lhe a
canção das margens e pequenos pedaços da angústia do olhar. Não esqueci a
intimidade do frio nem a dor branca que habita o coração dos muros. Por fim,
deitei na tua pele o sono dos alperces, aos teus músculos prometi a violência
das cascatas, no teu sexo acordei a memória do universo.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar.
A tua beleza está no meu desejo, nos meus olhos, na minha desigual maneira de te amar.
És linda, repito. Mas tenta não encarar o
que te digo como um elogio.
Joaquim
Pessoa, in 'Ano Comum'
Através do mar em circulo vejo-te cada vez mais
serenamente moreno
e sorridentemente dialogante!
Sabes?
Es lindo... de uma beleza filosófica que fez de mim
metade de existência!
Encontrar-te-ei inteiro no mar de serenidade em
tempo que teima em não encontrar-te
em cada onda que não desiste da
espera?