Cumplicidade intelectual
Pode A CUMPLICIDADE INTELECTUAL tornar-se DESEJO?
Quem já amou alguém intelectualmente compatível, sabe o quanto o sexo fica
muito mais saboroso depois de uma boa conversa. Sabe que uma boa conversa é a
melhor das preliminares, o caminho mais certeiro para alcançar e satisfazer os
desejos mais íntimos da pessoa amada. Sabe que conversar é uma forma muito
especial de fazer amor.
Muito se fala sobre os
encantos físicos que atraem rapidamente o interesse das pessoas. Muito se fala
sobre a química da pele , sobre o beijo perfeito, sobre os lábios que parecem
ter sido feitos para nos beijar, sobre as mãos que parecem ter sido feitas para
nos tocar.
Muito se fala sobre
sensualidade e virilidade. Corpos malhados, perfeitos. Grande preparo físico
para loucas empreitadas sexuais. Corpos flexíveis, mãos experientes e hábeis.
Fôlego infinito. Verdadeiras maratonas sexuais em que é preciso estar atraente
sob os mais variados ângulos.
Muito se fala sobre
estímulos que nos capturam quase que imediatamente, que nos fazem cair na teia
de um jogo sexual bem banal se a gente for parar para pensar. Para falar a
verdade, nem é preciso pensar tanto assim...
O sexo virou
performance, um exibicionismo a mais na nossa cultura do simulacro. O amor mero
detalhe no contexto das relações eróticas. Se ele acontecer , aconteceu. Como
diria a música "Amor e sexo"...sexo antes, amor depois.
Mas, muitas vezes nos
esquecemos de que grandes encontros afetivos, pautados no amor, centrados no
amor necessitam de muita química intelectual. Sim, o intelecto pode ser um
grande afrodisíaco. Mais do que isso. Pode ser a bomba propulsora de uma
relação consistente e densa.
Nenhuma relação se
sustenta com caras e bocas e joguinhos de sedução desprovidos de inteligência e
ideais em comum. Sim, é preciso gostar de conversar com a pessoa. É preciso
gostar de estar com a pessoa. É preciso gostar de fazer amor com a pessoa pelo simples
fato de ser a pessoa que amamos e que nos ama.
Quando existe amor das
duas partes, com o tempo, o sexo vai se tornando cada vez melhor. Vai se
tornando melhor não porque nos tornamos atletas do sexo. Vai se tornando melhor
porque aprendemos a dar prazer a quem é especial para nós. Vamos aprendendo a
conhecer os limites e as necessidades de quem nos faz feliz fora da cama.
Quem já amou sabe o
quanto vale um abraço ou um beijo de despedida por parte de quem amamos. Quem
já amou alguém intelectualmente compatível, sabe o quanto é prazeroso e erótico
conversar com a pessoa pois a sexualidade não se expressa somente por meio de
músculos e genitais. A sexualidade está nas palavras, nas ideias compartilhadas, na troca cúmplice de olhares, naquele sorriso que demonstra que a pessoa
amada está te compreendendo.
Numa sociedade
materialista como a nossa, muito mais voltada para a aparência física e para os
estímulos sexuais imediatos, o texto pode soar bizarro. Numa sociedade
que busca parcerias afetivas no tumulto e no frenesim dos bares e das baladas,
pode soar estranho falar de conversa e intelecto como manifestações do
erotismo.
Na pressa em arranjar
alguém ou simplesmente se satisfazer sexualmente, muitas pessoas perdem a oportunidade de se desenvolverem e aprimorarem suas potencialidades afetivas
e intelectuais, transformando tudo em espasmos momentâneos.
E porque não a sedução em vez da conquista?
A busca em vez do encontro?
Conversar em vez de sexo?
Intimidade em vez de satisfação imediata?
Prazer em vez de consumação física?
Mão dada...
Olhar perfurante...
Olhar o mar num simultâneo azul....
Risos desencontrados...
Afectividade transparente...
Lealdade delicadamente assumida...
Lola