quarta-feira, 2 de maio de 2018

Maravilha-te, memória!




Maravilha-te, memória!


Maravilha-te, memória!
Lembras o que nunca foi,
E a perda daquela história

Mais que uma perda me dói.


Meus contos de fadas meus —
Rasgaram-lhe a última folha...
Meus cansaços são ateus
Dos deuses da minha escolha...

Mas tu, memória, condizes
Com o que nunca existiu...
Torna-me aos dias felizes
E deixa chorar quem riu.
.

Fernando Pessoa
21-8-1930
Poesias Inéditas (1919-1930)



                                            Lola