domingo, 28 de outubro de 2018

Pontos de Interrogação



Pontos de Interrogação


Como é que eu,
ouvindo tão mal, distingo
o teu andar desde o princípio do corredor?
Como é que eu,
vendo tão pouco, sei
que és tu chegas, conforme a luz?
Como é que eu,
de mãos tão ásperas, desenho
a tua cara mesmo tão longe dela?
Onde está
tudo o que sei de ti
sem nunca ter aprendido nada?
Serei ainda capaz
de descobrir a palavra
que larga o teu rasto na janela?
(Que seria de nós
se nos roubassem os pontos de interrogação?)

MÁRIO CASTRIM, 
in OS DIAS DO AMOR (Ministério dos Livros, 2009)



                                            Lola