domingo, 7 de julho de 2019

Estórias de Mulheres...




Estórias de Mulheres...


"A Maria é professora. E também é estúpida.
Ela sabe que é estúpida porque o João, o seu marido, lho diz. Explica sempre tudo o que a Maria expressa. E o João sabe o que diz. O João não tem nenhuma formação específica e prefere o café ao trabalho. Mas o João não é estúpido porque é homem e homens não são estúpidos.

A Raquel tem 50 anos. A Raquel é velha.

Ela sabe que é velha porque o Pedro, o seu companheiro, a esclarece com frequência. Aponta-lhe os cabelos brancos, as rugas no rosto, a flacidez das mamas. O Pedro tem 55 anos. Tem cabelos grisalhos, duplo queixo e a barriga já lhe encobre a pouca masculinidade. Mas o Pedro não é velho porque é homem e homens não envelhecem.


A Filipa é estudante. E é puta.
Ela sabe que é puta porque o Miguel, o seu namorado, lho explica. Às vezes com manifestações físicas: já lhe rasgou o decote de um top, já lhe esfregou o batom pelo rosto, já a proibiu de usar certas saias.
O Miguel implora sexo a tudo o que mexe, oferece-se em praça pública, exibe-se em tronco nu. Mas o Miguel não é puta porque é homem e homens não são putas.

A Bárbara é uma mulher realizada. E é infeliz. Ela sabe que é infeliz porque a Joana, a sua mãe, a informa constantemente. Precisas de alguém que te faça feliz, repete. A Joana é casada com o Raul, pai da Bárbara. O Raul é um adúltero que se diverte a abusar psicologicamente da Joana. Continua casado por cobardia. Sente um desprezo natural pela inércia da companheira. Mas a Joana não é infeliz porque 'tem' um homem e quem 'tem' um homem não é infeliz."





A Isabel está casada há quase 25 anos. A Isabel tem um marido que nunca a traiu e que a respeita. Os dois construiram uma cumplicidade, uma empatia e um Amor que sobreviveu às provas mais duras porque se fortaleceu nelas e se alimentou nas fases mais apaixonadas. A Isabel tem quase 50, mas o Marido continua a amar cada centímetro do seu corpo, a elogiar o seu peito e a gostar de a ver vestida com roupas que realçam a sua feminilidade. A Isabel tem um marido responsável por metade das tarefas em casa, que ama incondicionalmente os seus filhos e que sempre respeitou a sua independência e carácter. A Isabel sabe que o seu marido arriscou tudo para ter uma vida melhor e que o fez com o intuito de a ter ao seu lado, sempre. A Isabel sabe que o seu marido faz amor com ela da mesma forma que sempre fez, com paixão, com entrega, com a preocupação de que o prazer dela é tão ou mais importante que o seu. A Isabel ama o seu marido. Ela sabe que há Homens e que há homenzinhos. O marido da Isabel acha o machismo tão absurdamente estúpido quanto o feminismo bacoco, e lamenta que se realce sempre os maus exemplos sem mostrar os bons. Acha que a verdadeira instrução deve ser dada com a contraposição do que está errado com o que é certo, porque falar apenas do errado não é educativo per se.



                                                Lola