quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Ausente





A UM AUSENTE


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.

Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.



Antecipaste a hora.

Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?



Tenho razão para sentir saudade de ti,

de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.



Sim, tenho saudades.

Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste


Carlos Drummond de Andrade


Outras ausências...


"O que é um homem sem memória?
Um homem que não se reconhece mais em nenhum

 tempo, nenhum lugar, nenhum rosto?





O livro narra na 3ª pessoa a história do professor de literatura Ervin e a dificuldade de lidar diariamente com o Alzheimer. Ervin possuía uma vida atribulada com as muitas aulas que ministrava na universidade, era uma mente exemplar e pouco a pouco sua vida começou a mudar devido à doença de Alzheimer. Recebia apoio apenas da filha (psicóloga) e da esposa recebia repreensões, o que deixava Ervin mais angustiado.

A filha Flávia descreve aos poucos os efeitos devastadores do Alzheimer. É um livro envolvente e que traz grandes lições, principalmente para aqueles que desconhecem a doença. Mostra, também, o quanto é difícil para a família manter-se forte diante de uma situação como esta e que é preciso redimir-se de todos os sentimentos negativos para cuidar daquele familiar com carinho.

A autora teve a iniciativa meritoria de compartilhar toda a turbulência de sentimentos e emoções no decorrer desta doença, conseguindo ao mesmo tempo mostrar o verdadeiro significado da vida.



"A Doença de Alzheimer é uma experiência devastadora.
Para o doente, a perda gradual da memória é o apagar do mais essencial que possuímos, do que nos define e nos diferencia, daquilo que faz de cada um de nós, humanos: nossa identidade.
Para o familiar, é a dor de um luto prologado, pois, embora esteja vivo, aquele à nossa frente vai, pouco a pouco, deixando de ser quem um dia conhecemos e amamos. Mas, a doença também pode ser uma experiência transformadora, um aprendizado diário de novas formas de relacionamento, a descoberta de outros meios de comunicação possíveis que independem da fala, do raciocínio, da razão: o olhar, o toque, o afeto.
E ainda, pode ser uma experiência que, transcendendo a realidade, serve como matéria-prima para a criação artística, alimento imprescindível para nosso espírito, por intermédio da qual podemos expressar, compartilhar e amenizar nossas dores, emoções e sentimentos"


Lola