quarta-feira, 16 de julho de 2014

Sonhei-te de madrugada




Sonhei-te de madrugada!

Sonhei contigo e 
fiquei envolvida num abraço de ternura 
pelas recordações de momentos 
de outro modo improvàveis!
As mãos fundiram-se 
e a areia quente 
não conseguiu afastà-las!
Quando acordei 
estava com um balão de ar quente
 dentro de mim...
as mãos permaneciam enlaçadas
 pelo sorriso da vivência
 docemente sonhada
junto ao mar
infinitamente nosso!



"Eu nunca fiz senão sonhar. 
Tem sido esse, e esse apenas, o sentido da minha vida. Nunca tive outra preocupação verdadeira senão a minha vida interior. As maiores dores da minha vida esbatem-se-me quando, abrindo a janela para dentro de mim pude esquecer-me na visão do seu movimento.
Nunca pretendi ser senão um sonhador. A quem me falou de viver nunca prestei atenção. Pertenci sempre ao que não está onde estou e ao que nunca pude ser. Tudo o que não é meu, por baixo que seja, teve sempre poesia para mim. Nunca amei senão coisa nenhuma. Nunca desejei senão o que nem podia imaginar. À vida nunca pedi senão que passasse por mim sem que eu a sentisse. 
Do amor apenas exigi que nunca deixasse de ser um sonho longínquo. Nas minhas próprias paisagens interiores, irreais todas elas, foi sempre o longínquo que me atraiu, e os aquedutos que se esfumam — quase na distância das minhas paisagens sonhadas, tinham uma doçura de sonho em relação às outras partes de paisagem — uma doçura que fazia com que eu as pudesse amar."

Bernardo Soares, Livro de desassossego





E depois...
abri a janela do quarto que dava para o mar,
senti-te num aroma a maresia perfumada
em instantes vividos junto ao mar
de mãos ainda 
entrelaçadas pela areia
num olhar prolongado pela linha do horizonte!
e sorri...
teria dado metade de mim para te ver chegar, 
sorrindo numa imagem enrolada nas ondas do mar sereno!
Tem de ser a utopia do encontro....
continuas docemente longinquo....
Para quando o sonho num encontro azul 
de espera esperançada?




                                            Lola