sábado, 5 de julho de 2014

Sophia e o Mar





Sophia e o Mar



O amor de Sophia pelo mar da Granja




O mar é um elemento simbólico de grande importância em toda a obra poética de Sophia de Mello Breyner Andresen. 

Durante a infância e a juventude era comum vê-la com a família pelas praias da Granja, em Vila Nova de Gaia, onde passou muitas férias de verão. 

A RTP foi ao encontro desses lugares por onde a poetisa passou.


                                                                                     Pedro Oliveira Pinto/ Manuel Salselas/ Virgílio Matos/ Paulo Guimarães

02 Jul, 2014, 14:27 / atualizado em 02 Jul, 2014, 14:32





A poesia está na rua

Detentora de vários galardões literários e condecorada três vezes pela República Portuguesa, a poesia de Sophia situa-se entre uma sensibilidade estética espiritual e uma poesia social, de denúncia a qualquer tipo de ataque à dignidade humana (cujo estilo se acentuou durante o período que antecedeu o 25 de abril de 1974).

 "Esta é a madrugada que eu esperava / O dia inicial inteiro e limpo / Onde emergimos da noite e do silêncio / E livres habitamos a substância do tempo", escreveu sobre esse dia de abril.

Ainda agora, a intervenção de Sophia subsiste. Exemplo disso é a presença da frase por ela escrita "a poesia está na rua", outrora presente no emblemático quadro da pintora Vieira da Silva e imortalizada hoje pelas várias paredes dos bairros lisboetas.









Também o mar - há muito desbravado - foi das temáticas mais presentes na sua obra poética, cuja "escrita é de nau e singradura". Tanto é que o Oceanário de Lisboa expõe os seus poemas em zonas de descanso da exposição, permitindo aos visitantes absorverem esse mar enaltecido por "Sophia como quem procura a ilha sempre mais ao sul", escreveu Manuel Alegre num poema de homenagem.


SOPHIA

Da lusitana antiga fidalguia
Um dizer claro e justo e franco
Uma concreta e certa geometria
Uma estética do branco
Debruado de azul.
Sua escrita é nau e singradura
E há nela o mar o mapa a maravilha.
Sophia lê-se como quem procura
A ilha sempre mais ao sul.




Manuel Alegre


Foi no dia 2 de julho de 2004 que morreu na sua residência, em Lisboa, aos 84 anos. Sophia de Mello Breyner Andresen deixa editada uma vasta obra de poesia, antologia, prosa, ensaios e teatro. Casada com o jornalista, político e advogado Francisco Sousa Tavares e mãe de cinco filhos, entre eles o jornalista e escritor Miguel Sousa Tavares, Sophia de Mello Breyner permanece como uma poetisa intemporal, humana, uma poetisa do e para o povo.





Sophia de Mello Breyner Andresen

Uma atenção tão concentrada que /
parece distracção ou mesmo ausência./
Navegação abstracta e a urgência de /
conjugar o concreto e a imanência./

Ela colhe no ar a maravilha /
depois diz a safira o mar a duna /
procura o oriente o azul a ilha /
e seu canto a reúne: única e una./

E por isso o seu gesto é como asa /
onde há a Koré grega e a grafia /
de quem junta os sinais e os sons dispersos./

E o seu poema é quase como casa /
e a casa é o outro espaço onde Sophia /
reparte à sua mesa o pão e os versos./


01-07-2014 Manuel Alegre

" A poesia não se explica, a poesia implica" - Sophia de Mello Breyner Andresen

“Foi no mar que aprendi” 

Foi no mar que aprendi o gosto da forma bela 
Ao olhar sem fim o sucessivo 
Inchar e desabar da vaga 
A bela curva luzidia do seu dorso 
O longo espraiar das mãos da espuma 

 Por isso nos museus da Grécia antiga 
Olhando estátuas frisos e colunas 
Sempre me aclaro mais leve e mais viva 
E respiro melhor como na praia.
O Búzio de Cós e outros poemas, Caminho 


                                        Lola