quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Amor perfeito




Amor perfeito

Rita nunca mais esquecera as palavras daquele livro que lera na adolescência e que criaram nela certezas que hoje sabe que sem elas a sua vida seria radicalmente diferente.
Após a primeira leitura, por mais que uma vez  Rita revisitara as palavras de Erico Veríssimo em Olhai os Lirios do Campo para sonhar a possível eternidade daquele amor profundo mas clandestino de dois seres que a morte impediu de continuar amantes por mais tempo.

Quanto?
Rita não imagina...e era precisamente este corte abrupto, essa ruptura inexplicável, para ela, esse longínquo mistério que a fazia saborear com muita doçura, as palavras de ternura e paixão, deixadas escritas para o  amado pouco antes de ela morrer!
Hoje Rita não mais acredita em amores perfeitos e, sobretudo, eternos! 
E sente-se maravilhosamente por desacreditar! Não que isso a torne mais segura nos passos que vai trilhando entre as folhas enrugadas pela geada do inverno, mas porque busca outros sentidos  em pequeninas realidades que... bem, naquilo que tardou em reconhecer como o belo para cada momento sentido.
Aprendeu, por exemplo a admirar o anoitecer, a olhar demoradamente o infinito, a olhar atentamente as florinhas do jardim, a mexer a terra plantando o porvir de um colorido  de malmequeres que gosta de ver crescer!

Habituou-se a fruir a noite, que adora,  procurando nela a serenidade de estar consigo própria no seu recato  de momentos intransferiveis mas inteligíveis para si própria!
Hoje Rita não quer aceitar os amores eternos!
Gosta do fluir dos momentos sedutores pelas palavras que escreve, pelo seu encanto pelos livros que sempre a acompanham, pelas memorias que teima em respeitar e recordar, pelo sonho irrealizável - talvez - de um dia poder abraçar demorada e eternamente um olhar que sonhou há uns anos e que, irremediavelmente, vai permanecendo voluntariamente junto do seu eu!
Aprecia os gestos simples de um olhar sadio, de uma mão na mão ou mesmo  um sorriso que brota da espontaneidade de uma conversa tida a dois!
Rita gosta de sonhar! 

Com o improvável, talvez! Nada nem ninguém a vão afastar deste sonho de admirar a simplicidade e a disponibilidade de um rosto de ébano  que há muito a faz gostar cada vez mais de si própria em busca das palavras que lhe ecoam, de vez em quando, parecendo vindas do MAR: "Estás tão bonita!"

Hoje Rita busca apenas....
as mãos....
sim, as tuas ...
 capazes de enlaçar um corpo de rosas vermelhas que, há muito e, desajeitadamente, esperam, desejam, pedem e suplicam....

Um abraço de xadrez azul....
... a mesma cor do teu corpo quando te conheci! 



                                               Lola