domingo, 12 de janeiro de 2020

Lúbrica




Lúbrica


Mandaste-me dizer,

No teu bilhete ardente,

Que hás-de por mim morrer,

Morrer muito contente.

Lançaste no papel

As mais lascivas frases;

A carta era um painel

De cenas de rapazes!

Ó cálida mulher,

Teus dedos delicados

Traçaram do prazer

Os quadros depravados!

Contudo, um teu olhar

É muito mais fogoso,

Que a febre epistolar

Do teu bilhete ansioso:

Do teu rostinho oval

Os olhos tão nefandos

Traduzem menos mal

Os vícios execrandos.

Teus olhos sensuais

Libidinosa Marta,

Teus olhos dizem mais

Que a tua própria carta.

As grandes comoções

Tu, neles, sempre espelhas;

São lúbricas paixões

As vívidas centelhas...

Teus olhos imorais,

Mulher, que me dissecas,

Teus olhos dizem mais,

Que muitas bibliotecas!

Cesário Verde


                                                Lola