quarta-feira, 8 de julho de 2020

A grandeza da mãe Paula




A grandeza da mãe Paula

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·         Se perdesse uma filha num homicídio brutal, seria capaz de perdoar? E se o homem que a matou pusesse termo à vida, seria capaz de enviar condolências à família do assassino?

Estas são perguntas com as quais ninguém devia ser forçado a deter-se. Que inquietariam qualquer pai ou mãe. Estas são perguntas hostis de resposta tortuosa. Beatriz Lebre foi morta de forma cobarde por Rúben Couto, com quem mantinha um relacionamento amoroso. O seu corpo foi lançado ao rio Tejo e, cerca de um mês depois desse dia terrível, o homicida confesso pôs termo à vida na prisão. Mas nesta história trágica avulta uma lição maior. A da mãe da vítima, Paula Bochecha Lebre. "As minhas condolências à família de Rúben Couto. Não é possível medir sofrimento, mas uma morte é uma morte. Quando morre uma criança ou um jovem é sempre uma perda para as famílias como para a sociedade", escreveu ela no Facebook, abrindo o peito frágil de mãe, mas mantendo inviolável a decência e um profundo sentido de humanidade que não a deixa defender a pena capital. Ainda que fosse entendível que a desejasse para o carrasco da filha. "Prefiro um culpado livre do que um inocente no corredor da morte".

Perderam-se dois jovens em circunstâncias dramáticas. Sobrou uma dor corrosiva para as famílias. Mas ficou-nos como curativo espiritual e sobressalto cívico esta enorme, enormíssima, dádiva de Paula. Ter a capacidade de preservar os valores morais, civilizacionais, mesmo que habite nela uma dor infinitamente maior do que o corpo, é de uma grandeza ímpar e, por isso, merecedora da nossa vénia. Num mundo tão ensimesmado com futilidades, tão desgastado por ódios boçais e vaidades fátuas, tudo seria melhor com pessoas como Paula, com mulheres como Paula, com mães como Paula.
Senhor presidente da República, quer condecorar um português verdadeiramente merecedor? Ei-lo: chama-se Paula Bochecha Lebre, cidadã extraordinária.

Pedro Ivo Carvalho
JN, 8 de Julho de 2020




Eu, que sei de cor a dor de perder uma filha, sensivelmente da mesma idade, ainda que não devido à brutalidade assassina de outrém...
...não sei mesmo se 
conseguiria perdoar o autor de tamanha e amarga dor!



                                                Lola