sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Momento


MOMENTO

Aquele dia acordara soalheiro! 
Era, mais uma vez, de rotina matinal, porem a tarde revelava-se, para Rita e Pedro, uma sequência de momentos diferentes dado que iriam a uma conferência da empresa onde trabalhavam hà vàrios anos.
Eram amigos, demasiadamente amigos! De uma relação genuina, com respeito de olhares e interpretação de gestos desinteressados mas sem serem, de modo algum,  desinteressantes!
Rita tivera uma vida amarga de saudade em perdas irreparaveis, vivera momentos de violência em palavras rudes e gritos estridentes que de tão inesperadamente fortes tinham deixado marcas na alma de quem apenas gostava de paz e sorria a momentos de serenidade que cada vez mais iam rareando na sua vida desejavelmente pacata e sem sobressaltos.
De Pedro pouco sabia mas também era o que menos a perturbava. Bastava-lhe saber que em determinados momentos ele estava ali num apoio incondicional, por vezes, silencioso, mas que engrandecia a força que Rita nunca encontrara em ninguém!
Lembrava-se, perfeitamente, do primeiro dia que o vira entrar pela porta da empresa com ar de insegurança face a um mundo diferente, longinquo e desamparado! Notara-o porque teriam de partilhar a mesma secção da empresa que ela chefiava e isso obrigaria a contactos permanentes em termos profissionais!
Um dia coincidiram num momento de pausa para almoço e falaram de aspectos da vida pessoal sem limitações de linguagem ou de expressão de afectos, alguns jà dolorosamente passados e parcialmente apagados!
A partir dai não mais voltaram a esse quadro de vida passada e presente o que de certo modo elevava uma relação interessante mas totalmente impossivel de adjectivar com palavras fixas, seguras e limitadas!
O dia manteve-se soalheiro e...
... foi sorrindo ainda mais quando, no inicio da tarde, juntos, partiram para a reunião profissional que demoraria um percurso de conversa espontânea, variada, animada, cumplice e verdadeiramente envolta em improvisos e gargalhadas.
Rita sentia-se profunda e delicadamente liberta de uma pressão que tanto a sufocara  em amarras que ela propria, no seu intimo, nunca aceitara e que, por isso mesmo, se pintaram, muitas vezes,  em làgrimas de um amargo incolor. 
Naquele dia era diferente!
Sentia-se segura, apoiada, comoda e serenamente acompanhada num diàlogo que hà muito se notava ter mais de comum que de distancia  em relação ao mundo e à vida.
Quase sem dar por isso chegaram ao espaço reservado e ali mesmo, passadas as formalidades inevitaveis, pousaram demoradamente o olhar e estenderam o momento pela paisagem num cigarro que se tornou a unica testemunha de uma tarde agradavel e que deslizava delicadamente pelos recantos do espaço sumptuosamente decorado e magestosamente localizado na colina do casario que se deitava, mesmo ali à sua frente!
 E porque o momento convidava, antes mesmo do evento profissional, afinal o unico objectivo deste percurso alegremente partilhado numa cumplicidade invulgar, Rita e Pedro tomaram um "drink" não desistindo de continuar a conversa agradavel e do olhar comprometido com a envolvência que descia de modo geometricamente equilibrado até ao rio da parte velha da cidade!
Momento a momento o tempo foi deslizando num regresso agradavelmente partilhado em dialogo de palavras abertas e fluidas, saltitando de tema em tema como que se não houvera outro momento tão prazeroso!
Chegados, Rita deu um beijo a Pedro e agradeceu os momentos continuados de uma 
serenidade hà muito arredada da sua vida.
Para Pedro este teria sido, provavelmente, apenas mais um dia, mas isso, para ela, não  fazia diminuir a solenidade e elevação de estar com uma pessoa interessante, integra e serenamente maravilhosa! E isso, sim, era demasiadamente importante para que Rita procurasse  ler sentires e pensares que não o seu!
Por isso...
... quando a viagem parou devagarinho, Rita não olhou para tràs e caminhou apressadamente como que ainda perseguida pela temerosa intranquilidade  de tantos anos!
Pedro fez a viagem de regresso... 
... e a cidade, là longe, adormecia suave e delicadamente sem saber ter sido, nesse dia, a  anfitriã privilegiada de um dos momentos mais doces e suaves da vida de Rita!




Nessa noite, 
Rita adormeceu abraçada a esta balada... 
Ao fundo do quarto um guarda chuva amarelo teimava em desiquilibrar-se e na mesinha redonda, mesmo ao lado da sua cama, um sabonete cuidadosamente  embrulhado em papel colorido  olhava-a num cheirinho a PHILOSOPHIA!

Sorriu... 

Era mesmo  feliz!...







                                          Lola