Leonard Cohen
A notícia, ainda que
expectável, chegou como um relâmpago em dia de céu claro: às primeiras horas da
madrugada de hoje morria Leonard Cohen. Lendário e imenso poeta, escritor das
mais profundas e enigmáticas Canções dos séculos XX e XXI, aquele que via a
lonjura enquanto todos tropeçamos em horizontes, Cohen, nascido em Montreal,
Canadá, em 1934, tinha acabado de lançar um último e soberbo disco: 'You Want
It Darker'.
Vividas, mais do que inspiradas, as suas poesias
são um embaraço para a morte que nunca lhes virá.
Dialogou com Deuses e namorou religiões na mesma busca de absoluto com que
experimentou os seus antípodas, enfrentou fantasmas e foi iludido pela pequenez
dos homens, pelo meio libertou-se pela escrita, uma forma de nos salvar a nós
também, salvando-se a si próprio do fim irreversível.
Na canção que dá nome a este último disco ouvimo-lo
tranquilo dizer:
'A million candles burning for the help that never
came
You want it darker,
Hinani, Hinani,
I'm ready my Lord'.
E nesta prece, que ouviremos até que nós próprios
evoquemos ajuda que não virá, se declarava pronto. E eu acredito que estivesse,
tal é clara a tristeza e a certeza com que o faz, pressentindo o desfecho
perante o qual hoje veio a soçobrar. Que algum dos Deuses, a quem ao longo da
vida cantou e engrandeceu, o acolha e lhe saiba dar o lugar digno que, pela
Obra e Vida, merece.
Vi-te três vezes em espectáculos que me marcaram
mais do que qualquer livro, viagem ou romance. Sempre deles saí elevado e
transformado como se nos tivesses bafejado a todos com o encanto de vislumbrar
contigo o Céu.
Mudaste-me pela genuína Bondade com que transbordavas do palco.
Devo-te, também por isso, muito mais do que poderei jamais dizer pelas minhas
banais palavras.
I was not ready Master! Thank you, bless you.
Pedro Abrunhosa
Porto, 11.10.16
Lola