segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Quimica do amor





Quimica do amor

O amor visto visto à luz da química e da literatura


Chega às livrarias este sábado um livro que faz uma viagem a exemplos da presença da química na literatura, como o Amor de Perdição ou Os Lusíadas, agrupados em temas como o amor e a paixão, o sono e o sonho, os venenos e crimes ou os novos mundos dados ao mundo pelos Descobrimentos portugueses. 
Foi escrito por um químico português, que é professor na Universidade de Coimbra e gosta de divulgação científica, e este é o seu primeiro livro.
Na paixão estão envolvidas substâncias como a norepinefrina, a feniletilamina e serotonina, que são mensageiros químicos entre os neurónios 

Romeu e Julieta, escrito entre 1591 e 1595 pelo dramaturgo inglês William Shakespeare, é o protótipo de uma história de amor trágica. Este livro envolve, como muitos outros do mesmo autor, venenos e poções, assim como a “química” do amor. Os venenos e poções em Shakespeare foram já tratados por vários autores e serão referidos num outro capítulo. Neste, trataremos da química do amor.
Na obra mais famosa de Camilo Castelo Branco, Amor de Perdição (com o subtítulo Memórias de Uma Família), escrita em 1862 em cerca de 15 dias na Cadeia da Relação, no Porto, não há referências directas à química, embora o romance seja considerado por vezes (especialmente por quem não o leu) como um paradigma da repetida metáfora da “química do amor”.
 Não é bem assim, quanto mais não seja porque, paralelamente ao desenrolar do drama amoroso, o livro tem uma componente de romance de aventuras ao mesmo tempo negro e cómico, além de ser uma crónica de costumes, mostrando com crueza as arbitrariedades das classes dominantes e as condições de vida do povo na época em que se situa.
Também o drama amoroso do livro continua hoje em dia a ter, na minha opinião, bastante interesse. Do ponto de vista da tomada de consciência dos mecanismos químicos do amor e da atracção, as narrativas românticas vêm trazer algo de novo: a atracção amorosa é desenvolvida egocentricamente por aqueles que estão envolvidos nela, sem que esta seja provocada (aparentemente) por acções exteriores: poções, filtros ou manipulações de divindades.
Na Odisseia, de Homero, Helena e Páris foram manipulados pelos deuses, sem que pudessem resistir. Na história lendária do Tristão e Isolda, o amor incondicional resulta de uma poção. Mesmo no Romeu e Julieta, que é por vezes comparado ao Amor de Perdição, a situação é ainda relativamente ambígua. Embora o amor de Romeu e Julieta não resulte das poções e filtros amorosos que encontramos noutras peças de Shakespeare, nem pareçam existir manipulações realizadas por divindades, Cupido é referido várias vezes. E também, nesta obra, o amor é comparado a um veneno irresistível para o qual não há tratamento.
Depois dos clássicos, em que as personagens são manipuladas por divindades e drogas, com os românticos e os realistas o amor aparece como resultado de circunstâncias pessoais e processos psicológicos individuais.
Dos gregos antigos aos romances modernos, o amor, que é um fenómeno eterno, não muda, embora mude a interpretação do que é a atracção amorosa. Actualmente, acreditamos que a química do cérebro e das hormonas substituiu o controlo por divindades e as poções, assim como outros factores exteriores. Continuamos, claro, a não ser totalmente livres, mas somos nós e as nossas circunstâncias que fazem a “prisão” em que ficamos.
No Amor de Perdição, a fixação amorosa de Teresa Albuquerque por Simão Botelho e deste por Teresa começou, obviamente, como processo químico cerebral e hormonal. A manutenção de uma atracção amorosa duradoura entre as pessoas tem algumas semelhanças com a fixação instintiva das crias à mãe nos animais e do amor entre pais e filhos nos humanos. Para isso, concorrem as hormonas ocitocina e vasopressina. Mas, antes de chegar a essa fase, a atracção amorosa tem de passar por várias fases tumultuosas. 

Na adolescência surge o desejo por um parceiro amoroso provocado, nos homens, pela hormona testosterona, e, nas mulheres, pelos estrogénios. Depois, na presença de um parceiro desejável, a atracção, ou paixão, desenvolve se com a ajuda dos neurotransmissores [substâncias que funcionam como mensageiros químicos entre os neurónios] norepinefrina, feniletilamina, prolactiva e serotonina. 

Simão e Teresa são apresentados como muito desejáveis aos olhos um do outro: ele forte, belo e corajoso, ela bonita, elegante e delicada, mas os dois também carentes.
Na ausência de vida social e contactos com outros jovens, um problema que a família de Teresa tenta resolver demasiado tarde, Teresa apaixona-se facilmente por um rapaz galante, bonito e saudável, praticamente o único que vê como possível objecto amoroso. É também plausível que, numa situação particular como a do romance, em que existe um grande desamparo e solidão de Teresa e Simão, por razões diversas (Teresa tem pais distantes e Simão acha que os pais não gostam dele), essa paixão evolua para um amor duradouro que resista a ser contrariado e leve as pessoas envolvidas a renunciar a tudo o resto. Também a fixação de Mariana se foi desenvolvendo, primeiro com a gratidão devida ao salvamento do pai, depois com a galhardia de Simão Botelho a bater nos criados perto da fonte e, finalmente, com a proximidade do jovem herói. 
Do ponto de vista da química amorosa, não deixa de ser relevante a hesitação de Simão quanto à atitude a tomar em relação ao amor de Mariana.

In Publico SÉRGIO RODRIGUES
01/11/2014 - 09:00


E o AMOR junto ao Mar 

serà quimico ou generosa e 

desejavelmente atraente?




                                             Lola