segunda-feira, 31 de julho de 2017

Reconvexo






Reconvexo


Rita esperara ansiosamente o momento em que o dia deixa de ser o mesmo e dà lugar ao seguinte para escrever algo de muito sentido, como era seu timbre, a alguém muito especial que povoava o seu sono, o seu sonho, a sua vida de menina esperançada num futuro diferentemente colorido!
O dia outro que agora se iniciava na noite...era o seu dia dia...de Pedro, a metade da sua existência de quem tinha mesmo muita saudade mas que compartilhava com ela alguns gostos e, quem sabe? algumas utopias futurizas!
Pedro bailava na sua mente...por isso escolheu o tema de Caetano para lhe dedicar nesse dia que era muito seu!
E depois...
de tanto ouvir a melodia ficara muito curiosa com o contexto do conteúdo da mesma!
Entendia Rita ser uma mensagem muito culturalizada envolta num ritmo contagiante como era a sua ligação com Pedro!

E, ousadamente, Rita quis ser a primeira a  estar junto de Pedro...mesmo que somente com a doçura das palavras que lhe iam permitindo vencer a centena de kilometros que fisicamente se interpõem entre eles...numa memoria de milímetros, numa recordação constante de momentos vividos numa tranquila, prazerosa e muito, mesmo muito alegre con-vivência!

Para ti, my Dear
Toda a saudade que me faz existir, sorrir e sentir como é bom estar, sem estar, contigo!


Sabes que te Adoro?



https://www.youtube.com/watch?v=FYZpzzbEvHo


Eu sou o vento que lança a areia do Saara
Sobre os automóveis de Roma
Eu sou a sereia que dança
A destemida Iara
Água e folha da Amazônia
Eu sou a sombra da voz da matriarca da Roma Negra
Você não me pega
Você nem chega a me ver
Meu som te cega, careta, quem é você?
Que não sentiu o suingue de Henri Salvador
Que não seguiu o Olodum balançando o Pelô
E que não riu com a risada de Andy Warhol
Que não, que não e nem disse que não

Eu sou um preto norte-americano forte
Com um brinco de ouro na orelha
Eu sou a flor da primeira música
A mais velha
A mais nova espada e seu corte
Sou o cheiro dos livros desesperados
Sou Gitá Gogóia
Seu olho me olha mas não me pode alcançar
Não tenho escolha, careta, vou descartar
Quem não rezou a novena de Dona Canô
Quem não seguiu o mendigo Joãozinho Beija-Flor
Quem não amou a elegância sutil de Bobô


Quem não é Recôncavo e nem pode ser reconvexo




Sobre “Reconvexo” – Caetano Veloso

" No texto há um confronto entre um eu e um você. Eu refere-se a Caetano, que quer revelar na letra da música o seu orgulho de ser brasileiro, baiano, amante das coisas do país. O você, chamado de careta, refere-se a Paulo Francis.
Caetano, nesta época, estava em Roma e queria produzir uma música para Bethania gravar. Ao mesmo tempo, andava muito irritado com o jornalista Paulo Francis. Ele e Francis sempre foram amigos de polêmicas. Este já vivia em Nova Iorque nesta época e de lá escrevia textos jornalísticos sempre destrutivos e virulentos sobre a sociedade brasileira, os seus intelectuais, artistas e políticos. Nada nem ninguém escapava à verve satírica de Paulo Francis.
Caetano Veloso dá-lhe a resposta nesta música que termina descartando quem não é RECÔNCAVO (referência à Bahia) nem pode ser reconvexo. Esse é um neologismo, uma nova palavra criada por Caetano, com base em convexo, ou seja, aquilo que tem uma cavidade curva, que forma uma saliência arredondada para fora. Recôncavo baiano é a área litorânea do estado da Bahia, em torno da baía de Todos os Santos. Para Caetano, Paulo Francis não pode ser Recôncavo nem reconvexo. Por isso, descarta aquele que ele considera careta.
A música começou a surgir em uma manhã, quando, ao sair à rua, o compositor viu os carros cobertos de areia e perguntou a amigos italianos que o acompanhavam o que causava aquele fenômeno. Responderam-lhe que a areia vinha do deserto do Saara, trazida pelo vento. Foi o motivo primeiro para a sua inspiração. O motivo central da música foi dar uma esnobada em Paulo Francis."

Um fato interessante na letra é a junção das palavras Gita e Gogóia. A primeira é título da composição de Raul Seixas em parceria com Paulo Coelho, que dá nome ao álbum de maior sucesso, de 1974, da carreira de Raul Seixas, e também desenha uma consciência sobre o eu-lírico da canção. Ela faz uma referência ao Bhagavad-Gitā, um dos textos sagrados do Hinduísmo. Já a segunda faz parte de música (Fruta Gogóia) gravada por Gal Costa no LP Fa-Tal, de 1971, pinçada do folclore baiano. As duas músicas também mostram construções de identidades. Ambas, incluindo a de Caetano, começam com um pronome e um verbo que os filósofos desde a antiguidade vêm (re)pensando sobre: eu sou.


Reconvexo, termo por criado e muito criticado pelos gramaticistas à época, é uma resposta ao polêmico  Paulo Francis,  jornalista que residia em Nova Iorque e de lá escrevia textos jornalísticos sempre destrutivos e virulentos sobre a sociedade brasileira,  os intelectuais, artistas e políticos (quanto aos políticos hoje dou-lhe plena razão).
Em Roma, queria compor uma Música para Bethânia gravar e estava muito irritado com o jornalista por suas críticas, os nervos à flor da pele clamavam por uma resposta.  A composição nasceu de um modo inusitado. Certa manhã em  Roma, e na companhia de dois amigos italianos, ele viu que os carros estavam cobertos por areia e perguntou o motivo, eles responderam ser areia do Deserto do Saara trazida pelos ventos. Foi o motivo primeiro da origem temática da Música, mas o motivo principal da composição foi a vontade de esnobar Paulo Francis.  E na letra, resposta clara e evidente aparece ao enaltecer a cultura do Brasil.

Para melhor compreensão da letra:

A matriarca da Roma Negra: nas décadas de XX e XXX do século passado,  Aninha de Afonjá foi uma expressiva Ialorixá do Estado da Bahia, descendente da Nação Grunce, que assim chamava Salvador por ser a metrópole com maior número de negros fora da África;
Henri Salvador foi compositor, guitarrista e cantor originário da França, que morou na cidade do Rio de Janeiro,  e é considerado um dos precursores da Bossa Nova;
Olodum, bem conhecido bloco-afro presente no carnaval baiano que agita o Pelourinho e é ponto de turismo, cultura e lazer em Salvador;
Andy Warhol, famoso pintor e cineasta norte americano, participante do movimento pop-art, e a risada refere-se ao deboche irônico da sociedade moderna;
Gitá Gogoya, nada mais nada menos que uma alusão à Música Gitá de Raul Seixas e uma alusão à canção folclórica Fruta Gogoya, gravada por Gal Costa;
Dona Canô nem precisa de explicação, pois é a mãe de Caetano e de Bethânia;
Joãosinho Beija-Flor, maranhense, baixinho, magro e de língua presa que foi coreógrafo do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, e carnavalesco em várias Escolas de Samba do Rio;
Bobô, jogador de futebol, herói do time da Bahia que conquistou o título brasileiro de 1988, e agora...
A cartada final na letra, esnobando, descartando Paulo Francis e sua falta de brasilidade: "Quem não é recôncavo e nem pode ser reconvexo."

Reconvexofaz referência a diversos ícones culturais e questiona “caretas” que não estão prontos para admirar as coisas mais simples da vida que podem ser e são belíssimas, divertidas e com muito a ensinar . Os citados vão do mendigo/filósofo Joãozinho Beija-flor até ao jazzista francês Henri Salvador, apaixonado pelo Brasil, que viveu por um período no Copacabana Palace, marcou época no extinto Casino da Urca e é considerado um dos pais da Bossa Nova. No meio disso tudo estão Dona Canô, o Olodum no Pelourinho e a elegância sutil de Bobô, atacante que surgiu pelos gramados do Brasil no fim da década de 1980, levou o tricolor baiano ao título brasileiro e fez todos voltarem os olhos para o grande futebol jogado pelo Bahia, caretas ou não.






                                               Lola