domingo, 31 de dezembro de 2017

Vive





VIVE



Vive, dizes, no presente,

Vive só no presente.

Mas eu não quero o presente, quero a realidade;
Quero as cousas que existem, não o tempo que as mede.

O que é o presente?
É uma cousa relativa ao passado e ao futuro.
É uma cousa que existe em virtude de outras cousas existirem.
Eu quero só a realidade, as cousas sem presente.

Não quero incluir o tempo no meu esquema.
Não quero pensar nas cousas como presentes; quero pensar nelas 
como cousas.
Não quero separá-las de si-próprias, tratando-as por presentes.

Eu nem por reais as devia tratar.
Eu não as devia tratar por nada.

Eu devia vê-las, apenas vê-las;
Vê-las até não poder pensar nelas,
Vê-las sem tempo, nem espaço,
Ver podendo dispensar tudo menos o que se vê. 
É esta a ciência de ver, que não é nenhuma.


19-7-1920



ALBERTO CAEIRO, in POEMAS INCONJUNTOS,

 in POEMAS DE ALBERTO CAEIRO. 
FERNANDO PESSOA (Ática, 1946; 10ª ed., 1993)

Também eu vivo o presente, o presente que sou e não os presentes que tenho em mim! 
Passados de saudade guardo alguns...outros deitei, definitivamente fora! 
Não os quero, não me confortam, inúteis que foram!
Presente... 
um instante apenas, um sopro de vento, uma brisa que sabe a desejo de
querer  continuar a pensar-te...

Adoro-te, my dear!



                                           Lola