quarta-feira, 14 de março de 2018

Às vezes




Às vezes

Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe

Longinquamente um país

Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.
Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim.


Fernando Pessoa,.
21-11-1909
Novas Poesias Inéditas


                                            Lola