A tristeza lusitana
Embala-a o choro do mar
E às vezes tem um sorriso
Irmão-gémeo de chorar.
Tristeza antiga
Tristeza amiga
Do nosso luar.
Tristeza de Portugal
Baixo e terno soluçar
A tristeza que é só nossa
Tristeza nossa
Nem por flores, nem riquezas,
Nem por prendas sem igual
Ninguém trocar-te quisera
Tristeza de Portugal
Nossa somente
Doce mal
Só de quem sente
Mais suavemente
Que outro qualquer.
Tristeza como a tristeza
D’algum leve passarinho
Que chora co’o coração
E aos pobres diz «coitadinho»
Tristeza imensa
Terna e intensa
Do Algarve ao Minho.
Tem saudade, e saudades
Só as sente e mais ninguém
Quem tem aquela palavra
Para dizer que as tem
O povo de Portugal
Doa ou não ao seu mal
Só ele o conhece bem.
Ó mar que morres na praia
Acasos mortos no mar
Talvez que cantar cuideis
A alma do nosso penar.
Não sabeis, não o sentistes
Lágrimas, dores e tristezas
Só nós sabemos chorar,
A tristeza lusitana
Ninguém fala nela, não
Senão nós que a sentimos
Em lugar do coração.
O nosso amor
O nosso ardor
Tristeza são.
Fernando Pessoa