sábado, 23 de junho de 2018

SONETO À MANEIRA DE CAMÕES



SONETO À MANEIRA DE CAMÕES

Esperança e desespero de alimento

Me servem neste dia em que te espero
E já não sei se quero ou se não quero
Tão longe de razões é meu tormento.



Mas como usar amor de entendimento?
Daquilo que te peço desespero
Ainda que mo dês - pois o que eu quero
Ninguém o dá senão por um momento.


Mas como és belo, amor, de não durares,
De ser tão breve e fundo o teu engano,
E de eu te possuir sem tu te dares.


Amor perfeito dado a um ser humano:
Também morre o florir de mil pomares
E se quebram as ondas no oceano.


SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN, in CORAL (1950)
 in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010)


                                            Lola