EM TODOS OS JARDINS
Em todos os jardins hei-de florir
Em todos beberei a lua cheia,
Quando enfim no meu fim eu possuir
Todas as praias onde o mar ondeia
.
Um dia serei eu o mar e areia,
A tudo quanto existe me hei-de unir,
E o meu sangue arrasta em cada veia
Esse abraço que um dia se há-de abrir.
.
Então receberei no meu desejo
Todo o fogo que habita na floresta
Conhecido por mim como num beijo.
.
Então serei o ritmo das paisagens,
A secreta abundância dessa festa
Que eu via prometida nas imagens.
SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN,
in POESIA (Ed. Autora, 1944); (Assírio & Alvim, 2014),
in OBRA POÉTICA (Caminho, 2010)