Nome de menina
Dia
de aulas!
Manhã
de um dia de sol!
Pelo
passeio dirijo-me apressadamente para entrar na escola secundária pelo portão quase
em frente à escola preparatória!
De repente
e quase a chegar noto a presença de uma menina de olhar doce e moreno
que, muito educadamente, se me dirige dizendo:
-
Senhora Professora, podia deixar-me entrar por aqui!
Olhei-a
e respondo com a mesma candura:
- Eu
não posso deixa-la entrar…
Dias
antes todos os professores e demais trabalhadores da Escola Secundária tinham
sido avisados da proibição de entrada e saída de qualquer aluno por esse portão
na medida em que só o portão principal pode controlar através do cartão a
entrada e saida dos alunos da escola.
A
menina, ainda sem nome, olhou-me e disse:
- Eu
vou telefonar…a minha mãe trabalha naquela escola…
E eu
continuei a explicar, tratando-a como você, como me dirijo a todos alunos há cerca de quatro décadas.
-
Sabe…a direção não permite a entrada de alunos porque há meninos que procuram
fugir por aqui…
Ela
olhou-me…e eu continuei…
-
Tem de ir por fora e dar a volta para entrar pelo portão principal…
- Está
bem…obrigado!
Respondeu
ela com a mesma meiguice com que me abordou e começou a dirigir-se, passeio
abaixo, com a mochila às costas e a segurança de menina que sabe trilhar um caminho
alternativo! Sem contestar, vi-a afastar-se cerca de dez metros, se tanto…
Neste
entretanto…
…pensei…
- E se
acontece algo a esta menina?E se
aparece um carro com alguém estranho?
Pensamentos
de mãe que adora, ampara e cuida…
Não
hesitei…e disse prontamente…
-
Venha comigo…eu assumo!
A
menina entrou comigo e quando chegamos à recepção disse ao funcionário:
-
Entrei com esta menina que me pediu…
-
Não é nada comigo…tem de falar com a direção!
Fui
à direção e repeti que tinha desrespeitado a regra…e responderam-me:
-
Não o podes nem deves fazer…mas agora está feito…
A
menina dirigiu-se para o interior da Escola Secundária e nunca mais a vi…nem
sabia o seu nome…
Até
àquele dia triste de há três meses!
A
vila voltou a cobrir-se de um profundo cinza de perplexidade e saudade!
A
mamã “que trabalhava naquela escola” era a Cristinita Matos, aquele sorriso que
nos habituara há muitos anos…numa verdadeira resistência de quem não se deixa
vencer fácil e passivamente pela dureza amarga do indesejado!
Carolina
era a menina até então sem nome, para mim…
(Re)conheci
o seu nome no dia... da partida da mamã!
Olhei-a
uns dias depois na missa…ela iniciava um percurso de dor inverso ao meu…
Ela
olhou-me e não sei se me reconheceu!
Querida
Carolina, a nossa Cristinita (que foi minha aluna) deixou-nos o melhor de si…uma
menina moreninha de olhar perfumadamente doce que todos vamos agradecendo o
enorme prazer de conhecer!
Sabe,
Carolina?
Sempre
defendi que o domínio da moralidade está muito acima da legalidade e tendo,
voluntária e conscientemente, quebrado a proibição…fá-lo-ia mil vezes em nome
da segurança e tranquilidade de todos os meninos…
…como
a Carolina…a menina de nome ternurento que um dia conheci e para quem hoje escrevo com muito carinho!
Carolina,
quer ser minha aluna de Filosofia como a mamã?