domingo, 8 de julho de 2018

Nome de menina




Nome de menina

Dia de aulas!
Manhã de um dia de sol!
Pelo passeio dirijo-me apressadamente para entrar na escola secundária pelo portão quase em frente à escola preparatória!
De repente e quase a chegar  noto a presença de uma menina de olhar doce e moreno que, muito educadamente, se me dirige  dizendo:
- Senhora Professora, podia deixar-me entrar por aqui!
Olhei-a e respondo com a mesma candura:
- Eu não posso deixa-la entrar…
Dias antes todos os professores e demais trabalhadores da Escola Secundária tinham sido avisados da proibição de entrada e saída de qualquer aluno por esse portão na medida em que só o portão principal pode controlar através do cartão a entrada e saida dos alunos da escola.
A menina, ainda sem nome, olhou-me e disse:
- Eu vou telefonar…a minha mãe trabalha naquela escola…
E eu continuei a explicar, tratando-a como você, como me dirijo a todos alunos há cerca   de quatro décadas.
- Sabe…a direção não permite a entrada de alunos porque há meninos que procuram fugir por aqui…
Ela olhou-me…e eu continuei…
- Tem de ir por fora e dar a volta para entrar pelo portão principal…
- Está bem…obrigado!
Respondeu ela com a mesma meiguice com que me abordou e começou a dirigir-se, passeio abaixo, com a mochila às costas e a segurança de menina que sabe trilhar um caminho alternativo! Sem contestar, vi-a afastar-se cerca de dez metros, se tanto…
Neste entretanto…
…pensei…
- E se acontece algo a esta menina?E se aparece um carro com alguém estranho?
Pensamentos de mãe que adora, ampara e cuida…
Não hesitei…e disse prontamente…
- Venha comigo…eu assumo!
A menina entrou comigo e quando chegamos à recepção disse ao funcionário:
- Entrei com esta menina que me pediu…
- Não é nada comigo…tem de falar com a direção!
Fui à direção e repeti que tinha desrespeitado a regra…e responderam-me:
- Não o podes nem deves fazer…mas agora está feito…
A menina dirigiu-se para o interior da Escola Secundária e nunca mais a vi…nem sabia o seu nome…
Até àquele dia triste de há três meses!
A vila voltou a cobrir-se de um profundo cinza de perplexidade e saudade!
A mamã “que trabalhava naquela escola” era a Cristinita Matos, aquele sorriso que nos habituara há muitos anos…numa verdadeira resistência de quem não se deixa vencer fácil e passivamente pela dureza amarga do indesejado!
Carolina era a menina até então sem nome, para mim…
(Re)conheci o seu nome no dia... da partida da mamã!
Olhei-a uns dias depois na missa…ela iniciava um percurso de dor inverso ao meu…
Ela olhou-me e não sei se me reconheceu!
Querida Carolina, a nossa Cristinita (que foi minha aluna) deixou-nos o melhor de si…uma menina moreninha de olhar perfumadamente doce que todos vamos agradecendo o enorme prazer de conhecer!
Sabe, Carolina?
Sempre defendi que o domínio da moralidade está muito acima da legalidade e tendo, voluntária e conscientemente, quebrado a proibição…fá-lo-ia mil vezes em nome da segurança e tranquilidade de todos os meninos…
…como a Carolina…a menina de nome ternurento que um dia conheci e  para quem hoje escrevo com muito carinho!
Carolina, quer ser minha aluna de Filosofia como a mamã?



                                            Lola