quinta-feira, 16 de agosto de 2018

Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia




Passei o Dia Ouvindo o que o Mar Dizia


Eu ontem passei o dia 
Ouvindo o que o mar dizia.



Chorámos, rimos, cantámos.
Falou-me do seu destino, 
Do seu fado...

Depois, para se alegrar, 
Ergueu-se, e bailando, e rindo, 
Pôs-se a cantar 
Um canto molhado e lindo.

O seu hálito perfuma, 
E o seu perfume faz mal!

Deserto de águas sem fim.
Ó sepultura da minha raça 
Quando me guardas a mim?...

Ele afastou-se calado; 
Eu afastei-me mais triste, 
Mais doente, mais cansado...

Ao longe o Sol na agonia 
De roxo as águas tingia.

«Voz do mar, misteriosa; 
Voz do amor e da verdade! 
- Ó voz moribunda e doce 
Da minha grande Saudade! 
Voz amarga de quem fica, 
Trémula voz de quem parte...» 
. . . . . . . . . . . . . . . . 
E os poetas a cantar 
São ecos da voz do mar!


António Botto (1897-1959)
in 'Canções'



                                            Lola