domingo, 16 de dezembro de 2018

Que Bem Sabe o Amor Constante




Que Bem Sabe o Amor Constante

Até no carro te canto, 
Fala a fala, seio a seio, 
Espantado de um encanto 
Que mais parece receio



De te perder à partida 
Pra te ganhar à chegada, 
Pois tu és a minha vida 
Na ida e volta arriscada.


Vai o Godinho ao volante 
Com seu ar de conde antigo 
Que bem sabe o amor constante 
Que me aparelha contigo.

Poupado na gasolina, 
Discreto na confidência, 
Navegador à bolina 
Dos rumos da nossa ausência.


Leva-me à Embaixada, ao almoço: 
Travou, mas não sei que tenho: 
Um resto de ardor de moço 
Contigo no meu canhenho.


Vitorino Nemésio, 
in "Caderno de Caligraphia e outros Poemas a Marga"

                                            Lola