Desamigar
Aquilo em que não queremos pensar
São como barcos à deriva na noite. Existem
ainda, podemos vê-los, as fotografias do seu rosto estão bem focadas mas, ao contrário
de nós, deixaram de estar enredados em tudo, deixaram de preocupar-se,
dispensam a oportunidade de partilhar mais links,
já chega, não precisam de comentar o que toda a gente comenta, não contabilizam
o número de likes.
Os amigos do Facebook que morreram
continuam na nossa lista. Não tivemos coragem de desamigá-los, apesar de
sabermos que aquele perfil já não lhes pertence, eles já não estão lá. Às
vezes, o quadrado com o rosto deles aparece a meio de qualquer caminho
prosaico: sugerido quando procuramos alguém com um nome semelhante, quando
entramos no perfil de um amigo comum ou por simples capricho da máquina. Entre
vídeos de dois minutos, fotografias de alguém na praia e aforismos que podem
rimar ou não, esses encontros súbitos lembram-nos que a morte faz parte do
mundo.
Às vezes, também pode acontecer que
sejamos nós a dirigirmo-nos aos perfis de Facebook dos nossos amigos mortos,
sabemos onde encontrá-los. Lá, espera-nos um longo instante, tempo estagnado. O post mais recente que publicaram fala de um tema que o
Facebook ultrapassou há muito. Existe uma grande diferença de tom entre esse post, ignorante da morte que se aproximava, e os
comentários, póstumos, a lamentarem essa mesma morte. O nosso amigo nunca teve
tantos likes e tantos comentários. Demasiado tarde, dirigem-se a
ele, tratam-no por tu.
Que post escreveremos
nós se soubermos que é o último?
Algum dia chegará essa hora. Espero que
não seja novidade para ninguém, não quero ser eu a dar esta notícia aziaga.
Algum dia chegará o momento em que todos estaremos mortos, até os mais
inocentes, até aqueles que não merecem. Antes disso, no entanto, iremos
acumular mortos entre os nossos amigos do Facebook. Se vivermos tempo
suficiente, é possível que cheguemos a um momento em que, no Facebook, teremos
mais amigos mortos do que vivos. Depois, entraremos também nessa multidão de
mortos, perfis baldios, roupas fora de moda nas fotografias. Nesse dia, se
olharmos para este instante preciso, acredito que vamos achar que passou pouco
tempo entre aqui e lá, entre este e esse momento.
José Luís Peixoto, in Notícias Magazine,
17 de janeiro de 2016
Eu não quero...
não quero mesmo desamigar alguns seres
que partiram e que continuam no Facebook!
Porquê?
Porque morreram para AQUI
mas continuam exageramente embrenhados
na minha vida que os gostou de forma doce!
Continua no meu telemóvel o numero da minha filha Diana
Que desde há nove anos não está fisicamente comigo...
Continua no facebook o meu amigo João Reimão que partiu há cerca de três meses...
De vez em quando dirijo-me a eles,
é verdade
e não é por um esquecimento fugaz de que irremediavelmente partiram!
Mas...
por esta necessidade existencialmente arrebatadora
de os ter permanente e saudavelmente na minha memoria e...
sobretudo na SAUDADE que lhes devo e os quero...
PERMANENTEMENTE em mim!