domingo, 19 de março de 2017

Continuas meu...



Continuas meu...



Rita adormecera um pouco naquela tarde vencida que estava pelo cansaço de umas horas de trabalho acinzentado! Como sempre,  gostava de se encostar, devagarinho, ao sonho que nunca sabia bem se e como chegava, se o desejava ou se o arrumava no esquecimento.
Num momento de um outono acabrunhado recostou-se e penetrou no sono fluido pelo sonho demoradamente perfurante, de tal modo que ao acordar a fizera soltar um sentido e elegante sorriso de verão!
Pedro povoara a sua tarde de esmerado reconforto conversando animadamente com ela e intervalando com um ou outro abraço como só ele sabia dar...e, carinhosamente, receber!
Havia meses que não se viam mas sentiam tal era a distância que os afastava e a saudade que os unia numa tranquilidade que nunca nenhum dos dois sentira o desejo repentino de interromper  o normal decurso da sua vida para vir junto do outro dizer que o admirava e que sentia, irremediavelmente, a sua falta! 
Os afectos eram no mundo existencial de Rita um tema perfumadamente delicado! Se outrora acreditara, dogmaticamente, que o amor poderia ser harmoniosa e linearmente vivido, quando foi aprendendo a conhecer Pedro notou-lhe um não sei o quê de encanto delicioso que a fez por em questão ideias de tempos idos!Por isso, sentia-se reconfortadamente serena neste período da sua vida em que alguém, sem o saber, acrescentara à sua vida um pouco mais de alento, de desmedido aconchego, de uma saudade que o futuro ia expressando em utopia!
Sentira como nunca as mãos de Pedro afagando o seu rosto e enlaçando o seu corpo de menina...sorrira como nunca às palavras que Pedro tão delicadamente conversara com ela... vivera como nunca momentos de cumplicidade extrema que a tornaram uma pessoa surpreendentemente tolhida pelos momentos de sonho que, inesperada mas sempre agradavelmente, a fizeram ter cada vez mais a certeza boémia de que Pedro...

...continuaria seu!

Porquê?

Porque somente Rita o quer de uma maneira incomparavelmente única, com um cuidado plenamente transbordante de afectos que o seu coração enorme e generoso nunca deixaria, teimosamente,  adormecer!


Adoro-te, my dear!



                                             Lola