segunda-feira, 12 de junho de 2017

O amor é um poema.



POEMA SEXAGÉSIMO SEXTO 
(excerto)  



O amor é um poema. 
Dói e canta cá dentro.
 Tem a filosofia das árvores, 
a lição do mar, 
os ensinamentos que as aves recolhem 
quando migram para lá dos desertos, 
de onde hão-de
 regressar mais sábias e seguras. 

O amor é uma causa.
 Uma luta excessiva com a divindade
dos dias e a sua fogueira obscura.
 Mas também contra o mistério de si mesmo, 
uma paz que nos dá o cansaço e a loucura infeliz da felicidade,
 esse primitivo terror dos sinos que tocam 
como um aviso aos densos nevoeiros súbitos do mar
.
O amor é uma casa.
 Erguida com os beijos, com os versos
da noite e o gemido das estrelas.
 Casa cujas paredes vestem o nosso júbilo,
 a nossa intuição, a nossa vontade, 
sobretudo o nosso instinto e a nossa sabedoria. 
Onde se acende e brilha a luz suplicante da pele comprometida dos amantes.

O amor é um gigantesco pequeno mistério, 
uma estranha generosidade que faz com que,
 quanto mais damos, com mais
ficamos para dar.

Só o amor é o elixir da juventude. 
Não esse que sempre se procurou nas indecifráveis fórmulas 
dos antigos livros de magia e de alquimia, 
mas aquele que está tão perto de nós
 que,
por vezes
 o pisamos sem reparar.


JOAQUIM PESSOA
 in GUARDAR O FOGO 
(Edições Esgotadas, 2013)


O amor é, também, 
o cheirinho perfumado do teu rosto 
de menino ternurento,
da tua voz em melodia de 
um suave amanhecer, 
do teu sorriso oportunamente aveludado, 
do sabor dos teus abraços 
que deixam saudade cada vez que penso dolorosamente a distancia...
Não sentes 
o perfume inebriante do nos, my dear?



                                              Lola