POEMA
SEXAGÉSIMO SEXTO
(excerto)
O amor é um poema.
Dói e canta cá dentro.
Tem a
filosofia das árvores,
a lição do mar,
os ensinamentos que
as aves recolhem
quando migram para lá dos desertos,
de onde hão-de
regressar mais sábias e seguras.
O amor é uma causa.
Uma luta excessiva com a divindade
dos dias e a sua fogueira obscura.
dos dias e a sua fogueira obscura.
Mas também contra o mistério de si mesmo,
uma paz que nos dá o cansaço e a loucura infeliz da felicidade,
esse primitivo terror dos sinos que tocam
como um aviso aos densos nevoeiros súbitos do mar
.
O amor é uma casa.
O amor é uma casa.
Erguida com os beijos, com os versos
da noite e o gemido das estrelas.
da noite e o gemido das estrelas.
Casa cujas paredes vestem o nosso júbilo,
a nossa intuição, a nossa vontade,
sobretudo o nosso instinto e a nossa sabedoria.
Onde se acende e brilha a luz suplicante da pele comprometida dos amantes.
O amor é um gigantesco pequeno mistério,
uma estranha generosidade que faz com que,
quanto mais damos, com mais
ficamos para dar.
ficamos para dar.
Só o amor é o elixir da juventude.
Não esse que sempre se procurou nas indecifráveis fórmulas
dos antigos livros de magia e de alquimia,
mas aquele que está tão perto de nós
que,
por vezes
por vezes
o pisamos sem reparar.
JOAQUIM PESSOA
in GUARDAR O FOGO
(Edições Esgotadas, 2013)
O amor é, também,
o cheirinho perfumado do teu rosto
de menino ternurento,
da tua voz em melodia de
um suave amanhecer,
do teu sorriso oportunamente aveludado,
do sabor dos teus abraços
que deixam saudade cada vez que penso dolorosamente a distancia...
Não sentes
o perfume inebriante do nos, my dear?
Lola