Miminho
Rita entrara cedo para trabalhar e fora directa à sua secretária onde já a esperavam um conjunto de documentos para analisar, reflectir e argumentar em respostas de solidez quase que irrefutàveis ... o que, como se sabe, dificilmente é conseguido e, muito menos expectável num universo essencialmente avido de troca de pontos de vista e onde o consenso deveria ser, definitivamente proibido!
A meio da manha decidiu parar um pouco para aligeirar o espírito e reconfortar as ideias que, havia dias eram mais necessárias que o ar para se respirar o mundo!
Embora ao longo dos anos, Rita (con)vivesse com o sabor perfumado do café, a verdade é que nos dias de hoje, apenas lhe seduzia o cheiro e nao desgostava de estar ao lado de alguém que o estivesse a tomar: era como se repartissem o indivisível - Rita ficava com o cheirinho daquele café saboreado por outrém, ali mesmo ao seu lado!
E se o café fosse saboreado por Pedro, como tantas vezes aconteceu naquele espaço, então o momento tornava-se intimamente seu, com um não sei quê de magia poética como só ela e Pedro sabiam deliciar!
Pedro, porém e, desafortunadamente, não estava ali perto de si...e que falta lhe fazia a candura da sua voz a pronunciar o seu nome... Rita ainda o ouvia e sentia!
Ainda a pensar...Rita ouviu a voz da funcionária dizer-lhe:
- Chegou hoje, é para si, enquanto lhe entregava em mão um envelope acolchoado que Rita pegou com surpresa, mas com uma alegria desmedida pois desde logo reconhecera a letra de Pedro no remetente e, claro, no seu nome com um desenhar de palavras como somente Pedro era capacitado para o fazer!
Desviou-se um pouco para abrir o envelope que, a partir desse momento agarrou com apego e saudade e, num momento de intimidade pura (pois não pretendia partilhar esse instante com ninguém...) abriu, cuidadosamente procurando, no seu interior o miminho que Pedro escolhera para lhe enviar!
Um livro...Que Bom!
Não era a primeira vez que Rita e Pedro ofereciam livros um ao outro, mas era sempre reconfortante receber um miminho de Pedro pois não só apaziguava a infinita saudade que Rita sentia da sua presença como e, sobretudo, levavam-na a imaginar Pedro a pensar nela, a entrar na livraria, a escolher o livro, a escrever a sempre imprescindível dedicatória, a dirigir-se ao correio, a pegar e fechar o envelope, a escrever o seu nome... a entregar para fazer a viagem atè às mãos de Rita!
Rita pegou o livro com extrema doçura!
Deslizou as suas mãos ao longo das letras em pequeno relevo, desenhadas a branco e folheou-o num ápice para lhe encontrar o tema que logo, logo lhe saltou à vista e que poderia converter-se num tema/problema de cariz eminentemente filosofico:
Será possível ajudar os alunos (que não querem) a aprender?
O que distingue este do aluno "dito" normal?
E quando o aluno exige do professor Amor e não só empatia"!
Tema interessante a reflectir nos próximos dias ...folheando as paginas do livro com a mesma ternura com que alguém tao importante o fizera chegar atè ao coração de Rita...
pois...
...é ai mesmo que ela o guarda sempre que o sono vence o seu eterno desejo de estar, através das paginas de um livro, com as suas mãos nos braços envolventemente morenos de Pedro!
Já te disse hoje
que te adoro, my dear?
Lola