segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Miminho




Miminho

Rita entrara cedo para trabalhar e fora directa à sua secretária onde já a esperavam um conjunto de documentos para analisar, reflectir e argumentar em respostas de solidez quase que irrefutàveis ... o que, como se sabe, dificilmente é conseguido e, muito menos expectável num universo essencialmente avido de troca de pontos de vista e onde o consenso deveria ser, definitivamente proibido!
A meio da manha decidiu parar um pouco para aligeirar o espírito e reconfortar as ideias que, havia dias eram mais necessárias que o ar para se respirar o mundo!
Embora ao longo dos anos, Rita (con)vivesse com o sabor perfumado do café, a verdade é que nos dias de hoje, apenas lhe seduzia o cheiro e nao desgostava de estar ao lado de alguém que o estivesse a tomar: era como se repartissem o indivisível - Rita ficava com o cheirinho daquele café saboreado por outrém, ali mesmo ao seu lado!
E se o café fosse saboreado por Pedro, como tantas vezes aconteceu naquele espaço, então o momento tornava-se intimamente seu, com um não sei quê de magia poética como só ela e Pedro sabiam deliciar!

Pedro, porém e, desafortunadamente, não estava ali perto de si...e que falta lhe fazia a candura da sua voz a pronunciar o seu nome... Rita ainda o ouvia e sentia!

Ainda a pensar...Rita ouviu a voz da funcionária dizer-lhe:
- Chegou hoje, é para si, enquanto lhe entregava em mão um envelope acolchoado que Rita pegou com surpresa, mas com uma alegria desmedida pois desde logo reconhecera a letra de Pedro no remetente e, claro, no seu nome com um desenhar de palavras como somente Pedro era capacitado para o fazer!

Desviou-se um pouco para abrir o envelope que, a partir desse momento agarrou com apego e saudade e, num momento de intimidade pura (pois não pretendia partilhar esse instante com ninguém...) abriu, cuidadosamente procurando, no seu interior o miminho que Pedro escolhera para lhe enviar!

Um livro...Que Bom!

Não era a primeira vez que Rita e Pedro ofereciam livros um ao outro, mas era sempre reconfortante receber um miminho de Pedro pois não só apaziguava a infinita saudade que Rita sentia da sua presença como e, sobretudo, levavam-na a imaginar Pedro a pensar nela, a entrar na livraria, a escolher o livro, a escrever a sempre imprescindível dedicatória, a dirigir-se ao correio, a pegar e fechar o envelope, a escrever o seu nome... a entregar para fazer a viagem atè às mãos de Rita!


Rita pegou o livro com extrema doçura!
Deslizou as suas mãos ao longo das letras em pequeno relevo, desenhadas a branco e folheou-o num ápice para lhe encontrar o tema que logo, logo lhe saltou à vista e que poderia converter-se num tema/problema de cariz eminentemente filosofico:

Será possível ajudar os alunos (que não querem) a aprender? 
O que distingue este do aluno "dito" normal? 
E quando o aluno exige do professor Amor e não só empatia"!

Tema interessante a reflectir nos próximos dias ...folheando as paginas do livro com a mesma ternura com que alguém tao importante o fizera chegar atè ao coração de Rita...
pois...
...é ai mesmo que ela o guarda sempre que o sono vence o seu eterno desejo de estar, através das paginas de um livro, com as suas mãos nos braços envolventemente morenos de Pedro!

 te disse hoje 
que te adoro, my dear?



                                              Lola