Nuvem
Um dia, Hipólito Clemente, da Livraria Opinião (já falecido, tal como a livraria) mostrou a Júlio Pereira um livro que Eugénio de Andrade escrevera a pensar nas crianças: “Aquela nuvem e outras” (1986).
Ele leu-o e parou, extasiado, num dos poemas que recorda agora como “um diálogo entre uma nuvem e um puto”.
- É tão bom ser nuvem,
ter um corpo leve,
e passar, passar.
- Leva-me contigo
Quero ver Granada.
Quero ver o mar.
- Granada é longe,
o mar é distante.
Não podes voar.
- Para que te serve
ser nuvem, se não
me podes levar?
- Serve para te ver
e passar, passar.
Eugénio de Andrade