segunda-feira, 23 de abril de 2018

Ode-menina



Ode-menina

Sonho por trás de cada porta um amor indestrutível.
É preciso que cada palavra seja um símbolo da vida.
É preciso que cada palavra seja a própria vida.

Que cada uma dance, como uma estrela-solar no centro do coração de uma baleia.

É preciso que as palavras sejam usada para impedir uma guerra
que cada uma, nuclearmente dita, impeça uma destruição,
uma agressão, que cada palavra, sabiamente usada,
seja o centro de um coração nascente. 
É preciso o teu grito, 
o teu movimento,
precisamos da tua força indestrutível que pode reconstruir o mundo.

Passo agora por uma rua de Chicago,
Pode ser Arouca, ou melhor, Passargada.
Aqui vive gente. Passam em frente a esta barbearia, 
Olham para a esquerda e para a direita para passar a rua,
Olham com segurança, com medo ou com alegria 
de infinitas formas diferentes o dia que começa, 
entram nos autocarros, cruzam olhares,
Fragmentos dos seus dias. 
As coisas que se amam crescem juntas.
Cruzam os seus fogos. 
Rompem, rasgam, sobem.

É preciso que cada palavra se ria, quente doseada,
até o seu coração-nascente – É preciso – como uma oração –
Dar as mãos, sentir o silêncio solar do mundo, pedir perdão,
Dizer obrigado, dizer, por exemplo: os teus olhos quentes e fechados são a mais magnifica surpresa do universo – e dizê-lo, quente, àquela pessoa que está à nossa frente,
É preciso que alguém deixe as suas sandálias junto a um promontório
e mergulhe fundo no mar de Lagos, é preciso que alguém olhe diretamente o sol
E diga: (Nascente), (Nascente), (Nascente)
É preciso dizer liberdade com os olhos fechados e os lábios húmidos,
É preciso ver como um ouriço se contrai junto ao chão, com o seu coração a bater, separado do chão por uma finíssima camada de pele, a sua textura, é preciso dizer aí está uma nuvem, aí está um pássaro, aí está um semáforo.
Em cada coração bate uma esperança. Em cada coração bate o mundo todo, a casca áspera das árvores, o silêncio solar do mundo.

Sonho. Por trás de cada porta um amor indestrutível.
Deixei amigos quentes espalhados por promontórios, 
penínsulas, cidades, desertos vermelhos, deixei uma vontade solar no centro de um coração nascente e dez mil pessoas disseram que o mar subiu – devagar – tomou conta dos diários do quinto andar – O mar disse: Esta é uma história que está a começar, e na verdade não é uma história, é um abraço. E as coisas que se amam crescem juntas, sem nome, os meus olhos quentes e fechados. Os teus cabelos molhados, os pés de uma criança que cruza a praia. África inteira a pulsar.

É preciso que cada palavra reconstrua o mundo.
É preciso que cada palavra faça nascer o mundo.
É preciso que cada palavra liberte o mundo.

É preciso.
É preciso.
É preciso.

Nuno Brito
22 de Abril de 2018

                                          Lola