sexta-feira, 21 de abril de 2017

Gostava de te conhecer


Gostava de te conhecer

Um dia Rita ouviu, por acaso, uma conversa acerca do desempenho profissional de Pedro numa reunião de trabalho là na empresa!
Curiosa, como ela própria se definia, e porque era a primeira vez que alguém tecia considerações sobre ele, prestou  uma meticulosa atenção, até porque sem o saber, Pedro jà galvanizara a sua vontade de encontro, o seu desejo, há muito adormecido, de conhecer, descomprometidamente, alguém que lhe suportasse o sono e lhe colorisse os sonhos de si revestidos de  uma neblina exageradamente desconcertante!
Rita gostava muito da sua profissão ao serviço do Outro! 
E, por isso mesmo, nao era raro cruzar-se com outras formas de entender o mundo e a vida e isso garantia-lhe uma criatividade emergente pouco ou nada compatível com uma rotina monocórdica de que ela nunca fora adepta!
Pedro chegara precisamente com esse quê de sedução no mistério que, por timidez ou por opção consciente, nao se mostrava numa possível transparência existencial!
E,  se de inicio, Rita achara estranho esse véu de diferença que protegia Pedro, agora entendia que cada um pode e deve resguardar o seu eu de potenciais intromissões que desvirtuam modos de vida que se pretendem de saudável recato! 
Depois...
porque nao compreender a admirável busca do encontro com o outro naquilo que para Rita era, ainda, de profundo desconhecimento?
porque nao desejar a agradável procura do encanto que, silenciosamente, Pedro iria, por certo, desvelando? 
 Hoje, porém, Rita tinha a convicção de que... 
... era mesmo bom desconhecer-te, Pedro! 
Isso evita a consciência luzidia dos potenciais entraves, a visao clara e inevitavelmente controversa dos interditos entre nos, o promissor desencanto de uma distancia que podendo tardar, adormece a esperança e ludibria a utopia do possível!
Era inevitável nao acreditar que tanto Rita como Pedro transportavam, cada um por si ,pedaços de vida que o outro ignorava completamente, um tempo e percursos de existência nao felizmente partilhada e muito menos comunicada!
Gostava de te conhecer, Pedro, 
porém...desconheço-te e isso, talvez permita que eu possa querer-te sempre de uma forma solitária, intima e decidida em palavras ainda nao dialogadas e, muito provavelmente, nunca partilháveis!
Sinto saudade de futuros contigo! Por isso...
...O que eu quero mesmo é...
 desconhecer-te, Pedro!
Porquê?
Porque te adoro, my dear?


                                               Lola