O Carteiro e o Poeta
No filme O Carteiro
e o Poeta (baseado no livro O Carteiro de Pablo Neruda, de
Antônio Skámeta) temos o seguinte diálogo entre Neruda – o poeta – e Mário – o
carteiro:
“- O que tens?
- Don Pablo?
- Ficas aí parado como um poste.
Mário torceu o pescoço e firmou os olhos do poeta de
baixo a cima.
- Cravado como uma lança?
- Não, quieto como uma torre de xadrez.
- Mais tranquilo que gato de porcelana.
Neruda largou a maçaneta do portão e acariciou o
queixo.
- Mário Jinenes, além das Odes Elementares, tenho
livros muito melhores. É indigno que me submetas a todo tipo de comparação e
metáforas.
- D. Pablo?
- Metáforas, homem!
- Que coisas são essas?
- Para te esclarecer mais ou menos imprecisamente, são
maneiras de dizer uma coisa comparando-as a outra.
- Dê-me um exemplo.
- Neruda olhou para o relógio e suspirou.
- Bem, quando tu dizes que o céu está a chorar, o que
é que queres dizer?
- Que fácil! Que está a chover, pois.
- Bem, isso é metáfora.
- E por que sendo tão fácil se chama uma coisa tão
complicada?
- Porque os nomes não têm nada a ver com a
simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena
que voa não devia ter o nome tão complicado como mariposa. Pensa que elefante
tem o mesmo número de letras, é muito maior e não voa – conclui Neruda,
exausto”.