quarta-feira, 12 de abril de 2017

O Carteiro e o Poeta






O Carteiro e o Poeta


No filme O Carteiro e o Poeta (baseado no livro O Carteiro de Pablo Neruda, de Antônio Skámeta) temos o seguinte diálogo entre Neruda – o poeta – e Mário – o carteiro:

“- O que tens?
- Don Pablo?
- Ficas aí parado como um poste.
Mário torceu o pescoço e firmou os olhos do poeta de baixo a cima.
- Cravado como uma lança?
- Não, quieto como uma torre de xadrez.
- Mais tranquilo que gato de porcelana.
Neruda largou a maçaneta do portão e acariciou o queixo.
- Mário Jinenes, além das Odes Elementares, tenho livros muito melhores. É indigno que me submetas a todo tipo de comparação e metáforas.
- D. Pablo?
- Metáforas, homem!
- Que coisas são essas?
- Para te esclarecer mais ou menos imprecisamente, são maneiras de dizer uma coisa comparando-as a outra.
- Dê-me um exemplo.
- Neruda olhou para o relógio e suspirou.
- Bem, quando tu dizes que o céu está a chorar, o que é que queres dizer?
- Que fácil! Que está a chover, pois.
- Bem, isso é metáfora.
- E por que sendo tão fácil se chama uma coisa tão complicada?
- Porque os nomes não têm nada a ver com a simplicidade ou complicação das coisas. Segundo a tua teoria, uma coisa pequena que voa não devia ter o nome tão complicado como mariposa. Pensa que elefante tem o mesmo número de letras, é muito maior e não voa – conclui Neruda, exausto”.



Delicioso este dialogo acerca da metáfora e do carácter convencional dos conceitos!


                                               Lola