Amei-te sem saberes
No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos
E amei-te sem saberes
amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar
No contorno do fogo
desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada
Para me acostumar
à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas
a espera do silêncio
– Mia Couto, em “Raiz de Orvalho
e outros poemas”.
Lisboa: Editorial Caminho, 1999.
Também Rita desconhecia se Pedro alguma vez imaginara que ela o sentia com tanta intensidade, com tamanha necessidade o que desenvolveu nela uma capacidade inédita de respeitar o silencio, de amaciar a espera, de idolatrar a distancia entre os dois!
Sabia tao bem...ouvir Pedro, de vez em quando, na candura da sua voz, na delicadeza do seu sorriso...
no desejo, jamais partilhado, de te-lo ali, nesse momento para lhe mostrar a irreprimível sensação do abraço fusional!
Pedro sabia abraçar como ninguém
e Rita nao podia mais que, frontalmente, confessar...
Adoro-te, my dear!
Lola