terça-feira, 2 de maio de 2017

Amei-te sem saberes



Amei-te sem saberes


No avesso das palavras
na contrária face
da minha solidão
eu te amei
e acariciei
o teu imperceptível crescer
como carne da lua
nos nocturnos lábios entreabertos

E amei-te sem saberes

amei-te sem o saber
amando de te procurar
amando de te inventar

No contorno do fogo

desenhei o teu rosto
e para te reconhecer
mudei de corpo
troquei de noites
juntei crepúsculo e alvorada

Para me acostumar

à tua intermitente ausência
ensinei às timbilas

a espera do silêncio

– Mia Couto, em “Raiz de Orvalho e outros poemas”. 
Lisboa: Editorial Caminho, 1999.

Também Rita desconhecia se Pedro alguma vez imaginara que ela o sentia com tanta intensidade, com tamanha necessidade o que desenvolveu nela uma capacidade inédita de respeitar o silencio, de amaciar a espera, de idolatrar a distancia entre os dois!
Sabia tao bem...ouvir Pedro, de vez em quando, na candura da sua voz, na delicadeza do seu sorriso...
no desejo, jamais partilhado, de te-lo ali, nesse momento para lhe mostrar a irreprimível sensação do abraço fusional!
Pedro sabia abraçar como ninguém
e Rita nao podia mais que, frontalmente, confessar...
Adoro-te, my dear!


                                                Lola